A Polícia Federal descobre um plano da maior organização criminosa brasileira, com tentáculos suficientemente grandes para ser classificada como máfia. O objetivo: capturar, torturar e matar um senador da República – que já foi juiz federal e ministro da Justiça –, sua esposa (que é também deputada federal), além de um promotor de Justiça que investiga o grupo delinquente há anos.
Aos que não acompanharam, eu relembro. O PCC, maior grupo criminoso do Brasil, com ramificações fora do país, deu início a um audacioso plano: sequestrar e assassinar o sujeito que se transformou em uma espécie de bastião do combate à corrupção e ao crime organizado por estas bandas. Havia olheiros e imóveis foram alugados para servir de base aos bandidos que tinham como missão acompanhar a rotina de Sergio Moro e da sua família.
Operação em andamento e o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, se apressou e pulou na frente, condenando aqueles que politizaram o caso. Com todo o respeito que um ministro de Estado merece, mas é inevitável que o caso ganhe contornos políticos. A começar pelo fato de que dois alvos do grupo criminoso são, hoje, políticos. Como se isso não bastasse, sabe-se há bastante tempo que entre as ramificações do PCC estão candidatos para cadeiras de vereador e deputado, nas casas legislativas. E a motivação para os atentados seriam ações tomadas por Moro quando era ministro da Justiça, com objetivo de apertar o cerco contra o crime organizado. Ou seja, política, política e mais política, meu caro Dino.
A deputada federal e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, não ficou muito atrás. Foi para as redes sociais se vangloriar da ação e independência da Polícia Federal. Gleisi talvez não saiba ou foi acometida por uma severa crise de amnésia, mas a PF é um órgão de Estado, não de governo. E é exatamente assim que deve agir, como foi nessa quarta-feira. O confete que Gleisi jogou sobre si própria e sobre o governo que ela integra lembra muito o sujeito que se gaba por ter devolvido ao dono uma carteira encontrada no chão. É obrigação.
O que mais chama a atenção é que estamos tratando o caso, de maneira geral, como se fosse apenas mais um episódio relacionado ao PCC. Estabelecer uma comparação entre o que ocorre atualmente no Brasil com a Colômbia, no final do século passado, é inevitável. Quem assistiu às séries produzidas, relembrando o terror instalado pelos cartéis de drogas e pelo psicopata e traficante Pablo Escobar, tem isso muito vivo na memória. E isso está batendo na nossa porta, apenas com outro nome e outras lideranças.
Não é crime também lembrar uma coincidência de fatos. Na terça-feira, o atual presidente Lula concedeu uma entrevista e admite que alimentava o desejo de vingança contra Sergio Moro. Ele foi além. Disse que tinha a intenção de “ferrar” (a palavra era outra, mas substituo aqui para um termo publicável) com o ex-juiz. Manifestações descabidas e que nem de longe combinam com um presidente da República.
Em qualquer lugar sério do mundo, o plano do PCC para matar Moro, a esposa e o promotor Lincoln Gakiya seria um escândalo. O parlamento reagiria com força e entidades ligadas à magistratura dariam a devida atenção ao episódio. Nos Estados Unidos, não tenho dúvidas de que emissoras de televisão derrubariam a programação normal e passariam a tratar do assunto com a intensidade que ele merece. Mas aqui é Banânia. E em Banânia fica tudo como está, dentro da mais absoluta normalidade banânica, com uma porção de bananas, com cara de banana, sendo os bananas de sempre.