NÃO HÁ COMO TRAZER ESPECTADORES DE VOLTA À TV
TRADICIONAL!
(Maurício Stycer - Folha de S. Paulo, 25/12) 1. Demorou
um pouco, mas a Globo, finalmente, aceitou que não há mais como trazer para a
televisão linear parte do público que a trocou pela internet. O ano de 2016 se
encerra com acenos explícitos a este espectador desinteressado em seguir a
grade rígida da emissora. No último
domingo (18), no início da tarde, no intervalo de "A Cara do Pai", a
Globo informou aos espectadores que o seu aplicativo on-line iria exibir às
16h30 um programa especial sobre os bastidores do "Melhores do Ano",
uma atração que a emissora programou para as 17h30.
2. Ou seja, convidou o público a trocar a própria Globo,
no momento em que estaria exibindo um filme, "O Espetacular
Homem-Aranha", pelo Globo Play (acessível via laptop, smartphone ou mesmo
o próprio aparelho de TV), onde poderia ver o blogueiro Hugo Gloss
entrevistando atores da emissora. A
emissora também passou a antecipar, em seu aplicativo, a exibição de episódios
inéditos de suas séries. Não que a Globo
tenha desistido da TV aberta. Muito pelo contrário. Ela ainda é, no Brasil, o
principal motor da indústria audiovisual, na qual estão concentrados os maiores
investimentos em publicidade e os principais esforços de criação.
3. Mas me parece altamente simbólico o reconhecimento de
que é preciso competir no mesmo campo em que outras gigantes já estão nadando
de braçada. A Amazon, por exemplo, acaba
de lançar o seu serviço de vídeo por streaming em 200 países. Ainda que o
conteúdo oferecido deixe a desejar, convém lembrar, como fez o jornalista Andre
Mermelstein, do Teletime, que o faturamento da Amazon é 15 vezes superior ao da
Netflix -e, portanto, a sua capacidade de investir em conteúdo próprio e
licenciamento é enorme.
4. Nos Estados Unidos, a "velha mídia" já se
deu conta, há mais tempo, da necessidade de se adequar aos novos tempos. O
anúncio da compra da Time Warner pela AT&T em outubro, por US$ 85,4
bilhões, foi o sinal mais recente -e eloquente- de que é preciso se armar para
a guerra. Como disse Randall Stephenson,
principal executivo da AT&T, assumir o controle da HBO e da Warner Bros.,
entre outros ativos, vai permitir à empresa oferecer conteúdo de vídeo on
demand de maneira a compensar as perdas com a divisão de TV via satélite do
grupo, a DirecTV.
5. Diferentemente do que ocorre nos Estados Unidos, a
legislação brasileira não permite que uma mesma empresa atue na produção de
conteúdo e na sua distribuição, o que obrigará a AT&T, caso a fusão seja
aprovada, a vender a Sky no Brasil. Trata-se da segunda maior empresa de TV por
assinatura no país, com 5,3 milhões de assinantes. No final de novembro, a AT&T lançou nos
EUA o DirecTV Now, um serviço de streaming com 60 canais, incluindo alguns
considerados indispensáveis, como ESPN e Disney, por US$ 35 mensais (cerca de
R$ 115).
6. Como observou o "New York Times", é um
serviço claramente dirigido aos "cortadores de cabo", ou seja,
consumidores que desistiram de pagar por TV a cabo (ou satélite), mas dispõem
de internet banda larga. A associação entre plataformas que oferecem conteúdo
audiovisual e provedores de internet, sem vinculação a operadoras de TV paga, é
outra tendência dando seus primeiros passos no Brasil. A HBO lançou o seu
serviço, seguida pela Crackle, ambas ainda limitadas a alguns Estados. A crise econômica
ainda ajuda quem aposta no atraso, mas o ritmo das mudanças parece mais
acelerado do que nunca.
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