É a ética, estúpido!
Ainda que tenhamos aprendido com Maquiavel a ver a
política como ela é, não podemos não nos indignar
Geraldo tadeu monteiro, O Gobo
Em 1992, quando George Bush, considerado imbatível pelo
sucesso na política externa, foi derrotado por Bill Clinton, que teria se
mostrado mais apto a gerir uma economia estagnada, James Carville,
assessor-chefe de marketing do democrata, sentenciou: “É a economia, estúpido!”
A partir daí, esta frase foi usada para decretar que, na
era pós-ideológica, globalizada, ideais e valores não teriam mais vez, só o
bolso. E eis que, pouco mais de 20 anos depois, a política retorna em grande
estilo, acompanhada de sua velha parceira, a ética.
Foi a crise do capitalismo financeiro em 2008 que fez
ressurgir a necessidade de uma política de valores, fazendo com que se
formassem, por todo o mundo, “redes de indignação e esperança”, como Occupy
Wall Street e Indignados,que levaram milhares às ruas em protesto contra as
políticas de austeridade, a falta de democracia, o cinismo e a arrogância das
elites políticas e financeiras em conluio criminoso e reivindicando uma
“necessária revolução ética”!
Em 2013, o Brasil assistiria, atônito, à explosão de
manifestações que levaram às ruas mais de um milhão de pessoas em luta por mais
educação, mais saúde, melhores serviços públicos e contra a falta de representatividade
dos partidos e a corrupção na política.
Na base da insatisfação, estavam mais democracia, mais
respeito ao cidadão e mais transparência, todos valores éticos. No Brasil e no
mundo, hoje, o clamor é pela ética na política.
Mas, diante desse clamor, o que a Operação Lava-Jato
pedagogicamente tem nos mostrado é um deprimente espetáculo de cupidez e
cinismo de uma classe política que implantou um verdadeiro sistema criminoso na
política.
Ainda que tenhamos aprendido com Maquiavel a ver a
política como ela é, não podemos não nos indignar com a avidez pelas propinas
milionárias, pelos cargos a serem desfrutados por dias ou até horas, pelas
comezinhas barganhas por verbas públicas
E tudo embrulhado no mais puro cinismo que proclama: “Sou
vítima de perseguição”, “Nada foi provado contra mim” ou pelo malabarismo das
maiorias moles que fazem o amigo (ou sócio?) de ontem se tornar o inimigo de
hoje.
Apesar da inabalável alienação dos poderosos, tem
avançado no Brasil um movimento para inscrever nas leis a exigência de uma
ética republicana, fundada no respeito à coisa pública e ao bem comum: a Lei da
Ficha Limpa, a proibição do financiamento de campanhas eleitorais por empresas
privadas, a Lei Anticorrupção e a Lei de Acesso à Informação.
Ainda estão na pauta do Congresso a Proposta de Lei da
Sociedade Civil Sobre Acordos de Leniência e a Proposta de Lei das Dez Medidas
Anticorrupção, patrocinada pelo Ministério Público e apoiada por dois milhões
de cidadãos. Todas essas leis e propostas de lei advêm de mobilizações
populares, e não da vontade dos políticos, por razões óbvias.
Geraldo Tadeu Monteiro é professor de Ciência Política do
Iuperj e da Candido Mendes
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