Lava Jato: Lula ia a Angola com avião à disposição
Folha de S.Paulo – Wálter Nunes e Felipe Bachtold
Alvos de uma das ações penais contra o expresidente Luiz
Inácio Lula da Silva, as
viagens do petista a Angola a convite da empreiteira
Odebrecht tiveram
prerrogativas como um avião colocado à disposição do
governo local, visitas a obras
de interesses da construtora e uma discussão sobre
financiamento do BNDES a
projetos locais.
Mesmo anos após deixar a Presidência, o "tratamento
protocolar" oferecido a ele era
de "chefe de Estado".
Os relatos constam em documentos sigilosos do Itamaraty,
obtidos pela Folha, feitos
por diplomatas que acompanharam as duas visitas.
Lula esteve no país em 2011 e 2014, a convite da
empreiteira —em ambas com Emílio Odebrecht, patriarca do grupo e prestes a se
tornar delator
da Operação Lava Jato.
Na ação penal, que corre no Distrito Federal, o
Ministério Público Federal acusa Lula de servir como "garotopropaganda"
da empreiteira nas
viagens, pelas quais recebeu o equivalente a R$ 800 mil.
Para a acusação, os pagamentos por palestras na África
eram "cortina de fumaça" para encobrir a intenção da Odebrecht de
usar Lula como
"fiador" de empréstimos a serem liberados pelo
BNDES para obras no país.
Os relatórios do Itamaraty mostram que as palestras de
fato aconteceram e foram "calorosamente" aplaudidas por uma plateia
de autoridades e
empresários locais. Os eventos tiveram "ampla
cobertura da mídia local".
Na primeira delas, foi precedida de uma "extensa
programação" preparada pelo governo do presidente angolano José Eduardo
dos Santos, com
quem Lula se reuniu na ocasião por 40 minutos.
O roteiro incluiu uma ida a um megaconjunto habitacional
erguido por investidores chineses, também com o apoio da Odebrecht, perto da
capital,
Luanda.
Na ocasião, segundo uma pessoa que participou da viagem
disse à Folha, Lula até deu palpites sobre o perfil de construção dos banheiros
das
casas. Sua assessora Clara Ant, arquiteta de formação,
notou que os chuveiros haviam sido instalados do lado de fora das residências.
Lula pediu
explicações ao engenheiro da Odebrecht responsável pela
obra, que disse que essa configuração era uma tradição local.
O expresidente não se convenceu e pediu à empreiteira
para que reformasse as casas colocando chuveiros no interior de cada imóvel.
A viagem de 2011 teve ainda uma romaria de representantes
de empreiteiras a um encontro promovido na Embaixada do Brasil, segundo o
documento do Itamaraty.
Além da Odebrecht, compareceram funcionários da Camargo
Corrêa, Andrade Gutierrez e OAS, todas envolvidas na Lava Jato.
AERONAVE À DISPOSIÇÃO
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investigadas pela Lava Jato, Lula tinha avião à
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