O artigo a seguir é de Josias de Souza, UOL de hoje:
Durante discurso para uma
plateia de sindicalistas na noite desta quarta-feira, em São Paulo, o sábio da
tribo do PT ofendeu o bom-senso. Responsabilizou o doutor Sérgio Moro pelo
desemprego. Fez isso horas depois de o IBGE informar que a taxa de desemprego
nas seis maiores regiões metropolitanas do país cresceu de 7,6% em janeiro para
8,2% em fevereiro. Entre os jovens de 18 a 24 anos, o flagelo é bem maior:
20,8%. Em cada cinco jovens, um encontra-se no olho da rua.
“A Operação Lava Jato é uma necessidade para esse país”,
disse Lula, antes de revelar suas reais intenções: “Agora, eu queria que vocês
procurassem a força-tarefa, procurassem o juiz Moro pra saber se eles estão
discutindo quanto essa operação já deu de prejuízo à economia brasileira.”
Lula pediu aos sindicalistas que perguntem ao juiz da
Lava Jato “se não é possível fazer o combate à corrupção sem fechar as
empresas, sem causar desemprego.” Escorou sua pregação num organismo que
costumava satanizar: “Segundo o FMI, 2,5% da queda do PIB se deve ao pânico
criado na sociedade brasileira.” Numa evidência de que sua placa ferveu, Lula
declarou: “Quando tudo isso terminar, você pode ter muita gente presa, mas você
pode ter também milhões de desempregados nesse país.”
O mensalão e o petrolão nasceram na administração Lula.
Se o morubixaba do PT não tivesse repartido as diretorias da Petrobras entre
seus cleptoaliados, não haveria Lava Jato. Mas ainda assim existiria a ruína
econômica, porque essa parte do desastre nacional está associada a outra
criação de Lula: o mito da gerentona. Superando as previsões mais pessimistas,
Dilma revelou-se um fiasco gerencial sem precedentes. No momento, arrasta pelos
corredores do poder as correntes da impopularidade. É reprovada por 69% dos
brasileiros, informa o Datafolha.
O ruim pode ficar muito pior. Lula revela-se decidido a
“ajudar” sua criatura. “Nem que seja a última coisa que eu faça na vida, vou
ajudar a Dilma a governar esse País com a decência que o povo merece.” Barrado
por uma liminar do ministro Gilmar Mendes, do STF, o salvador ainda não
conseguiu assumir nem a Casa Civil. Mas acha que está exercendo seu terceiro
mandato.
Lula deu a entender que algo lhe subira à cabeça na
sexta-feira da semana passada, quando discursou no coração de São Paulo, na
manifestação que o sindicalismo e os movimentos sociais convocaram para
apoiá-lo e para se contrapor ao impeachment. “A impressão que tive na Avenida
Paulista foi que vocês estavam me dando posse.”
Há 14 dias, numa palestra para empresários
paranaenses, Sérgio Moro soou como se antevisse as críticas de Lula.
Declarou-se “consternado com esse quadro econômico de recessão e de
desemprego.” Mas disse não não dar crédito à tese segundo a qual “a culpa é da
Lava Jato.” Mencionou os “movimentos favoráveis no mercado”, com oscilações
positivas nos índices da Bolsa de Valores, quando há diligências policiais.
“Para mim é um indicativo de que a Lava Jato não é exatamente um problema.”
Reiterou: “Trabalhar contra um quadro de corrupção sistêmcia é algo que só nos
traz ganhos. Não tenho nenhuma dúvida quanto a isso.”
Moro afirmou que só há dois caminhos à disposição. E a
“sociedade democrática brasileira” terá de optar por um deles. “Podemos fazer
como se fez muito: varrer esses problemas para debaixo do tapete, esquecer que
eles existem” ou “enfrentar os problemas com seriedade e da forma que eles
devem ser enfrentados.” Para o magistrado, “a primeria alternativa não é
aceitável.”
No Brasil, sempre que uma investigação ameaça a aliança
que une as oligarquias econômica e política, fabricam-se crises e teses para
avacalhar os inquéritos. Lula faz pose de alternativa. Mas frequenta a cena
política como principal operador da turma do tapete. Age para esconder a
sujeira. Vale a pena ouvi-lo de novo: “Quando tudo isso terminar, você pode ter
muita gente presa, mas você pode ter também milhões de desempregados nesse
país.” Lula está mais próximo da cadeia do que do emprego de presidente que
gostaria de reconquistar em 2018.
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