Artigo: Por que fomos embora de Porto Alegre
por Alfredo Fedrizzi
Jornalista e publicitário
20/08/2016 - 05h01min | Atualizada em 20/08/2016 - 05h01min
Para que os candidatos reflitam!
Iniciou-se mais uma campanha eleitoral. No primeiro debate na Rádio
Gaúcha, todos seguiram o que dizem as pesquisas: a insegurança que está batendo
à porta de todos. Uma cidade mais inovadora também bateu recorde de citações.
Não sei bem o que cada um entende por "cidade inovadora"!
Resolvi ouvir porto-alegrenses que deixaram a cidade para morar em São
Paulo, Rio de Janeiro, Nova York, Miami, Londres, São Francisco, entre outras
metrópoles. Pessoas bem formadas, inquietas e empreendedoras que, por algum motivo,
saíram daqui. Perguntei: por que foram embora? O que POA precisaria ter para
vocês voltarem a viver e trabalhar aqui?
Eis uma síntese das respostas, que tratam do nosso jeito de ser. Todos
foram muito críticos com a cidade! Por uma questão de espaço, no próximo artigo
vou falar do que acham dos aspectos funcionais da cidade:
– Não temos capacidade de olhar para o futuro. Estamos sempre olhando
para o passado.
– Se você fica em POA, você se enfia numa espécie de "buraco
negro" onde é muito mais difícil se expor para o Brasil e para o mundo.
– Porto Alegre parece um pouco "ultrapassada". As coisas
chegam primeiro a todos os outros lugares. Gaúcho é turrão, faz do jeito dele e
pronto. Não costuma ser muito bom com mudanças e adaptações. Porto Alegre é
cidade com oportunidades incríveis e um puta potencial, se quebrarmos essas
barreiras.
– Morar em São Paulo por um tempo nos passa a sensação de estarmos mais
conectados com o resto do país e do mundo. Pra muitos de nós, Porto Alegre
continua girando em torno de si mesma, desconectada com o que acontece no resto
do mundo.
– É tudo grenalizado, sempre A ou B. As coisas não têm nuances, não têm
debate, não tem espaço pra mudar e evoluir, testar novos caminhos. Tem que
sempre escolher um lado e morrer abraçada nessa escolha.
– Povo que se acha muito especial, evoluído, mais culto, mais
inteligente, mais politizado, mais educado, mais simpático, mais tudo do que o
resto do Brasil. E, obviamente, não é nada disso. É basicamente preconceituoso,
fechado e pedante.
– Cultura muito tradicional e fechada, a ponto de ser opressora com o
que é diferente. Tem que ser macho, a mulher tem que ser a Gisele, tem que
comer churrasco, tem que ser faca na bota, tem que casar e constituir família.
Não pode se vestir muito diferente, não pode agir muito diferente (a
pluralidade que encontro em SP é uma das coisas que mais me encanta em morar
aqui, tem de tudo e espaço pra todo mundo).
– O principal: menos bairrismo e gauchismo (é diferente de cultura
regional forte, o que é bom). Porto Alegre não valoriza os talentos que tem. As
pessoas têm que sair daí para serem valorizadas.
– Falta de objetivo como cidade. Porto Alegre não é polo de nada. Não é
de tecnologia, não é de criação, de música, de gastronomia, nada.
– Porto Alegre, pelo tamanho de cidade média e cultura regional forte,
poderia ser muito melhor do que é, se olhasse para o que acontece no resto do
planeta, e não para o Laçador.
– Já que o gaúcho pensa que é melhor em tudo, realmente tem que
trabalhar pra ser o melhor em tudo.
Senti muito ressentimento com a cidade. E lembrei de uma frase de Elis
Regina, numa entrevista na RBSTV, quando eu dirigia o Jornal do Almoço. Foi
cobrada de ser pouco gaúcha lá no Rio de Janeiro. E disparou: "Eu não saí
daqui pra fundar um CTG!" Se cada um assumir o seu papel e não deixar só
para os dirigentes fazerem as mudanças, poderemos ter uma cidade melhor e parar
de perder alguns dos nossos melhores talentos.
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