Artigo, Fernanda Barth - Rejeição ao Memorial Prestes é legítima e não se encerrará com a inauguração
Li a matéria "Projeto antigo, polêmica
recente", sobre a inauguração do memorial Prestes, publicado na ZH
(27/10), e teço as seguintes considerações. Chamar de nazifascistas quem
protesta contra o memorial em homenagem ao Luiz Carlos Prestes é piada. Fascista
é quem adora o Estado, quem quer o controle da vida das pessoas, quem quer que
todo mundo pense igual, quem não aceita a diferença e nem o contraditório, como
os comunistas ou os nazistas.
A polêmica é recente porque só recentemente a sociedade
descobriu o que seria aquele equipamento preto e vermelho na beira do rio.
Quando o Memorial Prestes foi votado em 1990, eu tinha 17 anos, e novamente em
2008, a sociedade não teve a oportunidade de se manifestar, pois não houve a
transparência que temos hoje sobre os temas que são postos em pauta. As redes
digitais não estavam aí ainda. A sociedade não foi ouvida em nenhum momento.
Quem protesta contra este Memorial da Vergonha não está
tampouco protestando contra "a primeira obra de Niemeyer" em Porto
Alegre; isto é mais uma tentativa de distorcer os fatos. Estamos contra ter
este memorial claramente ideológico, ornamentado com uma enorme foice e martelo
no teto, como se fosse algo do que se orgulhar, em um dos metros quadrados mais
nobres da capital. É um museu ao herói comunista, símbolo de uma ideologia que
matou mais de 100 milhões de pessoas no mundo. Nos países onde o comunismo
causou verdadeira devastação, o símbolo da foice e do martelo foi abolido e na
Ucrânia, por exemplo, comemoraram este mês o centenário da revolução Russa
derrubando monumentos e não erguendo novos. Vivemos um paradoxo aqui,
celebrando o fracasso e a morte.
Por outro lado, queremos um espaço plural e democrático,
onde toda a história possa ser debatida, onde também possamos mostrar os horrores
cometidos pelo comunismo e os crimes de Prestes. Ou que fosse um espaço em
homenagem A TODAS as vítimas de regimes totalitários no mundo.
Dizer que as pessoas que se manifestaram têm pouco
conhecimento de história ou dizer que só queremos chamar a atenção é mais uma
tentativa de jogar a sociedade no silêncio, através do constrangimento. E é
desconhecer o descontentamento legítimo de grande parcela da população com esta
homenagem imprópria. É legítimo podermos debater a cidade que queremos. E esperamos
que este debate sirva para revermos a forma como os terrenos públicos são
doados e para que fins. Não vamos nos calar. Não somos covardes.
Por fim, querer atribuir a manifestação ao MBL é jogar
uma parcela grande da sociedade para dentro do Movimento que não foi o primeiro
a chamar para as manifestações. Isto demonstra uma incapacidade do jornal e da
própria esquerda em compreender os processos que estão ocorrendo, pois precisam
ter um adversário único. Somos muitos e não cabemos nestes rótulos. Ou a imprensa
tenta entender o que realmente está acontecendo e porque estamos rejeitando
este memorial ou vai ficar em uma bolha, insuficiente para sustentar
comercialmente qualquer grande jornal.