Reportagem, Ana Maria Cemin, jornalista do RS - Vivi tortura emocional no campo de concentração e na Colmeia

- Ana Maria Cemin é jornalista, RS 

Entrevistei essa jovem mãe, que mora no interior de seu estado com o seu filho de 3 anos. Ela foi a Brasília no dia 7 de janeiro, chegou no dia 8 para se manifestar. Foi numa caravana de sua cidade que voltaria dois dias depois. De lá não voltou. Contei essa história em outra matéria publicada no blog, mas com o olhar na sua vida pessoal, o sofrimento por estar longe do filho e como sofre agora com as limitações impostas pelo ministro Alexandre de Moraes. Nessa nova entrevista, ela conta como foi a experiência de tortura emocional dentro do Ginásio da Polícia Federal e no Presídio Feminino Colmeia. Boa leitura!


Depois que fomos sequestrados do QG em frente ao quartel e que ficamos rodando por horas dentro dos ônibus, fazendo xixi dentro dele e passando muito mal, muita gente chorando, nos levaram para o Campo de Concentração, nome que damos ao Ginásio da Polícia Federal para onde mais de 2 mil pessoas foram levadas presas no dia 9 de janeiro. 

Na chegada, um homem me revistou, o que estranhei, pois pelo que sei quem deveria me revistar seria uma mulher. Logo que passamos pela revista, procuramos um lugar para carregar o celular e beber água, depois cantamos e conversamos sobre o que estávamos vivendo. Estamos presos? Não estamos presos? Tudo girava em torno da estranheza dos acontecimentos. 

Nisso, ouvi gritos de uma mulher pedindo socorro porque o seu pai estava passando mal. O bombeiro estava muito longe, após a barreira da polícia federal, e nós não tínhamos como ajudar o idoso. Ele sofreu um AVC e ouvimos de pessoas próximas do patriota que “ele morreu”. Os bombeiros vieram e o levaram. Não ouvi mais nada sobre o caso. 

Chegou alimentação para as mais de 2 mil pessoas somente após às 5 horas da tarde. Após um longo jejum coletivo de crianças, adolescentes, idosos, doentes e adultos novamente fomos para uma fila imensa para receber o alimento. Até aí eu continuava muito otimista, gravei vídeos mostrando que estava tudo bem, que ninguém precisava se preocupar conosco. Eu acreditava que todos aqueles equívocos logo seriam esclarecidos. Estávamos a um passo de voltar para os nossos estados, só faltava passar pela conversa com a Polícia Federal e contar a nossa história. Hoje sei que a minha ficha não tinha caído, mas precisei viver toda a tortura que veio em seguida. 


SEM CRITÉRIO PARA LIBERAR PATRIOTAS

Por volta das 7 horas da noite, os patriotas começaram a ficar mais agitados e nervosos, passando mal, e ouvia o tempo todo gritos de “Socorro!”, “Eu quero ir embora!” e, assim, ia passando o tempo de espera. A fila de triagem para sermos ouvidos pela polícia começou com os idosos acima de 60 anos. Na madrugada falei para os meus conterrâneos que tive o pressentimento de que não sairíamos do Campo de Concentração como nos tinham dito lá no QG. Então, mandei mensagem para a cuidadora do meu filho e para a minha irmã dizendo que possivelmente seríamos presos. 

Uma integrante da caravana da nossa cidade conseguiu sair e estava na rodoviária nos esperando. Às 2 horas da manhã eu ainda estava acordada e pensava não ser justo eu sair sem meus amigos. Vi que o critério da fila tinha mudado, qualquer pessoa poderia passar pela triagem, então os chamei para irmos para fila. A minha amiga que conseguiu sair do Campo de Concentração explicou que conseguiu sair por provar que tomava um determinado remédio e sugeriu que fizesse o mesmo. Não era difícil, naquele momento, conseguir uma receita on-line com os médicos conhecidos. Ela estava me esperando na rodoviária, mas não conseguiria deixar os meus dois amigos ali. Ou sairíamos todos ou eu ficaria com eles.

