Os mixomicetos tropicais
A mãe natureza nos regala com um exemplo clássico de como funcionam os pseudo partidos políticos nestas paragens tupiniquins que nem mesmo Deus continua levando muito a sério: os mixomicetos.
Mixomicetos são criaturas horrorosas que, a exemplo dos nossos execráveis partidos políticos, sofrem de uma espantosa crise de identidade: não sabem se são plantas ou se são animais.
Numa determinada etapa de suas vidas, os mixomicetos são seres unicelulares independentes que vagam pela natureza se alimentando de materiais em decomposição. Quando a fome aperta, unem-se formando um novo ser multicelular que passa a ter vida própria e se movimenta como um protoplasma ou semelhantemente a uma lesma. Este novo ser também se alimenta de sobras da natureza e, quando novamente acaba o alimento, teoricamente morre, porque, na verdade, se transforma em outro ser completamente diferente, ou seja, assume a identidade de um cogumelo. Este cogumelo produz seus esporos que, quando germinam, assumem novamente sua forma de seres ameboides unicelulares e o ciclo se repete indefinidamente.
Sei que a minha explicação sobre mixomicetos é rasa demais para quem entende destas estranhas e obscuras criaturas, mas creio ser suficiente para dar uma razoável ideia ao leigo sobre o assunto.
Nos Estados Unidos existem essencialmente dois grandes partidos políticos: Republicanos e Democratas. No Brasil, incrivelmente, apenas um.
Como o partido brasileiro é subdividido em incontáveis grupelhos unicelulares com nomes diferentes, não sei qual é o seu verdadeiro nome.
Para se ter uma ideia, o protoplasmático partido brasileiro, dependendo do prisma pelo qual é observado, pode ser reconhecido como PT, PSDB, PCdoB, Cidadania, Podemos, PSOL, PCO, PP, PDT, PTB, DEM, PSB, PV, PROS, PRTB, NOVO, REDE ou PSTU para citar apenas algumas denominações com CNPJ partidário próprio, e vários pequenos simulacros como MBL, Livres, RenovaBR, STF, Rede Globo ou Antagonistas entre muitos outros. Faço uma menção especial ao ameboide PSL que até hoje não descobriu se é de esquerda ou de direita.
Se dermos um mergulho em direção ao nosso passado político, creio que emergiremos no partidão do Luís Carlos Prestes, o PCB que até mesmo já foi extinto, mas ressuscitou e posteriormente se camuflou como PFL e agora se diz Cidadania. Aliás, as mudanças de nomes dos partidos políticos no Brasil parecem a velha jogada da mãe que um dia diz que é abobrinha e no outro que é beringela, mas sempre fracassa miseravelmente porque a criança, já na primeira dentada, descobre que aquela comida horrorosa é brócolis.
O partidão, fundado em 1922, pode ser considerado o primeiro partido político da era republicana porque antes dele existiam apenas dois partidos com abrangência nacional: o PRP (Partido Republicano Paulista) e o PRM (Partido Republicano Mineiro), aqueles da política café com leite. Os demais partidos políticos foram surgindo a partir de 1945 com a criação do PTB por Getúlio Vargas, todos com discursos semelhantes e com o mesmo viés esquerdista.
Hoje, frente a um inimigo comum, revela-se a plasmódica identidade ideológica dos grupos sobreviventes, por muitos anos dissimulada: todos são antidireitistas ou, mais especificamente antibolsonaristas.
Nossos ameboides partidos políticos se encontram na fase protoplasmática, ou seja, estão todos se reunindo para formar esta aberração que é o movimento antibolsonarista. Se conseguirem sucesso na empreitada, voltarão, após pilharem o país, a se transformar em cogumelo e, como que por um passe de mágica, reassumirão sua forma unicelular primitiva.
A lesma é o partidão. Os unicelulares são os vários grupelhos que perambulam autonomamente se alimentando vorazmente dos fundos partidário e eleitoral.
Alguém há de dizer que o atual sucessor do partidão, ou seja, o Cidadania, não é um partido de tão grande expressão no cenário político nacional, mas lembro que pouca gente sabia da existência da Loja P2 ou de Licio Gelli até que explodiu o escândalo do Banco do Vaticano sob a direção do arcebispo americano Paul Marcinkus, evento que, segundo David Yallop, foi o estopim para o assassinato do Papa João Paulo I. Nunca se sabe! Pode não ser o Roberto Freire, mas com certeza será o partidão.
Se antes do final de 2022 e através de uma verdadeira reforma partidária, for descoberto um fungicida suficientemente potente para exterminar os esporos do cogumelo partidário atual impedindo sua ressuscitação, talvez consigamos reduzir toda esta diversidade nominal com a mesma identidade ideológica a apenas um partido, seja lá qual venha a ser sua denominação. Se neste meio tempo, for criada uma agremiação verdadeiramente de direita, entraremos em uma nova era com dois grandes partidos com discursos ideológicos antagônicos: um de direita e outro de esquerda, um de situação e outro de oposição como deve ocorrer em qualquer democracia decente. Já vivemos recentemente uma ópera bufa na qual os dois protagonistas, o PT e o PSDB, se odiavam durante o espetáculo, mas tudo não passava de encenação e brincadeirinha para angariar a simpatia da plateia uma vez que sempre se amaram na intimidade.
Se esta mudança não acontecer a tempo, os famélicos e execráveis mixomicetos políticos acabarão por tomar conta de tudo, e nós, seres desprezíveis, viraremos antepasto para estas abomináveis criaturas que mesmo não sabendo se são plantas ou animais, conservam vivo e cada vez mais feroz seu voraz e insaciável apetite. São capazes de devorar tudo a ponto de provocar seu próprio extermínio, abrindo as portas para a conquista deste infeliz e miserável país, pelo totalitarismo de um governo sino mundial.
Fabio Freitas Jacques. Engenheiro e consultor empresarial, Diretor da FJacques – Gestão através de Ideias Atratoras e autor do livro “Quando a empresa se torna azul – o poder das grandes ideias”.