Ata do Copom revela grau de incerteza na economia

Ata do Copom explicita percepção de elevado grau de incerteza, mas deixa as portas abertas para novo ajuste baixista da Selic, ainda que de forma não sequencial e limitado. O documento, divulgado há pouco, detalhou a discussão interna do colegiado. Na nossa leitura, a ata sinaliza haver uma assimetria no cenário na direção de mais cortes de juros, diante de pressões desinflacionárias características da pandemia, mas por outro lado aponta a necessidade de cautela por conta dos impactos de juros em níveis sem precedentes sobre a estabilidade financeira. O documento destaca o ambiente de retração econômica global comparável, em magnitude, à Grande Depressão e reconhece que o setor de serviços tem sido o mais afetado pela pandemia, apresentando a maior dificuldade de recuperação. Ao mesmo tempo, segundo o BC, a “pouca previsibilidade associada à evolução da pandemia e à necessária redução nos auxílios emergenciais a partir do final deste ano” aumentam a incerteza sobre o ritmo da recuperação econômica doméstica em curso. Nesse sentido, há uma assimetria, na visão do Comitê, para uma retomada mais gradual da economia brasileira. Nesse sentido, novas reduções de juros “demandariam maior clareza sobre a atividade e inflação prospectivas e poderiam ser temporalmente espaçadas”. Esse ponto sugere que o colegiado pode adotar uma estratégia de cortes adicionais de juros não sequenciais, o que o faria ganhar mais tempo para dirimir as incertezas presentes. Contudo, “eventuais ajustes futuros” ocorreriam com “gradualismo adicional” e também dependerão da trajetória fiscal. Por fim, o comunicado detalha mais a discussão explicitada no comunicado da decisão, em torno da prescrição futura (forward guidance), cuja utilização apresenta desafios em países emergentes, mas que apresenta, na visão da autoridade monetária, “a melhor relação custo benefício”. Nesse ponto, a sinalização é a de que o próximo movimento é, mais provavelmente, o de baixa e não o de alta da Selic, ainda que esse eventual ajuste baixista apresente limites impostos por questões prudenciais, como destacado na ata. Dessa forma, a comunicação oficial sugere que taxas de juros muito mais baixas do que a atual não estão no radar. Avaliamos que se o nosso cenário de continuidade da retomada da atividade econômica se materializar, ainda que com diferenças regionais e setoriais, o BC tende a manter a Selic no atual patamar de 2,0% nos próximos meses

Gabriela Wolthers, FSB - Pandemia chegou ao platô no Brasil, mas por que a curva não cai ?

- O título original é "A gangorra do Brasil". O material é da newsletter diária da FSB Comunicação.

Em 9 de maio, o Brasil atingiu um
patamar simbólico em relação ao
coronavírus: 10 mil mortes.
Praticamente três meses depois
chegamos aos inacreditáveis 100 mil
óbitos.
Em 90 dias, o número se multiplicou
por dez. Onde vamos parar?
A resposta seria mais fácil se já
estivéssemos na curva descendente
de mortes móveis diárias.
A questão, que torna o Brasil um dos
casos mais complexos desta
pandemia, é que estamos com uma
curva estável, o chamado platô,
desde pelo menos o início de junho.
Mas é um platô alto, de cerca de mil
óbitos por dia.
Por que o número não cai?
Pelo fato de o Brasil ser um país
continental, no qual o vírus migra.
Começou nas capitais e foi se
estendendo para o interior, inclusive
de São Paulo. Começou na região
Sudeste e Norte e foi se espalhando
para o Centro-Oeste e Sul do país.
É essa gangorra, na qual o número
de mortes cai de um lado e sobe do
outro, que não deixa curva diminuir.
Por isso mesmo, faz cada vez menos
sentido pensar em uma estratégia
para todo o Brasil.
Isso não significa defender o cada
um por si que reina atualmente.
O sistema teria que estar interligado
para que, dependendo do estágio de
cada lugar, medidas específicas
fossem tomadas.
Mas estamos muito longe de tal
realidade.

Gabriela Wolthers, FSB - Pandemia chegou ao platô no Brasil, mas por que a curva não cai ?

Gabriela Wolthers, FSB - Pandemia chegou ao platô no Brasil, mas por que a curva não cai ?

Em 9 de maio, o Brasil atingiu um
patamar simbólico em relação ao
coronavírus: 10 mil mortes.
Praticamente três meses depois
chegamos aos inacreditáveis 100 mil
óbitos.
Em 90 dias, o número se multiplicou
por dez. Onde vamos parar?
A resposta seria mais fácil se já
estivéssemos na curva descendente
de mortes móveis diárias.
A questão, que torna o Brasil um dos
casos mais complexos desta
pandemia, é que estamos com uma
curva estável, o chamado platô,
desde pelo menos o início de junho.
Mas é um platô alto, de cerca de mil
óbitos por dia.
Por que o número não cai?
Pelo fato de o Brasil ser um país
continental, no qual o vírus migra.
Começou nas capitais e foi se
estendendo para o interior, inclusive
de São Paulo. Começou na região
Sudeste e Norte e foi se espalhando
para o Centro-Oeste e Sul do país.
É essa gangorra, na qual o número
de mortes cai de um lado e sobe do
outro, que não deixa curva diminuir.
Por isso mesmo, faz cada vez menos
sentido pensar em uma estratégia
para todo o Brasil.
Isso não significa defender o cada
um por si que reina atualmente.
O sistema teria que estar interligado
para que, dependendo do estágio de
cada lugar, medidas específicas
fossem tomadas.
Mas estamos muito longe de tal
realidade.

Artigo, Alon Feuerwerker - Imunidade do rebanho precisa ser menor do que 50% ?

Mais um dado aparece para juntar-se ao
debate sobre a "imunização de rebanho" na
Covid-19, aquele tanto da população que
precisa estar imunizado, por contágio ou
vacina, para as curvas de casos e, portanto,
de mortes começarem a cair. Na cidade de
São Paulo, a porcentagem dos portadores
de anticorpo contra o SARS-CoV-2 anda
estável (leia), assim como o número de
novos óbitos registrados diariamente.
Bem, se a velocidade de evolução da curva
diminuiu, é provável que cada infectado
esteja infectando em média apenas mais
um indivíduo. Mas um detalhe chama a
atenção: as projeções iniciais calculavam
que pelos menos 50% da população
precisariam estar imunizados para
chegarmos a esta situação. E chegamos
nela, segundo o estudo paulistano, com o
número em torno de 18%.
Caberá aos cientistas decifrar o enigma.
Haverá gente imune ao novo coronavírus
mesmo sem portar anticorpos? Ou gente
que já teve anticorpos detectáveis e não
tem mais? Especulações à parte, é um
alívio notar que taxas de imunidade mais
baixas que as inicialmente previstas
conseguiram, pelo menos, segurar a
escalada da curva de casos e mortes entre
nós. Não é tudo, mas já é alguma coisa.