Depoimento - Minha vida em busca de uma vida melhor e o furacão Irma

Faz dois anos que decidi me mudar do Rio de Janeiro para Miami com minha mulher e meus dois filhos, em busca de algo melhor para nossas vidas.
Por ironia, depois de dois anos vivendo na America, recebi o meu Green Card exatamente no dia em que também recebi a notícia de que o furacão Irma, o pai de todos os furacões, também está a caminho.
O governador da Florida, Rick Scott, assim que soube da gravidade do problema, foi para a TV e ordenou que todos no sul da Florida evacuassem suas casas imediatamente, pois as consequências podem ser catastróficas.
Da noite para o dia, como em um piscar de olhos, milhões, literalmente milhões de pessoas, abandonaram suas casas e já estavam nas estradas, subindo ao Norte.
Eu era mais um na multidão, no meio de um enorme congestionamento, e isso me fez lembrar das minhas voltas dos feriados de Búzios, na Região dos Lagos. A única diferença é que, pasmém, aqui na Florida, mesmo em uma situação absolutamente adversa, as pessoas não trafegam pelo acostamento para tirar vantagem e chegar mais rápido ao destino. Todos respeitam as leis de trânsito, mesmo em situações caóticas, emergenciais. Motociclistas loucos também não existem por aqui. É proibido trafegar entre as faixas. Acho que eles nem sabem o que significa isso, podem acreditar.
Quando encontrei um lugar seguro, a primeira coisa que eu fiz foi ligar a TV. Lá estava o Governador novamente falando ao vivo, e eu comecei a ter uma aula de patriotismo, solidariedade, respeito pelo próximo e, acima de tudo, respeito pela vida. A mensagem que mais me tocou foi: “se você não tem como sair de casa, seja por qual motivo for, ligue para o número que você vê no rodapé da imagem, que iremos agora na sua casa te salvar. Ainda temos tempo!”. Isso me arrepiou! Pensei: esse cara é o meu herói!
Lembrei automaticamente das enchentes de Teresópolis, tenho uma conexão com a cidade pois, desde que me entendo por gente, tenho casa lá. Anos após aquela triste tragédia de 2011, descobriu-se que a quadrilha de Cabral desviou parte do dinheiro que deveria ser utilizado nos resgates das vítimas e reconstrução da cidade. Até o prefeito foi preso. Confesso que tive vontade de vomitar ao comparar!
Voltando ao furação, as companhias aéreas americanas, das quais todos sempre reclamam, colocaram vôos extras, durante toda a madrugada, com preço fixo de $98 dólares, para ajudar a escoar o pessoal pelos céus. A Expedia, site de reservas de hotéis, ofereceu tarifas com descontos especiais em lugares seguros. O mesmo fez o Airbnb, site de reservas de casas e apartamentos. Os hotéis, por sua vez, passaram a aceitar mais hóspedes por quarto e também animais de estimação.
As operadoras de telefonia, que normalmente restringem suas redes de wi-fi aos seus clientes, liberaram internet grátis para todos. Onde existir cobertura, existirá wi-fi grátis. Comunicação, ou a falta de, pode salvar uma vida ou causar uma morte nesse tipo de situação. Até o hotel em que estou, acaba de informar que todo o conteúdo de filmes e desenhos, que normalmente é cobrado, será grátis nas próximas 72 horas.
O Google se uniu ao governo, em um esforço sem precedentes, para conseguir localizar e colocar em tempo real nos seus mapas (Google Maps e Waze) as ruas fechadas, bloqueadas e danificadas, após a passagem do Irma.
São muitos os exemplos, que realmente emocionam. Na maioria das vezes coisas simples, mas que trazem o mínimo de conforto nesse momento e esperança de um futuro melhor. Como diz o famoso ditado: depois da tempestade, sempre vem a calmaria."
Carlos Andre Montenegro

08/09/2017

O que ainda causa espanto?

O que ainda causa espanto?
Depoimento de Palocci produziu um estrago definitivo na imagem que é oferecida aos eleitores, a de um partido impoluto e um líder incorruptível

Zuenir Ventura, O Globo

Foi uma semana para desafiar quem achava que já vira de tudo, e para confirmar a tese de que no Brasil não houve surrealismo nem realismo fantástico como movimentos literários porque eles existem na vida real.

