Enrique Abeyta, Brazil Journal - O que o Elliott não entendeu sobre a AT&T


No início desta semana, o conhecido gestor ativista Elliott Associates anunciou uma posição de US$ 3,2 bilhões na AT&T, a gigante americana de telecomunicações que é dona de três negócios: wireless, TV por assinatura e mídia.
Considerando que o Elliott tem US$ 38 bilhões em ativos sob gestão, esta é uma posição substancial para eles, ainda que seja pouco mais de 1% do valor de mercado da AT&T.
Como acompanho a AT&T há mais de 25 anos – e tenho apostado na queda do papel nos últimos 15 – fiquei bastante intrigado e fui ler a carta do Elliott ao conselho da AT&T.
Entre outras coisas, o Elliott quer que a AT&T considere desinvestimentos, corte custos e faça mudanças no seu management.
Eles devem estar sonhando.
As dez primeiras páginas da carta do Elliott explicam muito bem por que estamos ‘short’ na ação há tanto tempo. Gostei particularmente do gráfico abaixo, que mostra como a AT&T teve um retorno inferior ao S&P 500 em -150% na última década.
Embora não tenha sido possível ganhar dinheiro shorteando a AT&T, o short gerou um ótimo alfa (e, se você ficou shorteando o papel dentro de uma faixa de preços, foi uma porrada.).
A carta lista uma série de problemas, incluindo M&As ruins, falta de inovação, problemas com produtos, defecções no time do management e o simples desempenho ruim em relação aos pares. A AT&T tem a reputação de ter muita gente na área administrativa, de estratégia e lobby, daí que mais de 50 executivos deviam estar lendo a carta na manhã em que foi publicada.
O Elliott merece crédito por uma ótima revisão de POR QUE a empresa teve um desempenho inferior, mas quando se trata de um plano para consertar as coisas... ele não existe.Existe apenas um plano para ter um plano.
Eles realmente dizem algumas coisas que a companhia deveria considerar, como desinvestimentos (já estão fazendo), um melhor gerenciamento de operações (novidades: estou surpreso que o conselho não tenha pressionado por isso), um framework formal de alocação de capital, e um aprimoramento da liderança e do management. Este último é provavelmente o único que achamos realista, mas ele remete aos problemas centrais da AT&T que o Elliott parece sequer entender: todos os negócios da companhia estão num declínio secular.
O x da questão aqui não é o management, mas o negócio. Com o conjunto de ativos que eles têm, literalmente não há avenidas para retornar ao crescimento real.
Um exemplo é a comparação que o Elliott faz entre as margens (mais altas) do negócio de telefonia móvel da Verizon versus as margens da AT&T. O Elliott erra ao não levar em conta que os negócios da Verizon geram US$ 21 bilhões em receita, contra apenas US$ 9 bilhões em receita de serviços nos negócios sem fio da AT&T. Sem mencionar que a Verizon investiu muitos bilhões de dólares a mais que a AT&T nos últimos 15 anos! Não é de surpreender que uma empresa com muito mais investimento e maior escala tenha margens mais altas. Não tenho certeza de como você fecha esse gap rapidamente ou de qualquer forma que seja para ser sincero.
Temos outras discordâncias com a carta, incluindo toda a discussão sobre o valuation. O Elliott argumenta que a ação está barata pelo [critério contábil] US GAAP, mas esta empresa faz mais ajustes do que quase qualquer outra que eu já vi, e acreditamos que seu free cash flow (FCF) é 30% menor, e sua dívida, 30% maior.
E aí voltamos ao ponto: se a empresa pudesse fazer algumas das coisas que o Elliott sugere, você não acha que já teriam feito?
Eles – o management e o conselho – não são burros, e podem contratar as melhoras (e mais caras) mentes estratégicas do mundo. Sabemos que isso pode ou não valer alguma coisa, mas o problema aqui é o negócio subjacente.
Temos uma opinião firme de que a melhor atitude para esta empresa é CORTAR O DIVIDENDO e INVESTIR, como forma de reduzir o declínio e talvez estabilizar seus negócios. AS pessoas continuarão usando smartphones (AT&T Wireless) e assistindo filmes e TV (Warner e HBO), de forma que estes negócios podem até crescer. Mas sem investimento significativo (e, portanto, diluição), eles continuarão encolhendo daqui pra frente.
No entanto, com 43% das ações da AT&T detidas por investidores não institucionais (provavelmente pessoas físicas), achamos que isso (o corte de dividendos para financiar o investimento) nunca acontecerá, pois eles certamente não vão querer diluir os resultados ativamente. Em vez disso, continuam tomando decisões que os diluem passivamente, comprando empresas em declínio.
A melhor notícia para os acionistas é que a companhia já ficou tão grande e endividada que agora não há quase nada que possam comprar para que a música continue tocando.
Na melhor das hipóteses, a AT&T é uma ação que poderemos shortear dentro de um ‘trading range’ pelo resto de nossas carreiras (quem sabe, outros bons 25 anos?) e, na pior das hipóteses, ela é a próxima General Electric, ainda que haja grandes diferenças entre elas. (Dá uma olhada naquele gráfico...).
Escreveremos mais sobre esse assunto nos próximos dias.
Uma última coisa: tenho muita admiração pelas pessoas do Elliott, e elas têm um ótimo histórico. No entanto, isso não significa que eles acertem todas. Vejam o gráfico abaixo, que mostra a mais recente incursão do Elliott na indústria de Telecom: a Telecom Itália.

