Artigo, Fábio Jacques - Não vá o sapateiro além das chinelas.


Um dia um pintor chamado Apeles resolveu, como era seu costume, expor um quadro na frente de seu atelier para ouvir os comentários dos transeuntes. Neste dia passou um sapateiro e observando o quadro constatou que as chinelas do personagem representado não estavam pintadas corretamente.
O pintor ouviu o comentário do sapateiro e constatou que o mesmo tinha razão. Ato contínuo, corrigiu o defeito da pintura e voltou a expor o quadro no dia seguinte.
Acontece que o mesmo sapateiro passou novamente em frente ao atelier e, vendo que sua crítica havia sido acatada, comentou em voz alta que havia também um erro na pintura do casaco do personagem.
Saindo de trás do quadro, o pintor proferiu a frase lapidar: “Não vá o sapateiro além das chinelas”.
Leio no noticiário de hoje que o general Mourão afirmou que o aborto é uma questão pessoal da mulher. É ela que deve decidir se aborta ou não.
Não quero opinar sobre o aborto, até mesmo porque este não é o propósito deste meu comentário, e sim sobre a autoridade do general Mourão para fazer julgamento sobre tema tão controverso neste momento.
O que sabe Mourão sobre aborto? Que autoridade tem para tratar deste assunto?
Imagino que sobre estratégia de guerra o general possa ser uma autoridade, mas sobre aborto? É pior do que o sapateiro querendo opinar sobre o casaco. Completamente fora do contexto.
Algumas pessoas deste governo, e não só o Mourão, devem passar a noite elucubrando sobre qual besteira irão se pronunciar no dia seguinte.
O que se tem visto e ouvido de disparates proferidos por Mourão, por alguns dos filhos do Bolsonaro, por jovens políticos do PSL e até mesmo por alguns ministros chegam às raias do ridículo.
O que pretendem ganhar com isto? Holofotes? Só pode ser isto. Parece que estão deslumbrados e, por ocuparem posições de destaque no meio governamental, pensam que se transformaram em oráculos, cujos vaticínios todo mundo quer ouvir.
Estão piores do que muitos artistas e jogadores de futebol que não sentem a mínima vergonha em discutir temas políticos sobre os quais não têm o menor conhecimento. É deprimente.
A liberação da posse de armas começou a me preocupar porque estes neófitos do poder poderão fazer na prática o que fazem verbalmente: dar tiro no pé. Nisto são experts.
Tá mais do que na hora do Bolsonaro dar um para-te-quieto nestas bocas incontinentes sob pena de acabar denegrindo de vez a imagem do seu governo, ainda muito promissor, mas já contaminado pelo besteirol que começa a tomar conta da mídia e das redes sociais.
O autor é diretor da FJacques - Gestão através de Ideias Atratoras, Porto Alegre, e autor do livro “Quando a empresa se torna Azul – O poder das grandes Ideias”.

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