O bom desempenho da balança comercial vem chamando a
atenção ao longo do ano e é um dos principais fatores que explica o
surpreendente ajuste das contas externas, que vai sair de um déficit de 3,3% do
Produto Interno Bruto (PIB) em 2015 para um superávit estimado em 1% do PIB
neste ano. Em setembro, a balança comercial registrou superávit de US$ 3,8
bilhões, o melhor em dez anos para o mês. No acumulado do ano, o superávit
chega US$ 36,17 bilhões, o maior da série histórica. Há várias indicações,
porém, de que os ventos estão mudando. A balança continuará no azul, positiva,
mas deve deixar para trás os resultados superlativos.
Inicialmente, o desempenho extraordinário foi creditado à
redução das importações, causada por um fator negativo, o segundo ano
consecutivo de recessão econômica. Mas nota-se uma ligeira desaceleração no
recuo das importações. De janeiro a setembro, as importações totalizaram US$
103,19 bilhões, com queda de 23,9% em comparação com igual período de 2015; em
agosto, a queda acumulada no ano era de 25,5%. A perspectiva é que as
exportações aumentem à medida que a economia reagir. Reforça esse argumento a
desaceleração já notada da queda da importação de bens intermediários, que foi
de 2,3% em setembro, categoria que engloba componentes da produção industrial.
Colaborou também para balança comercial a melhora das
exportações, que somam US$ 139,36 bilhões no ano, com queda de 4,6% em
comparação com igual período do ano anterior. O destaque são os produtos
industrializados, cujas vendas externas aumentaram 3% em setembro, com variação
de 0,1% no ano, puxadas pelos bens semimanufaturados, uma vez que os
manufaturados caíram 3,1% em setembro e 1,4% no ano. Nos produtos básicos, as
exportações dependem do comportamento de preços de commodities e da demanda
internacional, que segue fraca.
Desse lado da balança, o que preocupa, porém, é o câmbio,
cuja apreciação nos últimos meses, em ambiente de volatilidade acentuada,
compromete a competitividade dos produtos brasileiros. Quando o câmbio está
mais desvalorizado, como em 2015 e início deste ano, o exportador reduz o preço
da exportação em dólar para atrair o comprador. A estratégia pressiona para
baixo a rentabilidade, mas possibilita aumento no volume de exportação, muitas
vezes compensador. Além disso, ajuda em um momento em que a demanda interna
desaquecida torna difícil para a indústria manter um nível mínimo de produção e
os estoques ajustados.
A apreciação do real nos últimos meses tirou do
exportador a flexibilidade para baixar preços e ganhar mercado. Estudo da
Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior mostra que, em agosto, a
redução de preços médios foi de apenas 1,2% em comparação com 10,6% no
acumulado do ano. A apreciação também prejudica a margem de ganho e a
competitividade da exportação da indústria de transformação. No acumulado até
agosto, período que inclui meses de forte depreciação do real no início do ano,
o dólar apresenta desvalorização de 17,1% em comparação com igual período do
ano passado. Mesmo assim os exportadores de manufaturados perderam 4,2% na
margem de lucro. O que tirou a rentabilidade no período foi a queda de preços
médios possibilitada exatamente pela depreciação da moeda nacional. Já em agosto,
com a apreciação cambial nominal de 8,7%, a rentabilidade da indústria caiu
15,3% em relação a igual mês de 2015.
Na indústria extrativa, a forte queda de preços e a alta
de 8,8% no custo de produção neutralizaram o efeito benéfico que a desvalorização
do trouxe para o lucro do setor.
A perspectiva é que o câmbio não continue a
impulsionar as exportações daqui para frente. Dados trimestrais mostram a
desaceleração do volume embarcado de manufaturados, que cresceu 13,7% no último
trimestre de 2015 em comparação com igual período de 2014, 12,3% de janeiro a
março deste ano e 9,2% no segundo trimestre, sempre na mesma base de
comparação. Apesar da iminente alta dos juros americanos, o programa de
repatriação de recursos e o retorno da confiança a partir da aprovação de
medidas fiscais como a PEC 241 devem contribuir para valorizar o real. O BC
reduziu a previsão do superávit comercial deste ano de US$ 50 bilhões para US$
49 bilhões; e o Ministério da Indústria trabalha com US$ 45 bilhões a US$ 50
bilhões
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