Este ano completarei 70 anos de idade, o que significa
que resido na cidade de Porto Alegre exatamente 66 anos. Desde os 14 anos de
idade, quando tive meu primeiro emprego na Casa Genta, na Rua do Parque 437 que
acompanho o desenvolvimento, a política e a vida na cidade. Era o tempo dos
bondes.
Existem coisas gravadas na memória. Residia na Vila dos
Comerciários e a prefeitura estava rasgando uma avenida que ligaria a rua Dr.
Carlos Barbosa até o bairro Cristal. Eu tinha 11 anos de idade! Os meninos da
minha idade e eu brincávamos de nos esconder nas tubulações subterrâneas do
esgoto pluvial e também cloacal ainda limpos. Entrávamos por uma tampa de ferro
e saíamos adiante. Era divertido. A prefeitura largou a obra e permitiu que
casebres fossem erguidos no futuro leito da Avenida Cruzeiro do Sul, e a área
se tornou uma grande favela! Hoje, o município não consegue recomeçar uma obra
feita no final da década de 50.
Alguém se lembra disso? Não. Poucos como eu se lembram da
futura avenida sobre a qual depois construíram um posto do INSS logo na entrada
de quem vem pela Carlos Barbosa.
E, ao longo dos anos ouço promessas em tempos de
eleições. Havia planos de viadutos na Zona Norte, junto ao Triângulo, mas,
entrou um novo governo e construiu no local um terminal de ônibus que faz dois
anos foi destelhado por um temporal e nunca restaurado. E aí Fortunati? O
trânsito ali só pra quem conhece a região. E os planos de se fazer elevadas na
Av. Sertório com a Assis Brasil; e a duplicação da Sertório até a Av. Baltazar
de Oliveira Garcia; e o viaduto junto a FIERGS onde o trânsito engarrafa
quilômetros adentro pela Freeway na hora do rush. Promessas e mais promessas!
A propósito, a Av. Sertório entre a Ceará e o Jardim
Lindóia demorou vinte anos para ser concluída! Eu tinha 8 anos de idade e
acompanhava meu pai levando argila na caçamba do caminhão para aterrar o
banhado e quando eu tinha 28 anos de idade, finalmente aquele trecho foi
concluído.
Não fosse o período de intervenção militar (não houve
ditadura e sim intervenção) e não teríamos a Av. Castelo Branco (desculpem-me
os vereadores que mudaram o nome da Avenida; deveriam também tirar o nome de
Júlio de Castilhos de praças e ruas de Porto Alegre porque ele foi o
interventor que esteve por traz da degola na história do RS e um humanista
perigoso e implacável contra os que se lhe opunham). Repito. Não fosse a
intervenção militar não teríamos a ligação via Freeway para o litoral, porque
os ecologistas não permitiriam a construção da rodovia junto as lagoas de
Osório.
E agora virão novas eleições para vereadores e prefeitos.
Votar em vereador para apenas dar nome de rua, títulos honoríficos e proibir o
uso de sal em restaurantes – interferindo na vida pessoal de cada cidadão – é
um fardo que desanima o eleitor sair de casa e comparecer às urnas. Acho que
depois dos 70 nunca mais comparecerei a uma urna para votar!
Finalmente, ao chegar aos setenta anos de idade tenho
saudades de sair à noite pelas ruas da cidade, porque, agora, a qualquer hora
somos atacados na entrada da casa, na esquina, nas ruas por assaltantes que
vivem impunes. Quando os assaltantes são presos sempre existe um delegado
concursado – outra anomalia em nosso sistema de segurança, porque delegado
deveria ser cargo de carreira como nos Estados Unidos – prontos a soltá-los,
por medo ou sei lá o quê.
Arrependo-me de voltar para o Brasil, eu que vivi em San
Francisco na Califórnia de 1969 a 1971. Não tenho mais orgulho da cidade que me
acolheu quando eu tinha quatro anos de idade; não posso subir os montes nem mirar
a cidade de seus altos; não tenho orgulho de viver no RS hoje um dos Estados
mais atrasados da Federação. Resta-me, portanto, recolher-me atrás das grades
de minha casa, porque, para onde fugirei da violência se ela se espalhou como
praga em toda a antiga Província Cisplatina do RS?
Que me responda o prefeito Fortunati, o Governador
Sartori, o Secretário de Segurança, os vereadores e deputados. Afinal, em que
mundo vive essa gente? Certamente não é o mesmo mundo em que eu vivo!
Hoje recomendo aos meus netos que saiam do Brasil de
Dilma, de Cunha, de Temer e Calheiros, que fiquem longe dessa pátria que
amamos, porque aqui não se vislumbra futuro algum!