A Proliferação da impostura
Luis Milman
A proliferação, nas universidades públicas federais, de
cursos sobre o “Golpe de 2016 contra Dilma Roussef” escancara a falta de
vergonha e de pudor, que são valores indispensáveis na vida acadêmica, assim
como a busca da verdade. Demonstra, ainda, que a vida intelectual e crítica na
Universidade deu lugar à militância abjeta de um corpo de professores
esquerdistas e intelectualmente paranoicos. Os cursos são propostos na forma de
uma invalidez lógica, pois supõem aquilo que deveriam demonstrar, viciando,
assim, a alegada tese golpista com uma petição de princípio. A derrapada lógica
que os caracteriza expõe o fato de que nada que possa vir a ser objeto de
análise nestes cursos guarda sequer uma remota proximidade com os fatos que
levaram Dilma Roussef a ser apeada do Governo,
O que está a ocorrer nestes cursos de extensão abrigados
em universidades públicas, que desejam tematizar um inexistente golpe, em
flagrante percepção delirante do que ocorreu no processo do impeachmant, é uma
tentativa de rebaixar a institucionalidade e a legalidade de todo o processo
que levou à destituição constitucional de Dilma Roussef. Mais ainda, é uma
tentativa articulada de construir uma narrativa com base em pressupostos
aparvalhados, próprios de uma classe de professores militantes do PT que, há muito, dominam culturamente a
universidade, em especial a áreas de ciências humanas, Estes cursos sobre o
golpe que não existiu deformam a verdade científica em sentido estrito, porque
Dilma Roussef foi processada pelo
Senado Federal, por crime de responsabiliade, com a autorização da Câmara dos
Deputados, tudo em conformidade com a Constituição e a Lei do Impeachmant.
É de se perguntar que, se houve golpe, quem o praticou. A
resposta é sempre conspiratória. Quem executou o golpe foi a mídia, os poderosos,
o aparato jurídico e forças de segurança dos EUA, como as definiu num artigo
recente aquele ex-frei marxista Leonardo Boff. Que uma militância desprovida de
raciocínio e em permanente estado de delírio acredite nesta fórmula, se
entende. Mas quando professores de universidades federais, ainda que
esquerdistas, professam a mesma crença degenerada e assumem papel de
protagonistas na denúncia de um golpe inexistente, o caso torna-se grave. Se
quisessem analisar honestamente o que ocorreu em 2016, que fossem buscar
pesquisadores que fazem pautar suas análises sine ira et studio, que pudessem
demonstrar que, em todos os sentidos, a legalidade institucional foi preservada
e a conclusão inevitável do processo foi o afastamento definitivo da presidente
petista da presidência da república, com a consequente posse na presidência do
seu vice legítimo, como manda a lei, Não houve golpe algum, não houve ruptura
institucional alguma.
As universidades públicas que abriram suas portas para a
enganação e a falta de vergonha, estão consorciadas numa missão revisionista.
Elas não podem levar a termo cursos sobre o golpe sem que deixem de falsificar
a história, sem que lancem mão de uma mitologia abjeta de conspirações, e mais,
sem que rebaixem seus professores ao nível de impostores.
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