Apenas alguns exemplos. Teve o inacreditável vídeo dos R$ 51 milhões contados por máquinas como numa cena na Casa da Moeda. O dinheiro continha as impressões digitais de Geddel Vieira, aquele que há dois anos se indignava na televisão: “Chega. Ninguém aguenta mais. Isso já deixou de ser corrupção, é roubo”.

O candidato ao Prêmio Cara de Pau tinha razão. Como classificou um procurador, ele é “um criminoso em série” .

Teve também o áudio em que o indecoroso Joesley, não satisfeito em fazer intrigas e levantar suspeitas, alegando depois, como defesa, ter sido uma “conversa de bêbados” com Ricardo Saud, também delator, assassina a gramática: “nóis só vai entregar o Judiciário e o Executivo”.

A gravação serviu pelo menos para que o procurador-geral decidisse consertar o inexplicável erro que cometeu no acordo que concedeu tantas regalias indevidas, como imunidade penal, aos delatores da J&F.

A revogação dos benefícios seria feita ontem à tarde, junto com um provável pedido de prisão ao ministro Edson Fachin, relator do caso no STF

Em outro capítulo, igualmente inédito, teve o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, confes sando sua “inimizade capital” pelo colega Gilmar Mendes, que, por sua vez, xingou o procurador-geral de “delinquente” (Mello acrescentou que, se estivessem no século XVIII, os dois partiriam para um duelo de vida ou morte).

Porém, o que mais causou espanto foi o depoimento de Antonio Palocci ao juiz Sergio Moro, em especial o trecho que ele classificou de “pacto de sangue” entre Lula e Emílio Odebrecht, envolvendo um presente pessoal — um sítio (em Atibaia) — palestras a R$ 200 mil, fora impostos, e uma reserva de R$ 300 milhões para atividades políticas nos anos seguintes ao fim do mandato.

Sendo de quem foi, de um ex-homem de confiança dos governos Lula e Dilma, o explosivo depoimento (cuja íntegra não cabe neste espaço) produziu um estrago definitivo na imagem que é oferecida aos eleitores, a de um partido impoluto e um líder incorruptível. Lula se disse decepcionado, e pode-se imaginar o quanto, lembrando o que ele declarou não faz muito tempo: “Palocci é meu amigo, uma das maiores inteligências políticas do país. Ele tá trancafiado e se resolver falar tudo o que sabe pode, sim, prejudicar muita gente. Mas não a mim. Não tenho nenhuma preocupação com delação dele” .


Desta vez não deu para atribuir as denúncias à perseguição política ou à vingança dos “golpistas”. A flecha partiu de dentro, de onde ele menos esperava.

Foi amor sim, amor à primeira consulta

Oliveira:
Foi amor sim, amor à primeira consulta

Por Luis Henrique Correia Lima de Oliveira*

Acompanhei o presidente Lula como médico da sua comitiva durante toda a sua travessia no estado do Ceará. Depois da solicitação na noite anterior, compareci ao quarto do presidente às 8h da manhã acompanhado da médica do MST.

Entrei no quarto e meu coração estava muito acelerado, senti minhas mãos trêmulas e minhas pernas bambas. Olhei pra ele, ele abriu um sorriso, o quarto estava iluminado com a sua presença; sim, ele estava muito feliz com o resultado da caravana até aquele momento, apesar das constantes falhas na voz, ele estava feliz, era visível, era transparente e verdadeiro o que ele sentia.

Sentamos todos numa mesa no meio do quarto, com quatro cadeiras milimetricamente dispostas em volta daquele cômodo. Sem pensar muito no que dizer, eu disse: “Presidente, eu estou em choque, pois eu estou diante da figura histórica mais importante do país”. Ele olhou pra mim, sorriu e disse: “Que nada! Eu sou só um homem do sertão que foi pra São Paulo num pau de arara em busca de um sonho!”.