Um dos meus amigos disse que queria dormir e só pela manhã iria para a fila e, logo em seguida, voltaríamos juntos para casa. Ele acreditava nisso. Só que o decreto do ministro Alexandre de Moraes parecia mudar de 30 em 30 minutos. Minha amiga continuava ligando da rodoviária insistindo para que eu fosse para a fila e dissesse ser dependente de uma medicação. A fila diminuiu bastante e fui para a das mulheres. Quando entrei na sala da delegada me disse: “A senhora está presa em flagrante delito e tem direito a uma última ligação”. Fiquei pasma com aquilo e perguntei à delegada qual era o critério para prender uns e liberar outros. Vi que eu tinha chegado ao fim do poço e dizia à delegada que eu tinha um filho de 3 anos e que se ela estava me prendendo então deveria me arrumar um defensor público. 


ADVOGADOS ESTORQUIAM OS PATRIOTAS DESESPERADOS

Lá na quadra tinha advogado se oferecendo para tirar a gente de lá por R$ 20.000,00 e R$ 30.000,00. E no desespero assisti quem fechasse acordo com eles. Muita gente pagou os advogados com pix na ilusão de sair logo dali. Essa invasão de advogados cobrando absurdos para tirar os patriotas do Campo de Concentração foi algo aterrador. Uma turma de advogados estava fazendo a cabeça de uma idosa, que estava lá sozinha, então eu disse para ela ligar para os familiares para eles conseguirem um advogado na cidade dela, alguém confiável. Com medo, as pessoas se jogavam na primeira opção.

Quando pedi um defensor púbico, a delegada disse que iria providenciar um e, logo em seguida, um advogado entrou e me pediu R$ 1,5 mil. Eu estava sem dinheiro, tinha ido para uma manifestação organizada em nossa cidade, tudo estava esquematizado desde a saída da minha cidade até a volta, nem pensei que precisaria de dinheiro. Aliás, tinha um pouco porque um dos meus amigos me deu R$ 100,00 em dinheiro e mais R$ 300,00 em pix para que eu fosse para a rodoviária, onde todos nós nos encontraríamos após aquele confinamento. Falei para o advogado o quanto tinha e ele topou os R$ 400,00. Me falou que acompanharia no dia da audiência de custódia, assinei o termo de culpa e entreguei o meu celular. Eu nunca mais vi o advogado. Sumiu da minha vida!

Da conversa com a delegada fui para um corredor comprido, repleto de patriotas, todos sentados no chão. Homens de um lado, mulheres do outro. Muita gente chorando e eu falava com os policiais, perguntava a razão de fazerem aquilo com a gente. Dizia: “Somos pais e mães da família, precisamos voltar para casa; precisamos trabalhar e sustentar os nossos lares.” Não recebia nem uma resposta. 

Do corredor, fomos às digitais e às fotos típicas de bandidos: frontal com plaquinha e mais duas de lado. Imagina a humilhação! Sou daquelas pessoas que nem no SPC entrei na vida, sinto um verdadeiro horror só em pensar na ideia de sujar meu nome. E ali em Brasília, de uma hora para outra fui presa por flagrante delito por algo que eu não fiz e, por isso mesmo, ninguém poderia juntar provas contra mim. Que tipo de flagrante delito era esse, se eu estava no QG quando fui levada pelos policiais federais? 

Depois das digitais e fotos, pediram as nossas bolsas e nos levaram para uma outra sala policiada pelos federais. Ficamos toda a madrugada até às 10 horas sentados no chão. Já não tínhamos água. Falei para um policial que estávamos com fome e sede, e ele respondeu que serviriam o café da manhã no presídio. O nosso desespero por comer algo era grande e surgiu um pacote de biscoito. 

Olhava para um lado e para outro e via homens chorando como crianças, então falei para o policial de plantão: “Olha para aquele senhor, ele tem idade para ser o seu pai ou avô. Qual a razão para fazerem isso com ele?”. Ele respondeu: “Por favor, moça, não fala mais comigo”. Vi que ele não queria chorar, acho que policial não chora. Eu sou muito falante e fiquei o tempo todo fazendo apelos para que refletissem sobre as injustiças contra inocentes. Não funcionou. Muitos idosos inocentes foram para o presídio.


