Dois elementos são essenciais a qualquer diplomacia:
credibilidade e inserção internacional. Ao se aproximar o fim de 13 anos de
bizarrices na política externa, cabe rememorar como a diplomacia lulopetista,
partidária por definição, sacrificou ambos os elementos no altar de posturas
sectárias e de iniciativas obscuras. A deformação das mais sensatas tradições
da diplomacia profissional não só retirou credibilidade ao Brasil no contexto
regional, como isolou o País da economia mundial, fazendo retroceder tanto a
integração no Mercosul quanto nossa inserção nas cadeias globais.
Os lulopetistas retiraram credibilidade à política
externa e à própria diplomacia profissional, em primeiro lugar, pelo
alinhamento canhestro a regimes de esquerda na região, numa demonstração de
anti-imperialismo anacrônico e de antiamericano infantil (existiam motivos
atrás disso, o Foro de São Paulo, uma organização de fachada que permite aos
comunistas cubanos controlar correias de transmissão no Hemisfério). Houve um
tempo em que o Brasil parecia dispor de vários ministros de Relações
Exteriores, sendo um ironicamente designado de “chanceler para a América do
Sul”, um apparatchik do partido, amador em assuntos externos, mas dispondo de
grande poder para impor posturas contrárias ao interesse nacional, contra as
opiniões mais sensatas da diplomacia profissional.
Não faltou sequer certa dose de traição aos interesses do
País, como revelado em episódios lastimáveis da diplomacia partidária, como a
expropriação ilegal e indevida de ativos nacionais em países vizinhos, ou até a
tentativa, felizmente frustrada, de fazer organismos externos interferirem em
nossa política interna, todos a partir de atropelos dos lulopetistas aprendizes
de feiticeiro na agenda internacional do Brasil, que teria ficado em melhores
condições nas mãos dos diplomatas profissionais.
O desmantelamento dos objetivos comerciais e econômicos
do Mercosul, e sua transformação em mera tribuna política, sem nenhum efeito
sobre seu fortalecimento enquanto parceiro internacional confiável, foi outra
das lamentáveis “realizações” dos lulopetistas: o Mercosul se desqualificou,
quando não abandonou por completo sua participação em negociações regionais ou
plurilaterais em prol da abertura econômica, liberalização comercial ou inserção
em cadeias mundiais de valor. O apoio concreto a duvidosos regimes esquerdistas
– quando não ditaduras abertas – constituiu o aspecto mais histriônico, e
nefasto, dessa política externa bizarra, aliás, em total desrespeito a normas
constitucionais e em contradição completa com nossas tradições diplomáticas
(como a interferência nos assuntos internos de Honduras, por exemplo). Tudo
isso minou a credibilidade da nossa política externa e da diplomacia
profissional.
O isolamento econômico do Brasil não foi algo
improvisado, mas, sim, resultou de concepções anacrônicas em matéria de
políticas industriais ou comerciais, que recendem a um bolor desenvolvimentista
de décadas passadas, o qual, todavia, os lulopetistas sempre admiraram pelo seu
lado estatista e dirigista, com raízes no protecionismo comercial e na proteção
de uma “indústria infante” (a automobilística, por exemplo), que ainda não
terminou de ser criança, mesmo passados 60 anos. Regras de conteúdo local e de
discriminação tributária, como condição de acesso ao mercado interno, não estão
apenas em contradição com regras do Gatt-Organização Mundial do Comércio (OMC),
mas realimentam velhos sonhos soviéticos de “socialismo num só país”, no nosso
caso transformado em perfeito exemplo de “stalinismo industrial”, ou seja, uma
indústria isolada do mundo.
O renascimento da política externa num novo governo terá
de rever todas essas posturas anacrônicas do lulopetismo diplomático, indignas
de nossas melhores tradições profissionais nessa área. A restauração da
credibilidade externa do Brasil começa pela dupla superação da doença infantil
do esquerdismo terceiro-mundista, traduzido na míope “diplomacia Sul-Sul”, e da
obsessão pela busca de “parceiros estratégicos”, um fantasmagórico grupo de
“anti-hegemônicos” (na concepção dos lulopetistas), cada um, na verdade,
cuidando de seu interesse próprio no cenário mundial. O fim do autoisolamento
econômico e comercial passa, por sua vez, pela reversão completa das medidas
adotadas nos últimos anos, começando por colocar novamente na agenda os
objetivos prioritários inscritos no artigo 1.º do tratado do Mercosul, ou então
a concessão de liberdade a cada membro para negociar acordos de liberalização
comercial com os parceiros mais prometedores. A indústria brasileira não
precisa tanto de proteção e subsídios quanto de abertura e competição, à
condição que ela deixe de ser esmagada por uma carga tributária tão extorsiva
quanto imoral.
A política externa lulopetista isolou o Brasil do mundo e
retirou credibilidade à sua diplomacia profissional ao partir de pressupostos
completamente equivocados, em alguns casos deliberadamente voltados para
prestar serviço a obscuros clientes externos, que nada tinham que ver com os
nossos interesses nacionais. O Itamaraty precisa ser restaurado em seu papel
fundamental de assessoria competente, essencialmente técnica, na formulação das
diretrizes presidenciais em matéria de política externa, sem nenhum vezo
partidário ou ideológico.
Afastados apparatchiks partidários – que, aliás, romperam
com métodos de trabalho obrigatórios na diplomacia profissional, como o
registro documental de cada ação empreendida –, o Brasil poderá recuperar sua
credibilidade externa e reinserir-se produtivamente na economia mundial.
Não era sem tempo!
*Paulo Roberto de Almeida é diplomata de carreira e é
professor no Uniceub (Brasília)
Site: www.pralmeida.org
Blog: http://diplomatizzando.blogspot.com
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