Artigo, Merval Pereira, O Globo - Ventos policiais

Os palanques eleitorais para a eleição presidencial deste ano estão sendo montados aos trancos e barrancos, mais ao sabor dos ventos policiais do que dos políticos. E numa eleição casada, onde estarão em jogo nada menos que sete cargos eletivos – Presidente da República, governadores, dois senadores, deputados estadual, distrital e federal -, quem tiver as melhores alianças partidárias terá o maior tempo de propaganda na televisão, mas com o advento das redes sociais no mercado eleitoral, e o encurtamento da campanha oficial, não é possível garantir que o tempo de televisão seja mais importante.

Até que se prove o contrário, as alianças políticas regionais serão fundamentais para a captação de votos, mais até que o curto espaço que sobrará para a campanha de propaganda oficial de rádio e televisão, que terá a duração de apenas 35 dias, a partir de 31 de agosto.

A Bahia entrou ontem na lista dos estados que serão afetados pelas investigações da Operação Lava Jato, que ao mesmo tempo em que dificultou a campanha regional do PT, atingiu em cheio a opção mais palatável eleitoralmente para substituir Lula como candidato presidencial.

O ex-governador e ex-ministro Jaques Wagner buscava na eleição quase certa para o Senado o foro especial que o protegeria justamente dessa investigação, que já fora arquivada no âmbito da Justiça eleitoral local, normalmente mais exposta à influência do poder político incumbente. Mas era a melhor bala de prata petista para substituir Lula na campanha presidencial, apesar de não querer assumir essa missão.

Mesmo que o enfraquecimento da situação petista tenha beneficiado seu maior adversário político, o prefeito de Salvador ACM Neto do DEM, o governador paulista Geraldo Alckmin, virtual candidato tucano à presidência, não compensa com essa revigorada em fundamental estado nordestino a perda que pode vir a ter com as descobertas sobre o dinheiro guardado no exterior pelo ex-presidente da Dersa paulista Paulo Preto.

O desvendamento da rota dos pagamentos clandestinos para obras viárias dos diversos governos tucanos em São Paulo necessariamente revelará o esquema que vem alimentando as vitórias do PSDB no Estado pelos últimos 20 anos. Mesmo que recursos judiciais consigam retardar o processo ao ponto de os eventuais crimes descobertos prescreverem, politicamente o estrago está feito, e Alckmin fará uma campanha presidencial mais difícil do que normalmente se desenhava.

A busca por palanques regionais fez também com que o governador paulista oferecesse a legenda do PSDB ao ex-prefeito do Rio Eduardo Paes, que por sua vez luta para livrar-se o estigma do PMDB do Rio. Embora até agora nada tenha surgido contra ele nas investigações locais da Lava Jato, a relação política estreita com o ex-governador Sérgio Cabral cobrará seu preço na campanha para o governo do Estado, onde Paes, mesmo assim, aparece como uma força política de peso.

Outro tucano importante na estrutura partidária que se encontra em situação limite é o ex-governador mineiro Aécio Neves, derrubado politicamente por vídeos e áudios que registram negociação em dinheiro vivo com o empresário Joesley Batista.

Mesmo que, como pretende, consiga anular o processo contra ele depois que ficou constatado que o ex-procurador do Ministério Público Marcelo Miller participou do esquema montado para flagrar o presidente Temer e Aécio Neves, os áudios e os vídeos não se apagarão da mente de quem os viu e ouviu.

O PSDB busca reconquistar o poder político em Minas, e a pressão para que Aécio Neves seja candidato a governador está grande, o que demonstra o desespero diante da falta de opção. O senador Antonio Anastasia recusa-se a aceitar a missão de tentar novamente o governo de Minas, e as opções tucanas são raras e arriscadas politicamente, mesmo que o governador petista Fernando Pimentel também esteja às voltas com diversas investigações.


Esses problemas que assolam PT e PSDB, os dois partidos que se acostumaram a dividir o poder político-partidário no país nos últimos 25 anos, mostram bem que eleição teremos dentro de pouco mais de sete meses, sem que se saiba hoje ao certo quais serão os candidatos que sobreviverão.

Artigo, Tito Guarniere - Pérolas jornalísticas

Artigo, Tito Guarniere - Pérolas jornalísticas

Acompanho, com certo método, o que escreve boa parte dos articulistas brasileiros. E todo o santo dia me surpreendo com as pérolas que alguns deles produzem em seus espaços.

Um dos meus favoritos – neste caso para me afastar o mais distante possível dos seus conceitos e cometimentos – é Vladimir Safatle (Folha de São Paulo). Safatle é professor da USP e petista, uma combinação de alta voltagem. Gosto mais quando ele escreve sobre filosofia, porque não me incomodo muito: simplesmente não entendo o que ele quer dizer. Safatle é daqueles que escrevem difícil, enviesado, cheio de empolações, para aparentar profundidade e erudição.

Em artigo recente ele partiu para uma tarefa ousada: defender o populismo. É preciso muito estofo para tal. E disto Safatle não dispõe. Para ele, entre outras virtudes, o populismo expressa a posição política dos que “insistirão na refundação institucional da democracia”. Populismo é “uma forma de integração das massas ao processo político da construção do ‘povo’ como agente” .

Deduz-se, então, que a democracia que aí está não serve, precisa ser refundada. Democracia, então, não é o pacto do povo, decidido em instância legítima, eleita pelo voto popular, deliberando sobre as funções do Estado, os limites do poder, os direitos humanos, individuais e sociais, o sistema tributário. Não é para ser reformada e aprimorada, no tempo histórico, no consenso possível dos concidadãos. Democracia é o que ele acha que é democracia. Ele quer uma democracia de encomenda, só para si, uma democracia para chamar de sua.

Já o venerando Jânio de Freitas está cada vez mais resoluto nos seus equívocos. Também da Folha, em artigo da semana passada, defende duas teorias exóticas. A primeira é a de que, sem Lula, as candidaturas de Jacques Wagner e Fernando Haddad, como alternativas, foram habilmente induzidas ao PT pelo campo conservador. E a outra, em que elogia José Pedro Stédile (MST) e Guilherme Boulos (Movimento dos Sem Teto), e defende que o PT e as esquerdas devam cogitar de tais nomes para disputar a eleição presidencial, se Lula for impedido.

Sempre achei que Jânio, a julgar pelo que costuma escrever, tem um certo enfado de viver no Brasil e de ser brasileiro. Mas um jornalista veterano, membro do Conselho Editorial da Folha, quando sugere Stédile ou Boulos para a presidência é porque não foi vacinado contra a febre amarela.

O caso de Laura Carvalho (FSP) é diferente. Trata-se de um talento precoce – é mais jovem - para escrever bobagens, daquelas que causam rubor na face de quem lê. A análise que ela faz do enredo da escola de samba Paraíso do Tuiuti, no Carnaval do Rio, é uma primorosa antologia de clichês ideológicos, um desfile de conceitos submarxistas, adquiridos na leitura superficial de orelhas de livro. Segundo ela, o enredo da Tuiuti é que vai pautar o debate eleitoral no Brasil. Nada de ficha limpa, Lava Jato, essas ninharias. No texto, usa cinco vezes as expressões “escravidão”, “elite escravagista”, “escravo”. Ou seja, no mundo em que Laura vive, o problema do Brasil é a persistência da escravidão.

titoguarniere@terra.com.br