SEPARADA DOS AMIGOS, FUI PARA O COLMEIA

Ouvi que os homens seriam levados para o presídio Papuda e vi um dos meus dois amigos presos chorando. Falei com ele e perguntei onde estava o nosso outro amigo, ele não sabia. Então ele me lembrou que quando saímos da Praça dos Três Poderes poderíamos ter voltado para casa. Isso me fez chorar e carreguei essa culpa o tempo todo dentro do presídio, porque os meus conterrâneos eram muito fiéis a mim e eu demorei muito a entender na fria que entramos em Brasília. Eu queria continuar ali, lutando, mesmo com a polícia tendo agredido a nós no ato de 8 de janeiro e mesmo com os infiltrados tendo feito o que fizeram nos prédios da nossa República.

Nós, as mulheres, fomos levadas num carro todo fechado para o Colmeia, com sete mulheres num lado e sete do outro, com uma parede metálica no meio, que impedia ver quem estava do outro lado. Tudo escuro e apavorante. Eu disse: “Moço, pelo amor de Deus, me tira daqui. Eu tenho claustrofobia!”. Então, o policial mandou a gente ficar de pé dentro do carro e consegui ficar na porta. Ficamos dentro daquele camburão por muito tempo, com o sol forte batendo, sem ventilação e as mulheres vomitando. Começamos a gritar e nada! Foi então que decidimos ficar quietas para ver se conseguiríamos alguma comoção dos policiais. Uma policial abriu a porta e disse: “Calma. Vai ficar tudo bem!” e fez o “L”. Não foi bem comoção, mas uma maldade gigante. 

Ao chegarmos no Instituto Médico Legal repeti a minha frase principal: “Porque estão fazendo isso com a gente?”. A resposta da policial foi de que cumpria ordens e que era para eu tirar a minha roupa. Eu disse que não tiraria, mas tirei e vesti uma blusa alaranjada rasgada no peito e com a palavra “Detento” e um short branco rasgado no bumbum. Reclamei das condições precárias das roupas e a resposta foi: “É o que tem”.

Eu não queria tirar a minha calcinha, porque estava começando a minha menstruação, mas não teve jeito. Fiquei sem. Dali fui levada para a máquina Raio X e, na sequência, sentei-me com as demais patriotas no chão, com cabeça baixa, mãos para trás e viradas para a parede. Olhava para as senhorinhas idosas sentadas daquela forma e me dava um aperto no coração. Eu mesma me sentia indignada, humilhada, pois nunca me curvei para ninguém, só para Deus na igreja, de joelho. Nunca fui de abaixar a cabeça para qualquer ser humano e ali estava eu numa situação sem qualquer poder de escolha.

A tortura psicológica e física aumentava a cada minuto e foi ao limite quando me perguntaram se eu tinha algum problema com petistas e logo em seguida emendaram: “Vamos colocar vocês junto com as presidiárias petistas”. A intenção era de apavorar mesmo. No caminho para a cela, um carcereiro me disse para ficarmos unidas e firmes, porque as carcereiras poderiam bater em nós e estavam querendo fazer isso.

Nos colocaram numa ala que foi berçário, concluímos isso porque tinha uma cadeira de amamentação. Era a Ala D e estávamos em 137 mulheres e me uni com aquelas com quem tinha mais afinidade. Só pensava em meu filho e vinha um desespero difícil de controlar. Ainda no primeiro dia, vieram com o cotonete para teste de Covid, não tínhamos um minuto de paz e as carcereiras chegavam na porta e bradavam suas ordens, sempre aos gritos: Detentas, façam isso! Detentas façam aquilo! Pedi a Deus para não entrar numa crise de ansiedade, pois um surto não ajudaria em nada. 


ALIMENTO INCOMÍVEL, BANHO FRIO E CHEIRO DE CARNIÇA

Na hora da comida uma nova provocação: “Olhem vocês aí e o Bolsonaro está lá nos Estados Unidos”. Queriam nos humilhar e desanimar a qualquer preço, mas ficamos caladinhas e recebemos aquela comida que nem merece ser chamada como tal. É uma ração com casca de verduras e, então, eu separava o arroz e feijão para comer. A linguiça também não dava para comer. À noite não conseguia dormir e só pensava no meu filho e meu peito queimava. 

