Editorial, Estadão - Lula escolhe seu inimigo

Cumprindo rigorosamente o que foi chamado a fazer, o novo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira, anunciou que o governo de Lula da Silva está em guerra contra as “big techs” para salvar a humanidade.

É o que se depreende do discurso de posse do marqueteiro, que não tem experiência nenhuma em administração pública nem em comunicação institucional, mas conhece como poucos os truques da parolagem eleitoreira e a cabeça de Lula. É a transformação da Secretaria de Comunicação Social em Ministério da Propaganda.

Inventar um inimigo insidioso para gerar medo e galvanizar eleitores é uma estratégia manjada no manual do populismo autoritário. Se “a mentira nos ambientes digitais fomentada pela extrema direita cria uma cortina de fumaça na vida real, manipula pessoas inocentes e ameaça a humanidade”, como discursou Palmeira, então urge que se dê total apoio a Lula, já que o demiurgo petista se apresenta como o líder natural dessa resistência ao mal existencial causado pelas insaciáveis “big techs”.

Eis aí o lulopetismo em estado puro. Para essa turma, “embate político” no ambiente digital significa estigmatizar tudo o que desagrada a Lula, ao governo e ao PT como “fake news”, “desinformação” e, no limite, “ataque à democracia”, o que beira o ridículo. Isso ficou cristalino no discurso de Palmeira, sobretudo quando ele afirma que “a população não consegue ver o governo em suas virtudes” porque, no seu entender, há uma “cortina de fumaça” causada pelas “fake news” que impede que as informações sobre as maravilhas do governo Lula cheguem aos brasileiros. Em tom grandiloquente, o novo ministro atribuiu à comunicação institucional um papel que ela não tem, qual seja, o de ser a “guardiã da democracia” em face do que ele classificou como o “faroeste” que, em sua visão, impera nas redes sociais.

Em outras palavras, o governo Lula se apresenta não só como portador da “verdade” contra as “mentiras” de seus opositores nas redes sociais, mas também como o xerife que enfrentará os bandidos no tal “faroeste” da internet. E o presidente já encarnou esse papel, ao dizer que sancionou a nova lei que proíbe celulares nas escolas para “enfrentar a revolução da mentira” e das “fake news”, promovida por “gente que não presta e mente descaradamente”. “É por isso que nós tomamos a decisão de proibir celular na educação. A gente proibiu para defender as nossas crianças. A gente proibiu para defender os nossos professores. Para defender a nossa educação. Nós queremos continuar humanistas, nós não queremos virar algoritmos nesse mundo.”

Ora, a nova lei não se presta a isso, e sim a resguardar o processo de aprendizagem, o que inclui, fundamentalmente, o respeito e a valorização do trabalho dos professores em sala de aula e a atenção total do aluno ao que ali se ensina, sem distrações.

Para os petistas, contudo, a verdade factual nunca importou – e, em muitos casos, é considerada um estorvo. Note-se que na mesma cerimônia em que o ministro Sidônio Palmeira anunciava sua guerra sem quartel contra a desinformação, seu antecessor, Paulo Pimenta, se referiu ao impeachment constitucional da presidente Dilma Rousseff como “golpe” – uma “fake news” que os petistas repetem incessantemente na expectativa de que se torne verdade. Pimenta se disse “petista raiz”, mas nem precisava.

Já deu para perceber, portanto, qual será a estratégia do lulopetismo na segunda metade do mandato de Lula: inventar uma guerra contra os magnatas estrangeiros da internet para que se pare de falar em inflação, contas públicas deterioradas e dificuldades na articulação política. Mais uma vez, cria-se a “narrativa” de que a democracia está em risco e que apenas Lula é capaz de salvá-la. Ou seja, sem ter o que entregar de concreto como realização de seu governo para reivindicar um novo mandato na eleição de 2026, resta a Lula a mistificação, sua especialidade.


Opinião do editor - A RBS apoia caninamente o discurso escapista e mentiroso no caso do Pix

A RBS alinhou-se caninamente ao discurso oficial escapista sobre as razões do recuo do governo federal nomeado lulopetista no caso do Pix, confirmando mais uma vez o papel vergonhoso que joga no campo jornalístico da desinformação. Desta vez, a tarefa suja coube à jornalista Marta Sfredo, que ombreia com sua colega Rosane Oliveira na tarefa inglória de defender o grupó da família Sirotsky, visando manter sua posição de puxadinho da Globo. Eis o que escreve a jornalista no site de Zero HJora "Economia subterrânea força governo a mudar regra para monitorar operações por Pix. Interesse em se manter à margem do fisco e campanha de fake news provocaram recuo, que deve fazer soar o alerta no governo: confiança se conquista de forma lenta e se perde de maneira rápida."

É um texto não apenas escapista, mas decididamente mentiroso, destinado a desinformar, mas sem resultado prático algum. Acontece que o povo não é mais bobo e a RBS não tem mais o monopólio da informação no RS.