Artigo, Guilherme Baumhardt, Correio do Povo - Que tal morar na Nicarágua?

O noticiário da sexta-feira virou suas atenções para o próprio umbigo. E a imprensa virou notícia dela mesma. A CNN – que está longe de ser uma emissora “de direita” – anunciou que teve o seu sinal cortado na noite da última quinta-feira, na Nicarágua. O canal está há 25 anos no país da América Central.


O presidente da nação é Daniel Ortega. No início do ano ele tomou posse para o seu quarto mandato consecutivo, após eleições de fachada. Antes do pleito (ou seria “pleito”), sete potenciais adversários de Ortega foram presos de maneira arbitrária. Claro que, oficialmente, ninguém do governo admite a perseguição. Fato é que observadores internacionais da União Europeia e da Organização dos Estados Americanos foram proibidos de ingressar na Nicarágua para acompanhar a votação. Jornalistas estrangeiros também ficaram de fora.


Após a confirmação de que Daniel Ortega permaneceria no poder, Estados Unidos e outros países reforçaram as sanções econômicas impostas, uma medida que pretende sufocar a ditadura e enfraquecer o regime, mas que tem alcance limitado. A razão é simples: o dinheiro que banca Ortega e seu grupo no poder não é necessariamente legal. No episódio conhecido como WikiLeaks, em que documentos secretos foram trazidos à tona, há registros de correspondências diplomáticas que apontam que o governo de Ortega é financiado pelo narcotráfico. Na primeira passagem do ditador pelo poder, ainda na década de 1980, a Nicarágua deu abrigo a ninguém mais, ninguém menos que Pablo Escobar. Há informações, também, de que o país serve hoje como rota para o tráfico internacional de drogas, especialmente cocaína.


Além da censura à imprensa e do ataque à liberdade de expressão, com o corte do sinal da CNN, há uma onda de repressão religiosa no país. Padres já foram presos e igrejas incendiadas. A polícia (fiel a Ortega) já proibiu procissões e missas em uma clara demonstração de cerceamento à liberdade.


Daniel Ortega tem um entusiasta e ferrenho defensor no Brasil. Ele se chama Luiz Inácio Lula da Silva e concorre mais uma vez à Presidência da República. “Temos que defender a autodeterminação dos povos. Sabe, eu não posso ficar torcendo. Por que que a Angela Merkel pode ficar 16 anos no poder e Daniel Ortega não?”, disse o ex-condenado brasileiro. Lula sabe que existem diferenças, mas ele acha que você é burro.


Como o respeito ao leitor norteia a coluna, explicamos. As diferenças começam pelo fato de a Alemanha ser verdadeiramente uma democracia, não um simulacro de um sistema em que a vontade da maioria é respeitada. Além disso, na Alemanha há uma Justiça que não serve de suporte ao tirano de plantão. E, para completar, há um Congresso independente. Não se trata de uma representação de fachada que serve aos interesses de um ditadorzinho bigodudo (Ortega).


Lula nunca escondeu que deseja cercear o trabalho da imprensa. Tentou isso quando foi presidente, com a proposta de criação de um conselho federal para regular a profissão de jornalista. As intenções públicas eram cheirosas e perfumadas. Por trás estava a ideia de cassar diplomas pelo crime de opinião. Claro, tudo “democraticamente”, após a análise de conselhos e comitês – sabemos bem que são as figuras que integram tais colegiados. E pasmem: o absurdo encontrava apoio em algumas redações Brasil afora – fica mais fácil de entender o fenômeno depois de uma pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina revelar que 80% dos jornalistas revelarem que são esquerdistas.

Como se não bastasse o apreço ideológico e suporte verbal, os governos petistas – assim como o tráfico de drogas – ajudaram a financiar a ditadura de Ortega. Em 2012, o Parlamento do país aprovou a contratação de um empréstimo do BNDES (brasileiro) superior a 340 milhões de dólares para a construção de uma hidrelétrica. Pelo câmbio atual estamos falando de 1,7 bilhão de reais. Não é pouco dinheiro. A empreitada ficou a cargo da Eletrobras que junto da Queiroz Galvão criou a Centrais Hidrelétricas da Nicarágua. Ou seja: dinheiro meu, seu, nosso ajudando ditadura de país latino-americano. Nenhuma novidade quando falamos de gestões petistas – basta lembrarmos do metrô de Caracas, na Venezuela, do porto de Mariel, em Cuba...


Se você deseja viver em uma Nicarágua é fácil. Basta votar no ex-condenado. Se ele ganhar e você não gostar, só não reclame que foi por falta de aviso.

Nota Pública da Ajuris

A Associação dos Juízes do Estado do Rio Grande do Sul (AJURIS) vem a público repudiar veementemente a forma pela qual empresas do Grupo Record noticiaram a atuação de magistrados no Núcleo de Gestão Estratégica do Sistema Prisional (Nugesp), estrutura em que está concentrada a realização de audiências de custódia na região metropolitana de Porto Alegre.


Fazer eco à afirmação de “juízes alinhados à bandidagem”, dizer que decisões comprometem o Poder Judiciário, constituiu gravíssima ofensa à magistratura, servindo a interesses duvidosos de quem propõe desprestigiar instituição essencial no Estado Democrático de Direito.


Ataca magistrados, expondo-os à execração pública e ao espetáculo do tribunal midiático, sem compreender as decisões que restabeleceram a liberdade de cidadãos presos em flagrante e esquecendo das garantias constitucionais franqueadas aos acusados em geral.


É dever de todos cumprir a Constituição, as leis internas do país e os tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário. Isto vale para imprensa, vale também para as polícias e seus membros. Quando estes não as observam, seus atos podem ser anulados por quem detém competência para o fazer, o Judiciário, autorizando absolvições e a soltura de encarcerados. Se os magistrados se omitissem na interdição e controle de procedimentos incorretos, a eles, inclusive, poderia ser imputada a prática de abuso de autoridade.


Nesse sentido, a AJURIS entende como fundamental a aprovação da legislação que regulamentará o uso de câmeras nos uniformes dos policiais militares, permitindo o registro da ação dos contingentes para que não se crie dúvidas em relação ao respeito dos direitos do cidadão abordado na rua ou em seu lar durante uma operação. 


Ainda, impende ser agudamente repelida a leviana e repulsiva assertiva de vinculação político-partidária da AJURIS e de juízes.


Repudia-se profundamente o tom e o conteúdo das manifestações, cabendo prospectar as razões de engajamento jornalístico não alinhado no evento às melhores tradições da imprensa gaúcha.


Cláudio Martinewski

Presidente da AJURIS