Luiz Carlos Mendonça de Barros - Finalmente, o consenso chegou
A divulgação pelo Banco Central de sua estimativa para a
variação do PIB no último mês de julho consolidou a certeza de que a
recuperação cíclica da economia faz parte agora do metabolismo da economia
brasileira. Foi um número muito forte e, mais uma vez, deixou a comunidade dos
analistas sem explicações. O IBC-BR variou entre julho e junho 0,41%, contra
uma média de projeções de 0,10%. Este número juntou-se a vários outros
indicadores já conhecidos, aumentando a certeza de que 2018 será um ano em que
a volta do crescimento chegará de forma inconteste - embora desigual - aos
brasileiros depois de três anos terríveis. A volta do crescimento e a melhora
do sentimento de bem-estar econômico da sociedade são fatores importantes para
que tenhamos nas eleições de 2018 a possibilidade de construir um governo
responsável e que tenha condições para levar adiante uma agenda de mudanças na
economia e na política. Com a economia crescendo algo perto de 4% ao ano no
período das eleições, o espaço para a demagogia - à direita e à esquerda - se
reduz muito. Por outro, fortalece os candidatos - sejam eles quais forem - que
se apresentarão com a agenda de continuidade de uma política econômica correta
e da busca de reformas estruturais. Neste sentido, usando a imagem muito feliz
do ex-presidente FHC, a verdadeira pinguela para dias melhores foi a
recuperação cíclica que estamos vivendo. O governo Temer, apesar dos
gravíssimos problemas políticos que está vivendo, foi fundamental para a
construção desta pinguela por ter dado força e liberdade à equipe econômica
liderada por Henrique Meirelles. O novo governo a ser eleito em 2018 vai herdar
uma situação macroeconômica invejável e que permitirá uma ação de mais longo
prazo. Vejamos os principais indicadores ao iniciar-se o novo governo: Maior
crescimento trará um aumento de arrecadação do governo federal da ordem de R$
150 bilhões anuais ? Contas externas em situação de grande equilíbrio, com
saldos comerciais expressivos e um déficit insignificante na conta corrente; ?
Como resultado desta situação, teremos uma avaliação muito positiva em relação
ao risco país, apesar das notas ainda bem baixas das agências de risco; mas,
todos nós sabemos que as agências de risco estão quase sempre defasadas - para
mais e para menos - em relação à avaliação dos investidores; ? Com esta
situação externa favorável, a taxa de câmbio ficará ancorada e os riscos de uma
desvalorização cambial de maior porte muito difícil de ocorrer; ? Pelo
contrário, caso as primeiras pesquisas eleitorais reflitam uma possibilidade de
vitória de um candidato com uma plataforma pró-mercado, o movimento do real
será de valorização em função da situação da conta corrente e da maciça entrada
de capitais de investimento externo que deverá se seguir pós eleições; ? No
campo da inflação, com a existência ainda de um hiato do produto e redução dos
mecanismos de indexação, também teremos um período inicial do novo governo com
muita tranquilidade; ? Além disto, nesta situação, o Banco Central terá todas
as condições de agir com sucesso, caso qualquer distúrbio maior ocorra; ? O
mercado de trabalho estará também bastante favorável, com os níveis ainda altos
de desemprego agindo como um inibidor para movimentos de elevação dos salários
acima dos índices de produtividade. Mesmo a questão central de nosso
desequilíbrio macroeconômico - as contas públicas - deverá refletir algum
alívio com o aumento da arrecadação de impostos em função da maior atividade
econômica. Avaliações de hoje nos permitem falar em um aumento da arrecadação
no governo federal de algo como R$ 150 bilhões anuais. Encerrando, o
acompanhamento, por várias décadas, da economia brasileira me ensinou que uma
de suas características mais marcantes é a extrema dependência do estágio do
ciclo econômico a cada momento da história. São várias as razões para esta
dependência, como o caráter ciclotímico de nossos agentes econômicos, sempre
variando do excesso de confiança no futuro e depressão nos momentos de crise.
Por isto o risco do populismo é tão grande, como ocorreu no segundo mandato de
Lula e no período Dilma. Este comportamento é magnificado pelo fato de, como
não temos poupança interna, termos uma dependência muito forte da entrada de
capitais externos para equilibrar nossas contas cambiais. Desta forma, os
movimentos de euforia e depressão afetam fortemente a taxa de câmbio e acabam
por aumentar a intensidade dos ciclos de expansão e crise. Neste sentido, o
fato de um novo governo assumir o poder na fase de contração do ciclo
econômico, com a crise mais aguda já controlada, é uma marca fundamental para o
seu sucesso. Isto ocorreu no primeiro mandato do presidente Lula e sabemos os
resultados positivos que desta situação particular decorreram. Certamente
poderemos repetir esta situação favorável em 2019. Outro fator que me torna
otimista para o futuro é que a agenda de reformas estruturais, que serão
necessárias para transformar a recuperação cíclica de hoje em um movimento mais
perene, é hoje conhecida da opinião pública. Nos últimos anos de crise este
debate foi muito rico no Brasil e a grande maioria das reformas tem hoje um
maior conhecimento de todos.
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