Alon Feuerwerker- Que anti vai das as cartas em 2022?


A máxima “é a economia, estúpido", universalizada a partir da vitória de Bill Clinton em 1992 contra George Bush Primeiro, deve enfrentar um bom teste ano que vem. Se as previsões de recessão americana não se confirmarem, Donald Trump vai às urnas surfando crescimento sólido e pleno emprego. Restará aos democratas navegar no antitrumpismo, uma convergência de rejeições variadas, com foco comportamental e ambiental. Que bicho vai dar?

E por aqui? Se a economia continuar mal, o bolsonarismo chega a 2022 capenga. E sua melhor aposta seria o antipetismo. Mas é ingênuo imaginar que o bolsonarismo vai assistir passivamente à perenização da mediocridade econômica, e caminhar mugindo para o matadouro eleitoral. Se é verdade que Paulo Guedes resta como o último dos ministros ainda com crachá de super, a esta altura o mundo já percebeu: quem acreditou em carta branca caiu no conto do vigário.

O seguro morreu de velho e, na dúvida, o bolsonarismo e o lavajatismo continuam batendo no PT. Mas o presidente parece ter um olho no peixe e outro no gato, também abre fogo regular contra um nascente antibolsonarismo antipetista que lança raízes na direita, no autodeclarado centrismo, e até numa fatia da esquerda, esta em busca da plástica que remova as rugas de quase duas décadas de governos PT, e lhe permita aparecer como novidade.

Não será fácil vertebrar esse antitudo. Em 2018 naufragou, apesar da torcida. Talvez porque sua melhor aposta fosse o PSDB, ele próprio atingido pela marcha do lavajatismo. Mas convém não subestimar. Agora são vários candidatos "contra os extremismos”, desde o ainda tucano João Doria até a franjinha do PT ansiosa por livrar-se da liderança de Lula. Passando por Luciano Huck e por um Ciro Gomes cada vez mais disposto a bater nos outrora aliados.

Diz a sabedoria política: mais que para eleger alguém, a pessoa sai de casa no dia da eleição principalmente para derrotar alguém. Principalmente num segundo turno. Daí a importância de monitorar em tempo real a temperatura dos vários anti. Dois parâmetros são úteis aqui: a taxa de rejeição de cada nome/partido e as simulações de segundo turno. É um erro achar que a distância das eleições diminui a importância dessa medição. É o contrário.

Que anti será hegemônico daqui a três anos? O vacilo na medição dessa variável costuma ser fatal. Ano passado, a campanha de Fernando Haddad parece ter acreditado por um momento que a ida de Bolsonaro ao segundo turno desencadearia a aglutinação de um amplo movimento democrático antibolsonarista. Não rolou. O antipetismo mostrou-se bem mais forte. Pelo menos, Haddad teve um final digno. Não foi o caso do massacrado centrismo antiextremista.

