Artigo, Gilberto Jaspers - Quem "fura" a fila da vacina

          Cada vez que tomo conhecimento de episódios como aquele das pessoas que furaram a fila da vacina contra a Covid-19 penso na importância decisiva de pais, professores e educadores. Uma educação eficiente significa redução de despesas em saúde, segurança e emprego, entre outros benefícios. 

            Estas consequências são quase insignificantes diante da repercussão na formação da personalidade dos conteúdos que, em resumo, tem na sua base na ética. Formar cidadãos íntegros é uma luta desafiadora. Os apelos de consumismo, ostentação e egoísmo falam mais alto, são onipresentes, obrigam à vigilância sem tréguas.

            Os meios de comunicação, turbinados pela publicidade cada vez mais agressiva e que mexe com o emocional do consumidor, impingem uma imagem-padrão de beleza, por exemplo. Isso funciona como uma ditadura. Quem não se enquadra nos preceitos padronizados de peso, altura e vestuário é motivo de chacota. Ou é condenado ao isolamento que causa angústia, depressão e distanciamento social.

            As redes sociais têm o condão nocivo de estimular o consumismo exacerbado. O bombardeio resultante dos algoritmos funciona é um rastreador que invade a privacidade de todos, de presidentes da República a mortais comuns. Basta, por exemplo, pesquisar o preço de um par de tênis para ser “perseguido, durante um mês, por todo tipo de calçado esportivo/agasalhos/camisetas/meias, etc. Qualquer acesso digital está carimbado com as nossas digitais.

            Todas as nossas informações – por mais pessoais e confidenciais que sejam – foram transformadas em mercadoria valiosa, vendida a peso de ouro para explorar todo tipo de comércio. A “educação das redes sociais” pouco ou nada tem a ver com os conteúdos ministrados na sala ou dentro de casa.

            Furar a fila parece um procedimento incorporado ao comportamento do brasileiro. Erroneamente foi apelidada de “jeitinho” para minimizar a gravidade de uma postura lamentável sob todos os aspectos. Pior que isso, seguir as normas, cumprir as leis, ou seja, “obedecer à fila” é sinônimo de burrice. Observar o regulamento  é para trouxas, babacas, “crentes”.

            Evito imaginar o resultado do caldo cultural do uso excessivo das redes sociais. Imagine o efeito nas próximas gerações que têm, como base, os exemplos de sucesso digital. Como no supermercado há opções para todos os gostos. O desafio é vigiar conteúdos, servir de exemplo e tentar preservar a privacidade de nossos filhos. Parece fácil. Mas só parece!

            


Menos vitimismo e mais coragem dentro das quatro linhas...

Por Facundo Cerúleo


           Vou falar de jogadores de futebol. Mas, sem nomes! Sem nomes! É que a moda hoje é cada um ter a sua carteirinha de vítima: não se pode dizer um "a" da criatura, que já lá vem uma ação por dano moral!

           Pois bem, são inúmeros aqueles que, nas categorias de base, encantavam a torcida, animavam dirigentes e faziam crescer o olho do empresário... Mas que, depois, se perderam. E jamais se afirmaram como profissionais.

          O que é que explica alguém não realizar aquilo de que é capaz?

           Claro, todo mundo tem uma resposta na ponta da língua. De psicólogo e louco, todo mundo tem um pouco...

           Cada caso é um caso, está bem. Mas há uma situação que, envolvendo aspectos sutis e apesar de ser muito frequente, costuma ser ignorada.

           Um grande fator de fracasso é o garoto não suportar pressão, isto é, ele não dar conta daquilo que ele acha que é a expectativa dos outros.

           Quando o cérebro do vivente está focado em não decepcionar os outros, morrem a ousadia, a iniciativa e a criatividade - alma do futebol.

           É assim no esporte. É assim na vida. Vale pra qualquer um.

           Ou dirão que isso não tem reflexos dentro de campo?

           Lembram o gol do Grêmio contra o Peñarol e o primeiro título de campeão da Libertadores? Um tal Renato Portaluppi, "cercado", lá na bandeirinha de escanteio, quase fora do campo, cutucou a bola com o pé esquerdo para, de direita, dar uma puxeta, alçar na área e César fazer de cabeça.

           Se, em vez de "cercado", Renato se sentisse "oprimido", não faria o que fez: se ele tivesse mentalidade de vítima, se nele prevalecesse o medo de errar, instintivamente acharia justificativa para livrar-se da responsabilidade, deixando de ser ousado e criativo. E o título...

           Portaluppi, Romário e Mário Sérgio, para citar só três, são exemplos de grandes jogadores com a marca da irreverência. O que seriam sem ela?

           O Brasil ainda é pródigo em talentos. Mas, parece que o ambiente marca de cima o jogador talentoso. E não deixa jogar...

           Não é só o empresário, que, acenando com riqueza fácil, enfeitiça os rapazes, imprimindo neles uma visão distorcida da vida.

           Incentivada por muita gente, existe a "síndrome de celebridade", que leva ao consumismo, à ostentação, a buscar o sucesso sem esforço e sem renúncias, desprezando por completo os valores que transformam o moleque num homem de fibra. Da "síndrome" ao fracasso, é um pulo...

           E como tudo pode piorar, agora estão até pautando o que os jogadores devem pensar e falar nas entrevistas. Alguém duvida disso?

           Para ter mais espaço na mídia, o que é útil para virar celebridade, tem que agradar a isenta crônica esportiva... E o que é pior, nada agrada mais a imprensa hoje do que um discurso politicamente correto!

           Acontece que viver para agradar os outros mata a criatividade: precisa um pouco de irreverência. E o futebol, que vive da criatividade, mostra que uma irreverência autêntica não combina com o politicamente correto.

           Permitem uma hipérbole? O politicamente correto termina emasculando o jogador... E acaba com o nosso futebol, ex-melhor do mundo.

           Não vou brigar com a realidade. Mas não é pecado sonhar com o ideal! E o ideal seria a família do menino que está começando e o dirigente do clube pensarem em como preservar a ousadia, a iniciativa e a criatividade, que são, ao menos na maioria, um impulso natural.

           Façam, pois, alguma coisa para salvar o futebol!

           Se não for por humanidade (ajudando o atleta a se tornar antes de tudo um homem) que seja pelos milhões perdidos em cada fracasso.