Artigo, Flávio José Kanter, Zero Hora - Ensinar e aprender com velhos


Atendo muitas pessoas velhas, entre 80 e cem anos. Não é raro acompanhantes, cuidadores e familiares, terem restrições a hábitos de vida, horário e tipo de alimentação e bebida, banho, dormir e acordar, vontade de sair de casa, dirigir seu carro... Quando são lúcidos e comandam bem seus corpos, pensamentos e  sentimentos, tendo a apoiá-los. Comento que chegaram a essa idade conduzindo a vida do seu jeito e que assim está dando certo. Não fosse isso, não estariam como estão. Digo que nós não sabemos se vamos chegar vivos até a idade que eles chegaram. Sugiro que temos o que aprender com eles, não a ensinar. Os velhos reagem com um sorriso triunfante, cheios de orgulho. Os acompanhantes recebem a sugestão com um sorriso desconcertado, mas sempre concordam.

Nem tudo precisa ser tratado
É comum querer tratar velhos como se fossem crianças. Serve para lidar com os que já não têm condições mentais e físicas para gerenciar suas existências com autonomia. Muitos conflitos que se verificam entre eles e seus jovens são desnecessários. O hábito dos mais moços de achar que seu jeito de conduzir a vida dos velhos é melhor, nem sempre corresponde à verdade nem os torna mais felizes. Por vezes, não sabemos o que é melhor para nós. Por que achar que se sabe o que é melhor para o velho... Melhor saber o que sentem e pensam.
Há uma tendência a medicalizar a velhice. Nem tudo precisa ser tratado. Lembro o que Darwin identificou, sobrevive quem se adapta, não o mais forte. Bernard Lown cita um adágio que diz que não se conserta o que não está quebrado. Velhice não é doença. Devemos tratar as doenças que acometem velhos, como tratamos as que atingem jovens. O desafio é reconhecer o que o envelhecimento muda em cada um.
Ajudar velhos e seus familiares com criatividade para fazer as adaptações a essa fase da vida pode ajudar mais do que buscar mudanças ou dar remédios. Só não é assim para os que perderam o vigor físico e a lucidez, os que estão dependentes. Não sendo isso, é melhor apoiá-los no seu jeito, protegê-los de riscos, aprender com eles.

Artigo, Tito Guarniere - O ódio ao PT


Os petistas reclamam o tempo todo que são vítimas do ódio das elites. Nas elites, eles incluem os que, simplesmente, não simpatizam com o seu discurso, os seus métodos de atuação, as suas práticas políticas. Não vislumbram senão um ódio gratuito, pelo que nunca fizeram, pelos erros que nunca cometeram: são odiados – vejam só - pelo bem que fizeram aos pobres e excluídos deste país. Este é um dos mitos mais obscuros e mais sórdidos, dos tantos que alimentam o imaginário lulopetista.

Este é um aspecto crucial do desgosto, da ojeriza que o PT provoca em amplos contingentes da população, mesmo aqueles que não são de direita, não votam em Bolsonaro e não querem a volta do regime militar. Ao generalizar, ao classificar todos os eleitores que não votam em Lula, Dilma e no PT, de pessoas egoístas e preconceituosas, o lulopetismo afastou de si uma parcela significativa de brasileiros – às vezes sequer interessada em política partidária – que só quer viver sua própria vida, estudar, produzir, prosperar, independente de quem governa o país.

Esses concidadãos, numerosos, alfabetizados e influentes, não odeiam ninguém. Mas se sentem injuriados pela baixaria, que equivale a dizer que eles são pessoas péssimas, capazes de detestar um semelhante só porque é pobre, e - a que ponto chega a maldade! - capazes de ficar incomodados quando esses pobres prosperam e melhoram de vida.

Essa atitude arrogante, essa pretensão insana, permeia o discurso, a visão de mundo de Lula e dos seus seguidores. Esse mundo assim dividido entre virtuosos (que são eles) e maus (que são os demais), é uma vertente autoritária, excludente e intolerante do PT, que envenena as relações do partido com uma boa parte da sociedade brasileira. A ironia está em que o PT – como se viu em Lula às vésperas de sua prisão – mantém o tempo todo o dedo em riste, acusando os outros de autoritários, intolerantes e excludentes.

A jornalista Cora Rónai, em O Globo, diz com razão e propriedade sobre Lula: “Um candidato pode ser o que quiser, mas um presidente não. O presidente de todos os brasileiros não pode dizer que quem não votou no seu partido odeia os pobres e tem horror de ver os filhos dos pobres na universidade, porque além de divisiva, essa afirmação é extremamente ofensiva e soa como um insulto”.

