Astor Wartchow - Em Defesa das Autoridades


- O autor é advogado no RS.

      Em 2016, escrevi em defesa dos árbitros de futebol criticando os arrogantes comentários dos analistas de arbitragem. Bem acomodados nas cabines, com visão ampliada e apoiados em vários replays, fazem duras críticas aos árbitros, face seus eventuais desacertos.
      Obrigados a decisão imediata, com visão periférica prejudicada, ainda que apoiados pelos árbitros auxiliares, os juízes também são vitimados pela deslealdade e irresponsabilidade dos jogadores, “artistas” da simulação e dissimulação.
      Sem esquecer os dirigentes de clubes que fazem insinuações “criminosas” e cogitam irresponsavelmente possíveis favorecimentos, ignorando que o árbitro tem uma carreira, orgulho pessoal e uma imagem público-familiar a preservar.   
      Agora, façamos uma analogia do futebol com os episódios político-partidários – leia-se Operação Lava-Jato. Seus críticos ironizam e denigrem juízes, procuradores e policiais federais.
      Propositalmente, ignoram que estamos diante do fato mais significativo das últimas décadas. Pela primeira vez se atinge – de modo contundente e sistêmico - o núcleo da corrupção nacional.
      Mais especificamente os setores empresariais e políticos que se valem da fragilidade do nosso sistema partidário e da exagerada intervenção estatal na economia, fato que coloca nas mãos dos governantes enorme poder de decisão e destinação de valores do orçamento nacional.
      Conseqüentemente, líderes político-partidários e empresários “amigos”, à direita e à esquerda do espectro ideológico, têm feito a festa, cuja conta final é o cidadão que paga.
      Entretanto, o que vemos? Um agressivo ataque aos juízes, procuradores e policiais federais, acusando-os de parcialidade e abuso de poder.  Uma audaciosa e desavergonhada defesa de empresários e políticos agora denunciados, acusados e processados.
      Mais: ignoram que são profissionais concursados, com carreiras longas e sólidas, sujeitos às suas corregedorias, tribunais superiores de recursos e processos administrativo-disciplinares.
      Os críticos também esquecem que estes profissionais têm famílias, amigos e colegas a quem também devem respeito e dignificação acerca de suas tarefas e obrigações.
      Confesso minha perplexidade com a dimensão epidêmica da “doença” e a propagação do vírus da desconfiança e desrespeito institucional.