A consequência de décadas desta hegemonia esquerdista
é aquilo que chamo de espiral da mediocridade.
O ambiente universitário brasileiro, a exemplo do
jornalístico, é um terreno no qual sempre proliferou a mentalidade esquerdista.
O Partido dos Trabalhadores, desde os anos 80, é o preferido de professores e
alunos, que ostentam sua militância abertamente e com orgulho. Na medida em que
o PT foi se tornando um partido de governo, partidos de esquerda mais à margem
do poder, como o PC do B, o PSTU e o PSOL, passaram a dividir com os petistas a
liderança do movimento estudantil, enquanto os sindicatos docentes,
especialmente das universidades públicas, continuaram a ser dominados por
petistas. O PT substituiu o antigo PCB, o Partidão – do qual, em muitos
aspectos, é um esbirro- na preferência da intelligentsia universitária. Assim,
não é novidade que sempre tenha havido, por parte deste setor, uma adesão
confessional aos padrões de pensamento e organização marxistas.
Para todos os efeitos, estar vinculado ao PT ou, em
segundo plano, aos demais partidos da esquerda, aberta ou informalmente,
significa, ainda hoje, possuir uma carta de recomendação ideológica, sem a qual
é muito difícil abrir as portas para a participação em grupos que dominam a
política e movem a burocracia universitária. Disto decorre implantar uma agenda
da qual fazem parte a conhecida ideologia de gênero e a propaganda do gaysismo,
o aquecimeto global, a defesa do desarmamento da população e a manuntenção da
idade de 18 anos para que alguém possa ser responsabilizado penalmente por qualquer
tipo de crime. A credencial esquerdista é responsável pela ocupação de cargos
diretivos na Universidade e pela consequente ascensão na carreira docente, sem
falar na participação assídua em congressos nacionais e internacionais e,
principalmente, nas agências estatais de fomento à pesquisa, que controlam a
distribuição de bolsas de estudo para alunos e verbas polpudas para professores
. Para aqueles que não se ajustam ao perfil ideológico dominante, que são
independentes ou não-alinhados ao ideário hegemônico, resta resignarem-se com
um autêntico exercício de sobrevivência profissional, em um contexto que, não
raras vezes, torna-se, até mesmo, hostil.
A contraface deste esquerdismo que sequestrou a
Universidade brasileira é a inexistência de setores articulados mais
identificados com referências teóricas de direita. Entenda-se por direita,
aqui, não o espantalho reacionário que os petistas, ou a esquerda brasileira
como um todo, fabricou para justificar sua doutrinação. A direita que importa é
aquela dos conservadores e liberais, que defende os valores da democracia
republicana, da economia de mercado, da tradição e costumes judaico-cristãos e
da liberdade individual. Esta está praticamente extinta na Universidade, muito
por culpa de sua própria falta de combatividade e de sua aceitação pacífica do
expurgo ideológico a que foi submetida pela esquerda.
Externamente, apenas para fins de propaganda, os
esquerdistas que dominam os campi sustentam que são democratas e que
há, na universidade, um fluxo de pensamento livre. Não há. Este fluxo é
condicionado pela aceitação, por parte da maioria esmagadora de professores e
estudantes, de modo tácito ou explícito, da mentalidade revolucionária marxista
ou paramarxista e de sua superioridade moral. Um professor, na área de
Humanidades, por exemplo, tem muita dificuldade operacional para expor as
ideias políticas de Hume, Burke ou Toqueville, ou a crítica ao socialismo de
Mises e Hayeck, num ambiente no qual Marx , Gramsci, Adorno e Dvorkin são
praticamente vistos como sublimes.
São imperceptíveis, na Universidade brasileira, os
registros do debate e da abertura intelectual. Em seu lugar, há um compadrio
doutrinário e a consequência de décadas desta hegemonia esquerdista é aquilo
que chamo de espiral da mediocridade. Nas salas de aula e nos encontros de
pesquisadores repetem-se à exaustão as fórmulas surradas de pensadores
marxistas. Há muito espaço, também, para anarcomarxistas, como Foucault, ou
para pós-modernistas como Derrida, além de uma penca de autores de expressão
menor que seguem estas linhas. Tudo produzido de maneira repetitiva para
consumo da clientela acadêmica. Não há diferença entre formação e doutrinação .
A reflexão dá lugar ao automatismo e os modos de expressão, na mesma medida em
que a capacidade crítica é substituída por uma adesão do sujeito a uma
dogmática já existente, limitam-se a propagar e a produzir cópias caricatas dos
modelos que habitam o Olimpo das ideias revolucionárias e desconstrutivistas.
É a este quadro, em linhas gerais, que está reduzida a
intelectualidade na Universidade brasileira. É de se reconhecer, no entanto,
que está surgindo, devido à degradação política do PT, uma demanda por mais
inteligência na sociedade. Esta demanda reflete-se no meio acadêmico, onde a
situação confortável da esquerda passou a sofrer alguma contestação, mesmo que
ainda incipiente. Uma das defesas do esquerdismo, digamos, corporativo da
Universidade, é fazer com que suas práticas e hábitos permaneçam opacas para
essa mesma sociedade que a sustenta. A vida intelectual e a burocracia
universitárias ainda constituem uma caixa-preta para o cidadão comum. É preciso
urgentemente devassá-la.
Luis Milman é professor de filosofia e jornalista.