Os juros voltaram a subir. Em março, após um longo período de taxas reduzidas a níveis mínimos, houve um primeiro aumento — já uma pancada de 0,75 ponto percentual de uma vez, levando a taxa de 2% para 2,75% ao ano. Agora o Banco Central dá um segundo aumento consecutivo: outros 0,75 pp, o que coloca os juros brasileiros a 3,50% anuais.
É um sinal claro de que a inflação voltou a roncar. Os preços, que pouco se mexeram nos últimos dois anos — apesar de surtos localizados neste ou naquele produto — estão de novo numa curva que aponta para cima, e o governo decidiu ir adotando, desde já, o aperto financeiro como resposta à subida dos índices inflacionários.
O Brasil tem uma história de horrores com a inflação — tão ruim, na verdade, que ninguém é mais capaz de apontar com certeza qual foi o momento pior. É compreensível, assim, que as autoridades econômicas fiquem inquietas quando veem os preços darem sinais de aumento constante — mesmo nos modestos patamares de agora. Para um país que já teve mais de 80% de inflação num único mês, março de 1990, o equivalente a quase 5.000% ao ano, os números de hoje são nada.
Só que não são nada; podem ser muito. Inflação começa em 1% ao ano – a partir daí, o programa é livre. De 1% passa-se ao dobro, depois ao triplo, de taxa anual passa-se à taxa mensal, depois à taxa diária, e quando se nota o bicho está fora de controle, como foi durante as décadas de 1980 e 1990, em seus primeiros anos. Foram tempos de desordem.
Os governos montaram sete “planos econômicos” para combater a inflação, todos eles inúteis. Não havia cartão de crédito. Para comprar dólar era preciso pedir licença ao Santo Padre, o Papa, em três vias. À certa altura, um dos presidentes de passagem pelo Palácio do Planalto achou que era uma boa ideia congelar todo o dinheiro que a população tinha na poupança. Nunca a economia do Brasil passou tão mal.
Hoje quem tem 40 anos de idade, completos, não sabe o que é inflação — ainda era criança quando o Plano Real, em 1994, colocou um fim à hiperinflação da era anterior. Passou a vida tendo cartão de crédito e de débito, aumentos só anuais, ou nem isso, juros baixos no crediário. Mas para todos os demais a inflação foi um pesadelo real. É natural que a qualquer sinal de perturbação nos preços as preocupações reapareçam — e façam surgir medidas restritivas e o encarecimento do crédito.
Do jeito que estava — e ainda está — com certeza não dá para ir adiante. Juros de 2% ou 3% ao ano, com a inflação no nível atual, se tornam negativos; qualquer investimento financeiro, ou qualquer poupança, se transforma em prejuízo. A expectativa é de mais um aumento, de novo de 0,75 pp, na próxima reunião do Banco Central para tratar do assunto, em junho. Os dias de dinheiro barato podem estar fazendo a sua despedida.