Registre-se que na história do Brasil frentes da esquerda com os liberais só existiram com sucesso quando os primeiros aceitaram a liderança dos segundos. #ficaadica

É corajoso, e curioso, que as mais animadas articulações políticas opositoras apostem exatamente no que deu errado na eleição. Na esquerda, a frente ampla não programática. Na direita e no autonomeado centro, a advertência contra o risco de supostos extremismos. Talvez essa coragem se pague, mas por enquanto é visível a dificuldade de os atores concordarem em qualquer coisa que não seja a vontade de chegar ao poder só surfando na rejeição alheia.

Mas, se isso deu certo para o presidente por que não daria certo contra ele? Aliás, o fato mais vistoso da conjuntura é a agitação dos que apoiaram Bolsonaro contra o PT e agora conspiram a céu aberto para tentar se livrar dele. Exibem músculos na opinião pública, mas falta-lhes rua. Quem poderia fornecer? A esquerda. Mas esta não parece especialmente motivada, ainda, a injetar o combustível político indispensável aos algozes de tão pouco tempo atrás.

Pode ser também a Lava Jato. Daí as piscadelas cada vez mais explícitas, a pretexto de não deixar morrer a luta contra a corrupção. A dificuldade? A relação íntima do bolsonarismo com o lavajatismo. E como Bolsonaro não nasceu ontem, vetou sem medo de ser feliz um monte de coisas na Lei de Abuso de Autoridade. E seu indicado à Procuradoria Geral da República já estendeu o tapete vermelho à turma de Curitiba, lato sensu.
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Alon Feuerwerker)
alon.feuerwerker@fsb.com.br

Reputação não vem de graça


- Soraia Hanna – mailto:soraia@criterio.com.br
               
O que nos faz ter preferência por uma marca em detrimento de outra? Por que optamos por nos aproximar de algumas pessoas, mantendo apenas uma convivência cordial com as demais? O que faz admirarmos um político e rejeitarmos outro? A resposta mais completa a todas essas perguntas está no capital de maior valor para qualquer profissional, empresa, governo ou instituição: a reputação.
                Muitas vezes confundida com visibilidade, trata-se de um conceito mais amplo e profundo. Diz respeito ao acúmulo de experiências, atitudes, resultados e valores. Não surge a partir de um passo de mágica. Ao contrário: leva-se anos. É uma obra delicada e complexa, que continuamente requer sensibilidade e estratégia. Não há, por exemplo, como descolar o indivíduo real de como ele se comporta no meio digital. Simplesmente não funciona. Nessa construção, é necessário coerência.
                A postura diante da vida e das situações molda nosso caráter e a percepção de como as pessoas nos compreendem. Uma imagem sólida vem de gestos verdadeiros e permanentes. Por outro lado, uma trajetória ilibada pode ser destruída por um único desvio moral. Do mesmo modo, a rede de relacionamentos interfere no caminho pelo qual a reputação percorrerá. Como disse Martin Luther King: “No final, não vamos lembrar da palavra de nossos inimigos, mas do silêncio de nossos amigos”. Em suma, com quem tu andas? Embora clichê, é um dito perfeitamente aplicável ao desafio de gerar e manter uma opinião pública positiva.
Contudo, isoladamente, atitudes e relacionamentos não garantem reputação. É preciso contar uma história. E nesse ponto entram as ferramentas de comunicação, para dar luz ao essencial e fazer com que a narrativa seja bem contada, percebida e valorizada. As pessoas precisam notar missão, propósito e sinceridade. O sucesso obtido a partir desses elementos permite que a boa imagem se transforme em legado – superando a barreira do tempo e perpetuando-se na história.
A maior parte das reputações não são destruídas por adversários, mas simplesmente esquecidas. Quando têm esse desfecho, nos damos conta de que tinham somente exposição, e não legado e perenidade. Faltou algo: ou comunicar, ou fazer, ou simplesmente ser. Porque, no fim das contas, reputação é uma combinação que se encontra no mundo real. Exige cuidado, verdade e muito trabalho. Envolve entregar aquilo que se promete – e, assim, poder olhar nos olhos e dormir o sono dos justos.
Sócia-diretora da Critério – Resultado em Opinião Pública e jornalista