Após essas breves palavras que tocaram meu coração, a médica que me acompanhava perguntou como ele tinha passado a noite, se a garganta de estava melhor… Após outras breves perguntas sobre a saúde dele, eu iniciei um exame físico: auscultei seu coração, auscultei o seu pulmão, vi sua pressão, sua frequência cardíaca, sua glicemia e sua oxigenação do sangue. Estava tudo incrivelmente dentro dos conformes, apesar dos seus 71 anos. Terminamos a avaliação clínica e ele começou a puxar conversa comigo, perguntou de onde eu era, se eu trabalhava no sistema público ou privado, quantas filhas eu tinha…

E muitas outras perguntas de ordem muito pessoal e a cada pergunta que ele fazia, eu me perguntava por que um homem da sua magnitude estava me fazendo tantas perguntas – esse foi um questionamento que ele me respondeu minutos depois sem que eu perguntasse (ele disse que antes de iniciar uma conversa, ele precisava conhecer a história de vida daquela pessoa pois, numa conversa, ele gostava de ver o interlocutor com os olhos dele!).

Depois de me desarmar por completo e conseguir se conectar com as coisas mais íntimas da minha vida, ele começou a falar de política e da sua forma de ver o mundo e que era necessário promover mudanças muito profundas na nossa sociedade para acabar com síndrome da casa grande e que era necessário um certo tempo até as pessoas mudarem culturalmente e começarem a olhar pro mundo sob uma nova ótica, onde todos servissem ao bem comum, sem individualismos e mesquinharias.

E depois de falar durante quase uma hora, ele nos olha e diz: “bom gente, eu acho que eu já tomei bastante tempo de vocês”. Nos levantamos, eu olhei pra sua mão que ajeitava a barba e sem conter o ímpeto da fala, pego sua mão, digo que era uma honra estar ali naquele momento e dou um beijo na sua mão, prontamente ele puxa a minha cabeça e me dá um beijo no rosto.

Mas antes de nos despedirmos para cair na estrada, eu falo: “Presidente, eu posso tirar uma foto com o senhor? Pode ser naquele quadro com aqueles cactos?”. E ele: “Companheiro, já vi que você não entende de planta! Aquilo é um pé de palma. Vamos tirar a foto”. E tiramos essa foto linda… Sim, foi amor à primeira consulta, foi amor e dava pra ver nos meus olhos! O Lula é um ser humano lindo, carinhoso, atencioso e sobretudo empático! Ele olha pra gente como se estivesse olhando para nossa alma, ele é sincero e verdadeiro nas palavras, por isso, ele comove tanto as multidões. Ele não faz tipo, ele é só um sertanejo que foi do sertão de Pernambuco para São Paulo em busca de um sonho… Ele é só um filho do Brasil e muito provavelmente a nossa última esperança por dias melhores!


*Luis Henrique Correia Lima de Oliveira é médico

Veja diz que três ministros do STJ e Gilmar Mendes são citados

São citados nos diálogos os ministros do STJ Napoleão Maia, Mauro Campbell e João Otávio Noronha, além do próprio Gilmar Mendes. A revista não se reporta aos diálogos de Joesley Batista e Ricardo Saud, envolvendo também o nome da ministra Carmen Lúcia, nos quais Joesley insinua relações sexuais controversas entre ela, Dilma e o ministro Cardozo.

Conforme a publicação, dezenas de documentos e registros de conversas mostram como a advogada Renata, da JBS, teria arquitetado com o diretor jurídico, Francisco Carlos de Assis, decisões jurídicas benéficas à empresa, mediante o pagamento em dinheiro ou tráfico de influência. A mãe de Renata, Maria do Carmo Cardoso, é desembargadora do Tribunal Regional Federal

Os conteúdos foram entregues às autoridades de investigação pelo ex-marido da advogada, Pedro Bettim Jacobi.

Gilmar Mendes aparece em diálogo no qual Renata conta ao marido ter recebido, assim que veio a público a delação da JBS, pedidos de Dalide Corrêa, que já foi diretora do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) e era vista como braço direito do ministro do STF Gilmar Mendes.

A advogada dá a entender que Dalide queria evitar a divulgação de algo supostamente comprometedor para ela e para o ministro.