Contra todas as dificuldades: o "pedido de
socorro" que pode levar o Banrisul a subir mais 100% na Bolsa
Apesar das resistências para a privatização do Banrisul,
analistas do BTG seguem apostando que o Rio Grande do Sul terá que tomar
medidas desesperadas para amenizar problema fiscal - e vender o banco é uma
delas
"Mesmo com a alta de cerca de 50% dos papéis, que
podem dar a impressão de que a ação já está precificando a possível
privatização, essa não é a nossa opinião", apontam os analistas do banco.
Eles ressaltam que, nos preços atuais, as ações do Banrisul são negociadas a
uma relação entre preço e book value (patrimônio líquido) de uma vez, abaixo
dos múltiplos de 1,2 vez do ABC Brasil (ABCB4) e de 1,1 vez do Banco do Brasil
(BBAS3). Eles apontam ainda que o BB registrou um ROE (Retorno sobre o
Patrimônio Líquido) de 8,5% em 2016, versus 10,5% do Banrisul.
Os analistas do banco ainda reforçam a sua expectativa de
que, com a privatização, o Banrisul pode ter seu preço reavaliado facilmente
para 2 vezes o book value, o que oferece um potencial de 100% de valorização em
relação aos níveis atuais. "Como resultado, nós achamos que a relação
risco-retorno de ter o Banrisul é assimétrica para alta", apontam os
analistas.
No meio do caminho...
A convicção com o call acontece mesmo após duas conversas
do banco um tanto quanto desanimadoras com especialistas sobre o assunto. Em um
encontro com Gabriel Leal de Barros, economista do Instituto Fiscal
Independente, destacou que o Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul
são os estados com pior situação fiscal. Nos últimos dois anos, o Rio Grande do
Sul implementou vários ajustes-chave, mas o endividamento continua muito alto,
fazendo com que a relação entre dívida líquida como percentagem da receita
líquida seja a maior entre os estados brasileiros (de 213%, acima dos limites
estabelecidos pela Lei de Responsabilidade Fiscal, de 200%).
Uma vez que o governo federal não injetará dinheiro,
estados como o Rio Grande do Sul precisarão levantar dinheiro via venda de
ativos para melhorar a relação entre dívida e receita uma vez que, mesmo com os
ajustes, os estados continuarão reportando déficits primários pelos próximos um
ou dois anos. Segundo Barros, o estado precisa de R$ 10 bilhões em suas contas
para alcançar níveis razoáveis de endividamento, o que torna necessária a venda
de ativos.
Desta forma, no caso específico do Rio Grande do Sul, o
governo federal está demandando a privatização do Banrisul. Vale destacar que,
no final de fevereiro, as ações do banco subiram fortemente após o ministro da
Fazenda Henrique Meirelles falar sobre o novo projeto de recuperação fiscal dos
estados. Pela proposta, o estado que firmar um acordo de recuperação fiscal com
o governo federal será beneficiado com a suspensão por 36 meses do pagamento
das dívidas com a União, mas terá que assumir o compromisso de adotar rigorosas
medidas de saneamento das finanças estaduais, entre as quais a privatização de
bancos e empresas estaduais de água, saneamento, eletricidade.
Porém, o governo estadual pressiona para que a
privatização do Banrisul não aconteça, O secretário da Fazenda do Rio Grande do
Sul, Giovani Feltes, negou recentemente de forma enfática que o Banrisul e uma
das empresas de saneamento estaria na lista para privatização e está demandando
mudanças no projeto de lei. "Na visão de Barros, o governo não quer mudar
isso, mas é uma negociação que está em andamento", aponta o BTG.
Há muita incerteza nesse cenário, apontam os analistas do
banco, mas uma série de eventos pode levar a uma decisão. Na sexta, o
secretário da Fazenda gaúcho e a equipe técnica do Tesouro vão se encontrar. Já
na próxima segunda, o Tesouro anunciará as condições para o estado estar no
plano de recuperação fiscal.
Vale destacar que Aod Cunha, ex-secretário do Rio Grande
do Sul e ex-presidente do Conselho de Administração do Banrisul disse aos
analistas do BTG no mês passado que via como altamente improvável que a
privatização ocorra, uma vez que há um custo político muito alto para fazer
esse movimento, apontando ainda que pesquisas no passado indicaram que 89% da
população está contra a privatização. Esses números também implicam que um
plebiscito provavelmente rejeitaria a venda do banco. Vale destacar que um
referendo estadual é necessário para a privatização, a menos que a constituição
estadual seja alterada, o que por sua vez requer a aprovação de dois terços dos
membros da Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. (Clique aqui para ver a
análise completa).
... uma pedra que pode ser retirada?
Porém, mesmo com as dificuldades, os analistas do BTG
destacam: "sempre fomos muito
céticos em relação à privatização do Banrisul, devido aos fortes laços entre o
banco (e a sua marca) e o Rio Grande do Sul. Mas mudamos essa visão devido à
situação calamitosa do estado. Situações desesperadas e únicas exigem decisões
difíceis e ainda avaliamos que o ministério da Fazenda continuará pressionando
para que o Banrisul seja incluído como uma garantia para o estado receber ajuda
do governo federal".
Desta forma, os analistas do BTG seguem considerando o
banco como uma boa aposta - apesar de todos os obstáculos que estão no caminho
para a sua privatização.
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