Dentro da cela estávamos só com a roupa do corpo e recebemos um kit presa com absorventes, papel higiênico, pasta e escova de dentes.  Não demorou muito, nos levaram para outra ala, toda queimada devido a uma rebelião das presidiárias. Era um cenário horrível, sem lâmpadas, paredes chamuscadas e descascando. As camas eram triliches e as senhorinhas não conseguiam subir, foi um problema. 

Tivemos contato com a diretora do Colmeia dentro da cela, ela veio nos explicar todos os procedimentos. Nos disse que não éramos criminosas, mas que ali dentro seríamos tratadas como tal. Disse que não podia fazer nada por nós e demostrou ser muito humana, derramou lágrimas e nos pediu: “Pelo amor de Deus não errem por coisas bestas”. A diretora era muito diferente das carcereiras que viviam nos maltratando e falavam conosco aos gritos, nos mandavam colocar as mãos para trás e para não olharmos para elas. As carcereiras ameaçavam nos colocar em solitárias e diziam que no terceiro dia tentaríamos suicídio. Quando elas abriam a porta, se tinha alguém no banheiro era problema, porque tinha que apresentar-se rapidamente. Imagina a situação! Ficamos nesta ala com 20 quartos e um corredor gigante, dez quartos de um lado e dez quartos no outro. Era como se fosse um grande apartamento, porque o banheiro com três vasos e dois chuveiros ficava do lado de fora das celas, junto a um local vazio usado para fazer a conferência de todas as 137 presas duas vezes ao dia. Junto a essa sala vazia tinha ainda o tanque. Preste atenção: éramos 137 mulheres compartilhando um tanque, dois chuveiros com água fria e três vasos sanitários. 

Depois do banho frio, nós enxugávamos o corpo com única roupa que tínhamos no cárcere. Não tinha toalhas, que chegou só dias depois, ofertadas por uma igreja de Brasília junto com calcinhas e sutiãs. O cheiro ruim exalava dos corpos e das roupas, pois só tínhamos as nossas roupas sujas para nos secar e, depois, as vestíamos molhadas. Eu cheguei a tomar banho e ficar enrolada no cobertor, mas fui xingada e tive que vestir a roupa molhada. É triste dizer isso, mas tinha gente fedendo a carniça. 

“Se virem com o que tem! Pode chegar algum homem aqui e pegar alguém pelada”, diziam elas, nos proibindo de lavar e secar a única roupa que tínhamos. Era incomum ter homens no Colmeia, mas numa noite recebemos policiais penais, logo depois da janta. Nos entregaram bíblias que sobraram após a distribuição no Papuda. Eu vi lágrimas nos olhos deles e um disse se sentir “um nada” diante da gente, mulheres muito corajosas. 

Aos poucos foram chegando kits de roupas que os familiares das presas compravam e enviaram pelos advogados e eu fui ajudada por uma moça boazinha que cedeu algumas peças para mim. Só então pude tirar aquela roupa rasgada. Era uma querida que distribuía aquilo que não lhe faria falta. Talvez por estar nervosa a minha menstruação veio forte e consegui me socorrer com absorventes recebidos pelas senhoras idosas. Uma ajudava a outra.


TENHO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO - TOC

Em todo esse tempo, quando apelava para nos tirarem da prisão, a resposta era sempre a mesma: “Não posso fazer nada, quem manda é o ministro Alexandre de Moraes.” Enquanto isso, estávamos no cárcere comendo alimentos com bichos, o café da manhã era um achocolatado e dois pães pequenos, sendo que eram entregues sem qualquer higiene e vinha todo amassado. Eu não conseguia comer, só tomava o achocolatado. A janta e o almoço vinham em marmitex, mas era uma comida muito ruim, azeda e/ou com bichos, como falei antes. Junto vinha um suco e uma fruta, em geral, estragada. Guardávamos para mostrar para as carcereiras, na esperança de que a comida melhorasse. Ilusão. Quando começaram a entregar pacotes de biscoitos eu só comia isso. Não conseguia comer aquela carne que parecia uma ração molhada.

