As redes sociais e o pós-Dilma

1. Há um consenso que a mobilização e a legitimação do processo de impeachment de Dilma se construiu pelas redes sociais e com elas pela opinião pública multiplicada. Essa mobilização -nesta etapa virtual- permanecerá até o impeachment de Dilma.
          
2. E depois? Como se sabe, as redes sociais constroem uma democracia direta do não. As redes sociais são horizontais e desierarquizadas. Empoderam os indivíduos e não as organizações, sejam associações, sindicatos ou partidos.
          
3. Com essa heterogeneidade e pluralidade, sua energia, sua força e seu poder de mobilização se expressam basicamente pela reação contra políticas, contra fatos, contra pessoas, em especial lideranças, que por esta condição estão muito mais expostas e são muito mais visíveis.
           
4. Por estas razões constituintes o que constrói grandes consensos através das redes sociais é o NÃO, ou seja, a oposição a algum fato, medida, governo associação ou personagem.
            
5. A enorme impopularidade de Dilma, acompanhada de uma crise múltipla e inusitada -econômica, política, administrativa, moral e social- desembocou naturalmente num NÃO unânime. Daí as redes sociais mobilizarem este consenso e levarem multidões às ruas foi um clique nas redes e a marcação de local e data.
             
6. No momento da votação do impeachment as redes sociais exultarão com sua inquestionável vitória. Mas a vida continua. Os que imaginam que isso significará apoio ao governo Temer enganam-se redondamente. Não é da natureza das redes sociais apoiarem qualquer governo. Não é da natureza das redes sociais mobilizarem opinião pública em torno de qualquer SIM.
            
7. Haverá um interregno, como um período de carência em que as críticas passarão a rodar nas redes sociais, até que se construa consensos em torno de pontos críticos mobilizadores.
           

8. Esse período de carência será único até o final do governo Temer. E, portanto, deve ser muito bem aproveitado. Incluindo as eleições, as festas e o carnaval, as redes sociais voltarão em março. Com os temas desdobráveis da crise que o país atravessa.

BOLSONARO, ROSÁRIO, AÉCIO E JANDIRA – O RETRATO DO BRASIL

BOLSONARO, ROSÁRIO, AÉCIO E JANDIRA – O RETRATO DO BRASIL

      Todo mundo já escutou a surrada frase “dois pesos e duas medidas”. Ela serve, precipuamente, para justificar a tomada de decisões antagônicas para casos semelhantes.
      Os meus amigos sabem que tenho evitado comentar assuntos relacionados ao judiciário, mas este envolvendo a denúncia do Deputado Bolsonaro por ter “ofendido” a coitadinha da Maria chororô do Rosário passou de todos os limites. Sejam eles (os limites) de bom senso ou legais, relacionados à própria jurisprudência recente da nossa egrégia Corte Suprema de Justiça.
      Mesmo desconhecendo o processo e seus meandros, resta clara a tomada de uma medida politicamente correta (ah, como me faz mal este tipo de hipocrisia contida no “politicamente correto”) na decisão de processar o Deputado Bolsonaro por ter reagido à uma intervenção histérica (DESCULPEM O USO DE REDUNDÂNCIA, POIS TODAS AS INTERVENÇÕES DA REFERIDA DEPUTADA SÃO RECHEADAS DE MUITO HISTERISMO) da sempre “vítima” Maria do Rosário.
      Ora, é fato notório que “cada um colhe o que planta”. Sempre foi assim. Não concordam? Então plantem sementes de pimenta num canteiro e depois tentem colher belas e coloridas rosas no mesmo lugar!
      Pois, a citada deputada (assim mesmo, com “d” minúsculo, do tamanho da sua atuação parlamentar) que adora ofender seus pares, posou de coitadinha – mais uma vez – quando escutou o que não gostou.
      Aliás, é mais velho que as pedras da ponte dos Açorianos, aqui em P. Alegre, o ditado que ensina: “quem fala o que não deve, ouve o que não quer”. Foi o caso da nossa histérica eterna vítima...
      Voltando à decisão, é incompreensível que o mesmo Tribunal exare dois pareceres tão conflitantes em um mesmo dia. Apesar de serem despachos monocráticos (dados isoladamente por um Ministro, e não pelo colegiado), em tese jamais poderiam ser colidentes, sob pena de pisotearmos a jurisprudência.
      No primeiro caso (ou peso e medida) a deputada – olha aí o uso da letra minúscula novamente – Jandira Feghali recebeu um veredito que a isentou, com base na imunidade parlamentar, de injuriar o Senador Aécio Neves, quando o comparou a um traficante de cocaína.
      Já no segundo (o outro peso e a outra medida), o Deputado Bolsonaro teve aceita a denuncia por ter ofendido a deputada Maria do Rosário. E aí não havia a imunidade parlamentar.
      Que curioso o parâmetro utilizado, não acham?
      Chamar alguém de traficante é permitido. Mas dizer que não estupraria alguém, não pode!
      Juro que não consigo entender este tipo de interpretação sobre temas similares. Acho que terei de retornar aos bancos escolares para “reabrir” o entendimento sobre o que é UMA COISA e o que significa esta mesma UMA COISA.
      É evidente que o processo a ser instaurado contra o Deputado Bolsonaro não vai dar em absolutamente nada.
      Ah, vai sim!
      Vai lhe dar mais força e fazer da vítima, a algoz.
      Após a decisão final, qualquer Deputado ou Senador poderá bradar que não estupraria a Maria do Rosário, que será automaticamente inocentado pela jurisprudência.
      O argumento? Simples: “Tu é tão ruim que não merece sequer ser assediada”. É impróprio dizer isso? Com certeza um cavalheiro jamais deveria se referir nestes termos a uma dama. Porém, quando a dama não se comporta como dama, não é a uma senhora que o ofensor se dirige.
      Enfim, durma-se com um barulho destes.
      Se fica difícil para um calejado operador do direito entender esta confusão toda, o que dirá um leigo.
      Os pesos e as medidas não estão se coadunando.
      Será o retrato do Brasil?

      Marcelo Aiquel – advogado (22/06/2016)