Gilberto Schwartsmann: a genética da corrupção
Médico e professor
Aprendi com o professor Luiz Fernando Jobim, que sabe
tudo sobre DNA, que o cromossoma Y é uma marca fiel da linhagem paterna. O meu
Y é igual ao do meu pai, que é igual ao do meu avô e que é idêntico ao do meu
filho.
Daí a história que contam do Y do Gengis Khan, que
aparece em muitos homens que surgiram em seus domínios. Khan possuía centenas
de concubinas, passando o seu Y para boa parte dos meninos que nasceram depois.
Volto depois ao Y. O leitor imagine agora uma cena de
filme. Woody Allen, que adora misturar ficção e realidade (lembra "A Rosa
Púrpura do Cairo"?) bota o juiz Sérgio Moro a auxiliar o detective belga
Hercule Poirot, na busca do culpado pelo "Assassinato no Expresso
Oriente".
No caso, o trem é uma metáfora do nosso querido Brasil.
E, ao invés das personagens que nele viajam, os passageiros são políticos,
empreiteiros e demais envolvidos na Lava-Jato e outros processos.
Como o corpo da vítima no Expresso Oriente apresenta
múltiplas facadas, Poirot conclui que todos os passageiros são suspeitos. Ou
seja, metaforicamente, todos sangraram o Brasil.
E quando chegam à estação turca, o desejo de Poirot é
mandá-los, com os pés mergulhados em piche quente, para a Quinta Bolgia do
Oitavo Círculo do Inferno de Dante, destino dos corruptos na Divina Comédia.
É aí que rouba a cena, outra vez, o cromossoma Y. Em nome
da prudência, Poirot solicita que o professor Jobim entre também no filme e
faça uma análise genética da bandidagem. E o professor examina o sangue dos
corruptos vivos e o cabelo e ossos dos falecidos.
Conclui que todos têm o mesmo cromossoma Y. Isto mesmo.
Como na história do Gengis Khan, os bandidos que saqueiam o Brasil, década após
década, século após século, descendem todos do mesmo pai.
Que parece ter vindo de um destes países europeus ditos
civilizados. Lá, ele se fazia de bonzinho na frente de reis e rainhas. Mas
aqui, correndo nu, atrás de mulheres bonitas pelas florestas, tornou-se o
Macunaíma de Mario de Andrade.
E assim, o anti-herói espalhou o seu cromossoma Y país
afora, levando consigo a mensagem genética do jeitinho brasileiro de enganar as
pessoas, que o cidadão honesto odeia. Em resumo: nossa sem-vergonhice está no
DNA. Para curar, só com transplante.
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