Sofri muito lá dentro também por ter TOC, mania de limpeza, e a experiência na cela foi horrível. Já falei do cheiro, da comida e tinha outra coisa que me incomodava: o uso da torneira, única fonte de água para beber que tínhamos. Eu tinha nojo daquela torneira porque as pessoas estavam gripadas e, infelizmente, não têm bom senso e ficavam assoando o nariz bem no local em que a gente beberia logo em seguida. Tentava tomar água, mas não conseguia. Então combinei comigo mesma que tomaria só quando a situação ficasse difícil, ou seja, tomava água a cada três dias. E, ainda assim, só depois de desinfetar a torneira muito bem com sabão em pó e água sanitária. Tomava água com as minhas mãos, completamente limpas, e comia o que era possível ingerir com a mão. As outras detentas diziam que eu iria desidratar. O pior é que eu nem conseguia ir ao banheiro por conta de beber pouco. Mas eu não conseguia: era a única torneira para todas as detentas, usada para escovar os dentes, lavar rostos es mãos, ali assoavam o nariz, enfim, ela servia para tudo. E eu sentia nojo. 

Soube que um dos vasos sanitários entupiu e uma das patriotas teve que forrar a mão com saco plástico e fazer pressão. Por sorte não vi isso, só me contaram, pois foi antes de chegar nessa ala. Que situação! O banheiro era imundo, tinha um fedor de esgoto. A maior parte do tempo que fiquei no Colmeia foi deitada na cama, não ficava andando, isso porque era gente demais dentro daquela ala, com hábitos diferentes e eu estava sentindo muita dificuldade para me adaptar.

Era muito triste conhecer a realidade das patriotas presas. Tinha uma mulher com câncer, uma outra era esquizofrênica e ela batia a cabeça na parede. Muitas estavam sem as suas medicações continuadas e quando falávamos sobre os medicamentos continuados para as carcereiras, elas diziam: “O que vocês estavam fazendo na manifestação, se você é diabética ou tem outra doença?”. Era muito desumano, até porque os remédios estavam nas bolsas delas, mas percebemos que os procedimentos dos presídios são todos muito demorados.

Na verdade, era pior que desumano. Duas vezes por dia tinha o “Confere” das presas. Todas nós tínhamos que assumir a postura que a carcereira queria e se uma de nós tivesse deitada e desfalecida, tínhamos que tirá-la da cama e carregá-la para a vistoria. Arrastávamos a doente para o Confere. Elas não querem saber nada sobre você, estão ali só para cumprir o protocolo, mas não sei se no protocolo estão estabelecidas as inúmeras agressões verbais que sofremos, nem a pressão psicológica. Vivemos em tortura dentro do Colmeia.


UM ADVOGADO SUMIU, OUTRO SURGIU PEDINDO R$ 22 MIL

Lá no começo contei que paguei R$ 400,00 para um advogado no Campo de Concentração e ele sumiu. Contei que foi a delegada que arranjou ele para mim quando exigi um defensor público. Sei que naquele momento eu criei um problema para ela, porque eu trabalhei seis anos como auxiliar da imigração e sei sobre os nossos direitos. Sei também que o flagrante delito estava incorreto, porque eu e os outros estávamos no QG no dia 9 de janeiro e não poderíamos ter sofrido aquela prisão. Ela sabia estar errada, que eu não era obrigada a assinar aquele papel assumindo uma culpa que eu não tinha. Naquele momento veio na minha cabeça “esses delegados e policiais federais não valem nada, estão combinados com esses advogados para nos extorquir”. Tanto foi verdade que ele sumiu. 

Lá no Ginásio tinha muitos advogados. Um dentista pagou R$ 8.000,00 na esperança de sair de lá e eu perguntei por que ele tinha pagado tão caro. A resposta foi que tinha condições de pagar. Eram bobos desesperados que pagavam o que pediam, enquanto os advogados nadavam de braçada. E eu creio que eram os delegados que chamavam os advogados, por interesse próprio. Colocaram eles lá dentro. É uma suspeita.

Cheguei dia 20 de janeiro em casa. Paguei por um advogado que sumiu. Fiquei no presídio uma semana incomunicável com o mundo de fora porque não tinha advogado. Ninguém me procurava. E eu só pensava naqueles valores absurdos pedidos pelos advogados no Campo de Concentração: R$, 12.000,00, R$ 25.000,00 e R$ 30.000,00. 

