Polêmica em Cachoeira

Uma polêmica envolvendo a casa onde morou o “embaixador da paz dos Farrapos” Antônio Vicente da Fontoura, localizada em Cachoeira do Sul, na região central do RS, está sendo usada pelo prefeito Sérgio Ghignatti (PDT) para censurar o jornalista Cleiton Santos (foto).

Há meses, ocorre uma disputa envolvendo de um lado, ativistas pela preservação do prédio e, de outro, os proprietários, que querem vender o casarão para uma empreiteira. O objetivo é demolir a construção centenária para erguer um prédio de apartamentos, o que está dividindo o Conselho do Patrimônio Histórico da cidade.

De forma inédita, todos os conselheiros indicados pelo prefeito, na maioria, ocupantes de cargos de confiança, compareceram e venceram por 9 x 7 a votação para a retirada da "Casa de Antônio Vicente" do inventário do patrimônio histórico, abrindo caminho para a demolição. O prefeito ratificou a posição em poucas horas. Depois disso, rejeitou duas manifestações do Ministério Público, uma delas com pareceres de peritos do MP e da Universidade Federal de Santa Maria, para suspender o processo e reinventariar o casarão.

Santos, então, escreveu que estava com uma pulga atrás da orelha com a celeridade do processo e que o prefeito “patrolava” a opinião e pareceres contrários, despertando a ira de Ghignatti, que anunciou que irá recorrer à Justiça. O veterano jornalista afirma que o ato se resume a uma tentativa de cercear o trabalho da imprensa, a liberdade de expressão e de imposição de censura.

Entrevista, Júlio Ribeiro, presidente do Clube de Opinião do RS - A credibilidade do jornalista vale mais do que qualquer patrimônio

O jornalista gaúcho Júlio Ribeiro é presidente do Clube de Opinião e publischer da revista Press/Advertising. Na sua editora, administra também um portal, 5 sites e 9 blogs. Júlio Ribei4ro tem 55 anos, 30 anos de jornalismo e 21 de Press/Advertising.

ENTREVISTA

Na internet, qual a diferença principal entre portais, sites e blogs ?
O portal é um grande guarda-chuva que abriga tudo. No caso do blog, o jornalismo tem formato informativo, mas tem tratamento mais pessoal. Os sites assemelham-se muito ao tom impessoal que caracteriza a chamada mídia tradicional.

A responsabilidade do jornalista é maior ou menor na mídia tradicional e na mídia de internet ?
Eu diria que a informação e a opinião possuem filtros maiores na mídia tradicional, dado seus níveis de interesses econômicos, financeiros, políticos e sociais, obrigando os jornalistas a uma autocensura muito grande.

A na internet, como blogs ?
A responsabilidade é totalmente do blogueiro, pessoal, profissional e patrimonialmente.

O editor de um blog seria, então, mais destemido, mais voluntarioso, capaz de avançar o sinal, já que tudo depende dele ?
Como ? E a credibilidade, onde é que fica ? Sem credibilidade não tem leitor e não tem jornalismo. Ninguém se sustenta 20 anos na internet ou seja em que mídia for, sem isto. Este é o grande patrimônio. Não dá para perder.

Então, tem o que perder ?
Perder credibilidade é pior do que perder o patrimônio, porque isto significa ficar sem leitor, sem fonte e sem trabalho, portanto sem respeitabilidade e sem renda. Isto é um risco enorme para qualquer jornalista, sobretudo para quem exerce atividade solo.

O jornalista de qualquer das mídias tem a obrigação de checar suas fontes, buscar novos ângulos ou novas fontes para confirmar as primeiras ?
Sim, claro, mas nem sempre. Se a fonte é crível o suficiente, é tratar de tocar adiante. Eu, o leitor, qualquer pessoa, precisa identrificar bem a fonte e se ela é crível. Se for, é tocar adiante. Eu mesmo, como jornalista, faço isto. Navego por cinco ou seis blogs diariamente, mas só admito aceitar informações e opiniões dos que considero detentores de credibilidade.

E as fake news ?
Isto sempre existiu. Antigamente, era chamado de jornalismo marrom

Entrevista de Cármen Lúcia

A presidente do STF, ministra Cármen Lúcia, concedeu há instantes entrevista à rádio Gaúcha. Confira a seguir os principais pontos do que ela disse:

Sobre a candidatura do ex-presidente Lula: “A nossa Justiça eleitoral é ágil, ações serão julgadas a tempo, os prazos são menores, o que deverá determinar a definição de cada candidatura. Acho que não haverá pendências até o pleito”.

