Esta análise acaba de ser enviada ao editor pelos economistas do Bradesco.
Em decisão unânime e sem surpresas, o Comitê de Política
Monetária (Copom) decidiu ontem manter a taxa básica de juros em 6,50%. As
atenções se voltaram ao comunicado divulgado, no qual o colegiado fez alguns
poucos ajustes, mas que, a nosso ver, abrem espaço para uma eventual discussão
sobre corte de juros no médio prazo, sobretudo por conta do quadro de atividade
econômica mais fraca do que o esperado.
Como prevíamos, as projeções de inflação para este ano
foram elevadas, em grande medida pela incorporação do câmbio mais pressionado.
Para 2020, contudo, as projeções vigentes na reunião anterior foram mantidas.
Avaliamos que a inflação do próximo ano foi mantida refletindo a atividade
econômica, para a qual o Comitê contempla “retomada do processo de recuperação
gradual”. O cenário para os preços continua benigno, com as trajetórias
previstas compatíveis com as metas deste ano e do próximo, tanto sob o cenário
de juros e câmbio do mercado, quanto pelo que considera essas duas variáveis
constantes no horizonte de projeção. O Comitê continuou reafirmando a leitura
de que os núcleos de inflação estão em níveis apropriados.
O comunicado voltou a ressaltar que o balanço de riscos
para a inflação continua simétrico, apesar da elevação do risco baixista
associado ao nível de ociosidade da economia. Do lado altista, permanecem os
riscos relacionados a uma eventual frustração em torno da agenda de reformas,
que poderiam ser agravados com a deterioração do cenário externo, avaliado como
desafiador e apresentando riscos menores associados à normalização das taxas de
juros.
Houve ainda uma ligeira mudança em relação à avaliação do
horizonte de política monetária. Seguindo o padrão de comunicação verificada em
2018 nesta mesma época do ano, o BC aumentou a relevância do ano seguinte em
suas decisões de política monetária. Segundo o documento, o horizonte relevante
para a condução da política monetária inclui o ano-calendário de 2019 e, “em
maior grau”, de 2020.
Ao mesmo tempo em que reconheceu o arrefecimento da
economia brasileira no início do ano, o comunicado apontou que o BC continuará
atento ao longo do tempo. Permanece a visão de que cautela e perseverança ainda
são necessárias. No que tange à sinalização para a próxima reunião,
essencialmente a mensagem do encontro anterior foi mantida, com a avaliação de
que é necessário observar a economia livre dos “efeitos remanescentes” dos
diversos choques ocorridos no último ano e, “em especial, com redução do grau de
incerteza a que a economia brasileira continua exposta”. A referência a
“efeitos remanescentes”, no comunicado de ontem, sugere que a implicação desses
choques para o diagnóstico do Copom quanto ao fraco ritmo de atividade tem
perdido peso. Contudo, a autoridade monetária reafirmou que essa avaliação
demanda tempo e não deverá ser concluída no curto prazo, o que mantém a nossa
perspectiva de manutenção da Selic na reunião de 19 de junho.
A nosso ver, o
Copom deixou aberta a possibilidade de uma discussão sobre corte de juros em
algum momento do ano, ainda que tal movimento não seja iminente. Evidentemente,
essa possibilidade dependerá de um contexto de atividade econômica fraca e
expectativas de inflação bem ancoradas. Esse cenário também passa por algum
alívio no câmbio, que poderia ocorrer com o avanço na agenda de reformas e um
quadro global mais estável.
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