As outras detentas iam para o parlatório e eu nada. Um dia fui chamada, mas não estava muito confiante, mas eu ouvi uma voz interior me dizendo assim: “Você precisa escutar”. Fui ao parlatório, deitei a cabeça na mesa e fiquei revirando os olhos em deboche, enquanto esperava a pessoa que queria falar comigo.  Eu reconheço ser terrível em alguns momentos, mas é que eu ficava imaginando que viria um advogado querendo tirar de mim um dinheiro que eu não teria para pagar. 

Foi então que vi uma senhora vindo em minha direção com os braços abertos. Ela disse: “eu sou a mãe do seu amigo que foi preso contigo. Ela me abraçou e na hora eu coloquei toda a minha culpa para fora, disse que o filho dela foi preso por minha causa, porque eu não atendi o pedido dele para irmos direto da Praça dos Três Poderes para a rodoviária. Disse a ela que ele estava preso no Papuda por minha culpa. Eu estava com tudo aquilo trancado no meu coração. Então ela disse: “Filha, de jeito algum você tem culpa. Se você confia em Deus, reza. Essa é uma prisão política e nem mesmo o melhor advogado do Brasil consegue resolver esse problema. Me contou que procurou advogados no nosso estado para tirar de lá e os valores cobrados era de R$ 20.000,00 cada um. Me disse que era advogada, embora não criminalista, e que ela estava acompanhando os movimentos do ministro Alexandre de Moraes. Acreditava que em pouco tempo liberaria mais patriotas, porque o sistema penal de Brasília não suportava a demanda. Falou que as liberações não seguiam qualquer critério, então nenhum advogado poderia seguir a lógica do Direito Penal, se despediu e foi embora.

Três dias depois, me chamaram para ir ao parlatório e novamente fiquei sem vontade de ir. Veio a voz novamente: “Escuta. Você precisa escutar”. Era um advogado de Brasília, que minha irmã descobriu no Instagram e que cobrou dela R$ 1.700,00 só para me visitar no Colmeia. Ele queria que eu comprasse o kit presidiária, mas expliquei que eu não precisava por ter recebido produtos das colegas de cela. Custava R$ 350,00 e eu não queria chatear a minha irmã com pedido de dinheiro. Então falei para ele, por favor peça para a minha irmã entrar em contato com a mãe de meu amigo preso. Eu não tenho o telefone, mas ela descobrirá. Ele ficou ali insistindo para que eu assinasse a procuração, que eu pagasse mais um valor, R$ 22.000,00 iniciais para acompanhar o meu caso e quando surgisse a acusação contra mim ele faria a defesa. Enquanto ele falava tudo aquilo eu lembrei a conversa que tive três dias antes com a mãe do meu amigo: “Nem o melhor advogado do Brasil consegue resolver esse problema”. Não assinei nada e me despedi. 

No mesmo dia à tarde, me chamaram novamente para o parlatório. Era outro advogado, ele me procurou por frequentar o QG da nossa cidade e falou o nome da minha irmã, me disse que eu não estava mais sozinha, que não iria deixar os patriotas da cidade dele na mão e que faria o meu atendimento pró bono. Foi iniciativa dele. Me disse que naquele momento não havia nada para fazer além de nos apegar em Deus. Eu me senti muito tranquila a partir da chegada desse advogado na minha vida. Ele foi me ver mais vezes no presídio depois disso. Falei para ele trazer apenas biscoito de maizena, porque os salgados não chegavam até nós, pois alguém do presídio estava surrupiando. Para ter uma ideia de como as coisas acontecem lá dentro, só no dia que fui para casa recebi do presídio o kit presa que alguém tinha comprado para mim. Até hoje esse advogado é um anjo da guarda para mim.


TENHO VERGONHA, NÃO ME OLHO DO ESPELHO

Eu sinto dificuldade para me olhar no espelho e de sentir o orgulho que sentia de mim mesma, por ser uma mulher batalhadora. A lembrança do presídio volta, recordo que sofri todo tipo de humilhações. Não tínhamos o direito de olhar para as carcereiras, nossas cabeças deveriam permanecer abaixadas diante delas. Recordo aquela gente toda chorando, sem culpa. Daquelas presidiárias que faziam questão de dizer que éramos iguais a elas, pessoas ignorantes que não sabem a diferença entre uma pessoa que realmente cometeu crime de um preso político. Talvez seja demais pedir que elas entendam que pagam pelos seus crimes, mas que as patriotas não fizeram nada, nem mereciam estar presas.