Outro jornalista, Carlos Alberto Sarderberg, admitindo que a vida dos pobres melhorou com Lula, observa, entretanto, que a melhoria se deu por causa de um ciclo de expansão capitalista, que aconteceu na Índia, Chile, Tailândia, Peru e em todos os países emergentes.

No mesmo artigo, Sarderberg assinala que os ricos, muito ao contrário do que diz a lenda petista, adoram quando mais pessoas, pobres ou não, viajam de avião, entram nas faculdades, especialmente as particulares – que foi onde a imensa maioria dos pobres ingressou. Como todos sabem, as universidades públicas são as mais frequentadas pelos filhos dos ricos.

E por que adoram? Porque os ricos, donos de faculdades, donos das companhias aéreas, dos hotéis e das lojas, querem vender, ganhar dinheiro, querem ver seus negócios prosperando. Rico tem pavor da recessão, não de pobres indo às compras e ao consumo.

titoguarniere@terra.com.br


33,6% das mortes que correm no RS são consequência do câncer


O câncer figura como principal causa de morte em 516 dos 5.570 municípios brasileiros. É o que aponta pesquisa divulgada hoje (16) pelo Observatório de Oncologia do movimento Todos Juntos Contra o Câncer, em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM). O estudo alerta que a doença avança no Brasil ano após ano e, caso a trajetória seja mantida, em pouco mais de uma década as chamadas neoplasias serão responsáveis pela maioria dos óbitos em todo o país.

As informações acima foram passadas pela Agência Brasil, em reportagem especial. Leia tudo.

Os dados mostram que a maior parte das cidades brasileiras onde o câncer aparece como principal causa de morte está localizada em regiões mais desenvolvidas, justamente onde a expectativa de vida e o Índice de Desenvolvimento Humanos são maiores. Dos 516 municípios onde os tumores mais matam, 80% ficam no Sul (275) e Sudeste (140), enquanto o Nordeste concentra 9% dessas localidades (48); o Centro-Oeste, 7% (34); e o Norte, 4% (19).

As cidades em questão concentram, ao todo, uma população de 6,6 milhões de pessoas. Onze delas são considerados de grande porte, sendo Caxias do Sul (RS) a mais populosa entre elas, com quase meio milhão de habitantes. São classificadas como de médio porte 27 cidades com população entre 25 mil e 100 mil pessoas, enquanto as demais, maioria, se situam na faixa de pequenos municípios, com menos de 25 mil habitantes. Araguainha, menor município do Mato Grosso, é também a menor cidade identificada na lista.

De acordo com o estudo, o Rio Grande do Sul é o estado com maior número de municípios (140) onde o câncer aparece como primeira causa de morte. Enquanto em todo o país as mortes pela doença representam 16,6% do total, no território gaúcho, o índice chega a 33,6%. Um dos fatores que, segundo a pesquisa, pode explicar a alta incidência de câncer na região são as características genéticas da população, que pode apresentar maior predisposição para desenvolver um tipo de câncer.

Perfil

Com base no Sistema de Informações de Mortalidade, a pesquisa identificou que, das 9.865 mortes registradas nas 516 cidades ao longo do ano de 2015, a maioria foi entre homens (57%). Seguindo a tendência, em 23 estados, os homens lideram o número absoluto de mortes. Em 21 municípios, não houve sequer um registro de óbitos entre mulheres. Apenas no Ceará e no Mato Grosso do Sul, elas foram maioria nos registros de óbitos, enquanto em 62 cidades, as mortes registradas foram iguais para ambos os sexos.

Com relação à idade, metade dos óbitos se concentra nas faixas de 60 a 69 anos (25%) e de 70 a 79 anos (25%). Em seguida, a maior proporção aparece no grupo com mais de 80 anos (20%). Crianças e adolescentes até 19 anos somaram 19% dos óbitos no mesmo ano.

Números

O levantamento revela ainda que, em 2015, foram registradas 209.780 mortes por câncer no Brasil – um aumento de 90% em relação a 1998, quando foram registrados 110.799 óbitos pela doença. O crescimento das mortes por neoplasias durante o período, segundo o relatório, foi quase três vezes mais rápido que o crescimento dos óbitos provocados por infartos ou derrames.

Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que, em todo o planeta, o câncer é responsável por 8,2 milhões de mortes todos os anos. Cerca de 14 milhões de novos casos são registrados anualmente e a previsão da entidade é que as notificações devam subir até 70% nas próximas duas décadas.