Sobre a prisão em segunda instância: “O Direito é dinâmico. Em 2009, esta matéria foi levada à análise no plenário. De 2009 a 2016 prevaleceu que somente depois que não cabe nenhum recurso se tem a possiblidade de cumprimento de pena. Em 2016, porém, um caso com repercussão geral mudou esta orientação. Estas e outras matérias poderão voltar a plenário. Isto não acontece somente no Brasil. A Suprema Corte dos EUA também age assim. A reinterpretação é sempre possível e acontece quando há mudança significativa, como alteração de composição do STF, alteração constitucional, etc.”.

Sobre a impressão da população de que somente o juiz Sérgio Moro prende e que no STF, especialmente o ministro Gilmar Mendes, a situação muda: “O STF tem um diferencial. Os ministros recebem todo o tipo de processo, com vários tipos de urgência, que às vezes somam 2,3 mil processos por Ministro, e, o importante: o Supremo julga em última instância, ao contrário de Juiz de 1º grau. No ano passado julgamos 70 mil processos, e a Corte Suprema americana julgou 70 processos”.

Sobre Gilmar Mendes, especificamente: “O ministro pode apenas o que prevê a Constituição. O julgamento do Mensalão mostrou que houve rigor. Ninguém precisa lembrar que o STF precisa cumprir a Constituição”.

Sobre a mudança de prerrogativa de foro: “Haverá diminuição de processos, mas as decisões em 1ª instância podem render novos recursos no STF. É preciso cuidado”.

Sobre os R$ 374 mil ao ano que o STF gastará para a criação de área reservada aos ministros no Aeroporto de Brasília e com auxílio-moradia: “Não falo sobre o auxílio-moradia porque é um tema que está sob judice. Quando ao espaço reservado no aeroporto é para que os magistrados não sejam abordados pelas partes. Desde 2006 os Juízes têm entrada diferente para não serem assediados. O televisionamento provoca a reação das pessoas, o que coloca em risco a integridade dos juízes”.

Privatização da CEEE: uma questão moral

Douglas Sandri, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura de Lajeado (RS)

A rejeição na Assembleia Legislativa de uma proposta que visava encurtar o tempo para a convocação de um plebiscito sobre a privatização de estatais coloca ainda mais em evidência a questão que marcará o debate nestas eleições: o tamanho do Estado que suportamos pagar. Aqui, discorro sobre a privatização da CEEE. A companhia amargou prejuízos de R$ 1,12 bilhão nos últimos três anos e, para manter a concessão, terá que investir R$ 2,6 bi até 2020. Não é novidade que a CEEE presta um péssimo serviço em sua área de 72 municípios, com 4,8 milhões de clientes. Ela é a 29ª de um ranking com as 33 maiores empresas do setor.

A CEEE-D é o braço de distribuição de energia do Grupo CEEE, que tem ainda uma empresa de geração e transmissão (a CEEE-GT). No último balanço, o grupo apresentou uma dívida líquida de R$ 583,4 milhões. Todo esse rombo é pago com o dinheiro dos nossos impostos, e é um atentado com sérias implicações ao futuro do Estado ter que retirar dinheiro de áreas como saúde, segurança e educação para cobrir a conta da ineficiência das estatais. É imperativo privatizar empresas como a CEEE. Só assim, teremos uma melhor prestação de serviços. Pois não se enganem: uma “boa gestão” estatal não resolveria o problema. Mesmo quando administrado por homens honestos, a máquina geradora da ineficiência continuaria lá: é o próprio Estado, que, ao manter companhias sob seu controle, opta por atender a interesses de grupos de pressão em detrimento de toda a população.

Além de atrapalhar o livre mercado, o governo como gestor de empresas desvia sua atenção de onde ela deveria estar. Com um déficit de R$ 6,9 bi no caixa para 2018, já passou da hora de o Rio Grande do Sul rever suas prioridades. A população tem papel fundamental na correção de rumos. Ou modernizamos a gestão pública, para garantir a prestação de serviços em áreas fundamentais, ou continuamos a pagar a conta.