Quando vinham entregar a comida, eu ficava na minha cama para não ver essas presidiárias, pois ouvi elas dizendo: “Vocês reclamam da comida, mas nós estamos aqui há anos comendo isso”. Eram mulheres presas por latrocínio e outros tantos crimes horríveis e eram pessoas más. As patriotas podiam estar deitadas na cama, passando mal, mas para elas não interessava, não havia sentimento nelas. Ver isso machuca muito! Gritavam o tempo todo com a gente, o meu nome lindo foi substituído por elas por “Detenta”. Mas isso tudo ficou para trás. Hoje tenho uma tornozeleira que limita minha vida, mas estou com o meu filho e recomeçando uma nova vida profissional. 


Hospital Moinhos de Vento promove bate papo para esclarecer dúvidas de gestantes

 Hospital Moinhos de Vento promove bate papo para esclarecer dúvidas de gestantes

Gravidez, amamentação e puerpério estão entre os tópicos de discussão do evento

Com o objetivo de esclarecer dúvidas sobre o pré-natal, trabalho de parto, nascimento, pós-parto, aleitamento materno e cuidados com o recém-nascido, o Hospital Moinhos de Vento promove, na próxima terça-feira (11), um bate papo com gestantes. As profissionais Andreia Amorim, coordenadora assistencial do Hospital Moinhos de Vento, Ediane Souza, enfermeira supervisora do Centro Obstétrico e Maternidade do Moinhos, e Tanise Villa, enfermeira obstetra da instituição, conduzirão uma conversa com os participantes, contemplando importantes informações para esse momento especial na vida das famílias.

Cuidados com a saúde durante a gravidez e as principais alterações hormonais que influenciam o corpo e a mente da mulher serão alguns dos tópicos abordados. Além disso, dúvidas sobre o momento do parto, cuidados com a saúde do recém-nascido e na recuperação da puérpera, e o planejamento e organização para a chegada do bebê também serão debatidos.

Para a coordenadora assistencial do Moinhos, essas conversas com especialistas são essenciais para que as futuras mamães e seus familiares estejam mais seguros na chegada do bebê. “A gestação é um período muito especial na vida da mulher. A responsabilidade por gerar uma vida, cuidar e nutrir gera dúvidas e ansiedade. E, nesses bate-papos, conseguimos compartilhar informações confiáveis visto que atualmente há infinitas fontes disponíveis, ressalta Andreia.

Além do bate-papo, a Maternidade Moinhos de Vento também oferece o curso de gestante, uma capacitação de 12 horas oferecida de forma on-line, com especialistas renomados da área. Para o bate papo com gestantes, serão oferecidas 15 vagas gratuitas para mulheres grávidas e seus acompanhantes. As inscrições podem ser feitas no site. O evento será das 19h30 às 21h, na Sala 3 do Bloco B do Hospital Moinhos de Vento, com acesso pela Rua Tiradentes, 333.

TSE poderá ousar, amanhã, cassando os direitos políticos de Bolsonaro

O TSE queria julgar a ação no dia 4, terça-feira, mas adiou em função da Páscoa. Poderá fazer isto no dia 11, amanhã. O relator é Benedito Gonçalveds. O presidente do TSE é Alexandre de Moraes.

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, que deixou a magistratura em 2021, disse na Jovem Pan, neste final de semana, que Jair Bolsonaro não deveria se tornar inelegível na ação que trata do encontro do ex-presidente com embaixadores estrangeiros:

- É pouco, é muito pouco, sob a minha ótica, para chegar a esse ato extremo, que é o ato da inelegibilidade. Ele teve uma reunião com os embaixadores e atuou como presidente da República utilizando o direito de expressão.

Há 16 ações contra Bolsonaro no Tribunal Superior Eleitoral, incluindo uma que trata do encontro que ele teve com embaixadores estrangeiros em julho do ano passado. Na ocasião, o então presidente fez ataques ao processo eleitoral em curso.

