Mais importante do que a privatização em si seriam os
motivos pelos quais ela seria realizada. Não há qualquer indicativo de que a
eventual venda do Banrisul faça parte de uma reestruturação do Estado ou mesmo
de uma convicção ideológica explicitada na campanha. Só existiria um motivo:
botar dinheiro para dentro do caixa do governo.
Surge, aí, uma segunda questão. Dinheiro para quê? Pagar
contas e salários. Em pouco tempo, o melhor ativo público do Rio Grande do Sul
seria sugado pelo ralo das despesas correntes.
Todo esse debate já nasce meio torto e contaminado por
uma lógica antiga. Ainda discutimos o tamanho do Estado, enquanto o importante
é a sua eficiência. Uma máquina grande, diversificada e mal gerida não pode
funcionar bem. Nesse contexto, vender a parte saudável não parece uma boa
ideia, a não ser que fosse para investir em outra mais relevante e que
funcionaria melhor. Não é o caso.
Defendo a liberdade de empreender e não tenho dúvidas de
que o Estado se mete demais nas nossas vidas. Mas isso não me obriga a colar um
rótulo na testa e defender qualquer venda de patrimônio público. Não faz
sentido privatizar o Banrisul, a não ser pelo legítimo interesse no mercado,
que cumpre seu papel em querer comprar algo que considera bom.
O Banrisul é um instrumento efetivo de desenvolvimento do
Rio Grande do Sul, porque tem seu centro de decisões em Porto Alegre e não na
Avenida Paulista. Não se trata aqui de um devaneio bairrista ou de respingos da
Semana Farroupilha. Nesse mercado totalmente oligopolizado, no qual apenas três
ou quatro bancos mandam na coisa toda, manter uma instituição financeira
saudável e ativa fora desse esquemão é mais do que um ato de resistência. É uma
questão de bom senso.