Artigo, Tito Guarniere - As elites contra a reforma trabalhista
Já está em vigor a reforma trabalhista. Digam o que
quiserem a respeito do governo de Michel Temer, mas ninguém lhe tirará este
mérito: desengessar as relações de trabalho, oxigená-las, dar-lhes um ar
contemporâneo, arquivar velharias inaceitáveis como é o caso do imposto
sindical.
Não há um único direito dos trabalhadores que tenha sido
revogado. Quando dirigentes sindicais e políticos afirmam que a reforma é um
"retrocesso social" estão apenas mentindo, e com a maior cara de pau.
Não se deram conta de que chegou ao fim uma época, virou-se uma página que
parecia imutável e teimava em não virar.
E quem impediu de virar? Políticos que precisam
convalidar a narrativa de que são defensores da classe trabalhadora e que toda
a mudança é para retirar "garantias e direitos sociais"; dirigentes
de sindicatos, que se eternizam na atividade sindical, vivendo do dinheiro
público (imposto sindical) fazendo dela um emprego e uma carreira, não raro
legada para seus parentes e descendentes; intelectuais e estudiosos da
academia, obtusos, incapazes de observar que o mundo gira, que mudanças (no
mercado de trabalho) acontecem ao redor e pelo mundo afora, quer queiramos ou
não, quer gostemos ou não, e que a vida pulsa mais forte do que vontades,
desejos e concepções político-ideológicas; juízes e procuradores do Ministério
Público do Trabalho, cheios de razões e soberba, que têm a si mesmos como
superiores moralmente e qualificados tecnicamente para arbitrar os conflitos no
mundo do trabalho, e que o fazem nos termos de sua particular concepção de
mundo.
Todas estas elites - que são elites porque pertencem em
sua esmagadora maioria ao bloco privilegiado dos 5% mais ricos da população -
estiveram, ao longo da vida, com a mente enevoada de conceituações equivocadas
para os interesses do Brasil e da classe trabalhadora.
A primeira delas é a desconfiança básica, às vezes o
verdadeiro horror, que devotam ao empreendedor, ao investidor, ao dono de
empresa, que para aquelas elites são exploradores contumazes, predadores
sociais, que só querem enriquecer e sugar o sangue de seus empregados.
A segunda, a de que o trabalhador é um sujeito
relativamente incapaz, que, portanto, deve ser protegido da sanha dos
empregadores maldosos. Por quem? Pelo Estado, o ente estatal, que detém todo o
poder e a varinha mágica de toda a proteção.
E terceira, que todas as políticas sociais e as
regulações trabalhistas devem se destinar para os que já estão no mercado de
trabalho, ignorando o vastíssimo e perturbador universo dos 12 milhões de
desempregados brasileiros. São capazes de ver no detalhe fino os direitos do
trabalhador de carteira assinada, mas de nada sabem nem raciocinam sobre a
causa e efeito, entre as leis trabalhistas e o maior ou menor ingresso no
mercado de trabalho. Para aquelas elites, desempregados não lhe dizem respeito.
A reforma trabalhista de Temer inverte essas lógicas
perversas, abala os alicerces de conceituações falsas, e provoca um admirável
salto de qualidade nas relações de trabalho, beneficiando empregados e
empregadores.
titoguarniere@terra.com.br
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