O PDT protocolou a Aije contra Jair Bolsonaro e Braga Netto por suposta prática de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, em razão da realização de evento com a participação de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada em julho de 2022.

Naquela reunião, transmitida pela TV Brasil e por diversos canais nas redes sociais dos políticos, o presidente realizou críticas ao sistema eleitoral e a autoridades do Poder Judiciário.

Contra a ação, a defesa dos candidatos questionou a competência da Justiça Eleitoral para julgar o caso, uma vez que, segundo eles, o evento com os embaixadores não teve caráter eleitoral.

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Ainda que estejamos submetidos a um estado de exceção ampliado, embora ainda náo a uma ditadura nos seus termos mais  conhecidos, cassar os direitos políticos de Bolsonaro significa impedi-lo até mesmo de concorrer novamente em 2026. 

É pisar fora demais das 4 linhas.

Hoje existe uma correlação de forças bem diferentes no Legislativo e o poder de fogo da oposição é muito maior do que era – capaz de dar respotas duras e imediatas no caso de uma provocação política do tamanho da decretação da inelegibilidade de Bolsonaro, o que significaria eliminar o presidente da vida pública brasileira.

A oposição das ruas está submetida e subjugada transitoriamente, mas ela permanece viva, vigilante e ativa nas redes sociais, apostando suas fichas, neste novo momentum político, na sua representação parlamentar, que assumiu a liderança no bom combate ao Eixo do Mal.


Estadão diz que governo Lula da Silva envelheceu precocemente

 O jornal O Estado de S. Paulo, que perseguiu o governo Bolsonaro durante quatro anos e conseguiu emplacar Lula da Silva, já se apressa a demonizar o governo lulopetista. Segundo o editorial, “movido por vingança”, o governo Lula avalizou o desmonte do Marco do Saneamento, para favorecer estatais falidas e incompetentes em detrimento do bem-estar dos pobres; avançou sobre a Lei das Estatais, criada justamente para estancar a corrupção nessas empresas, grande marca dos governos petistas; e mandou parar a reforma do ensino médio, para satisfazer sindicatos em prejuízo dos estudantes, aflitos com um futuro incerto

O jornalão criticou o governoLula nesta segunda-feira, 10. Em um editorial sobre os 100 dias no Palácio do Planalto, o petista é acusado de promover retrocessos na economia, ao desfazer medidas de antecessores, e seu governo já é visto pelo jornal com “sinais de decrepitude precoce”:

- O governo dá ares de envelhecimento acelerado quando parece mais preocupado em criar fatos que lhe garantam vantagens eleitorais, como se estivéssemos às portas da eleição presidencial de 2026, e não em tomar as decisões duras e impopulares que qualquer governo responsável toma quando ainda está embalado pela legitimidade das urnas — ainda mais diante da perspectiva de enfrentar um Congresso crescentemente hostil, em que a base governista aparenta ser frágil e pouco confiável.

Adiante, o jornal afirma que o governo Lula poderia ser “efetivamente melhor, se a disposição de construir fosse tão grande quanto a de desmontar o que foi feito no passado recente”.

100 dias do governo Leite

  O governador Eduardo Leite convocou coletiva de imprensa, esta tarde, para falar sobre os seus desastrosos 100 dias de governo.


O jornal Correio do Povo de hoje publica análises sobre o caso.


Numa das entrevistas, fala a cientista social e política Elis Radmann, diretora do Instituto Pesquisas de Opinião (IPO), que analisou, a pedido do Correio do Povo, as causas do ritmo lento dos 100 dias do governo estadual e projetou movimentos futuros. 


- Este semestre será derradeiro para o governador Eduardo Leite (PSDB). Vai precisar mostrar a que veio. Vai ter que apresentar um plano efetivo e concreto para os grandes problemas do Estado. 


 Segundo a diretora do IPO, não existe uma oposição organizada que absorva este grupo em dúvida, posicionado no chamado centro político. “Há o bloco de esquerda, mas os parlamentares que estão no ‘limbo’ não são de esquerda. E há o bloco derrotado no segundo turno da eleição estadual, de direita, que não tem voz ativa para comandá-los.”