Dia da mentira

 Renato Sant'Ana é Advogado e Psicólogo.

E-mail: sentinela.rs@outlook.com

 Não, não é o 1º de abril: dia da mentira no Brasil é 31 de março. Todos os anos, nessa data, repetem-se mentiras sobre o ocorrido em 1964. E se algum desapetrechado mental acha que vou defender abusos do governo militar, pode tirar o cavalo da chuva. O que vai aqui é a denúncia de mentiras propagadas pela parasitária casta acadêmica e por uma imprensa sem credibilidade (citando só duas grandes usinas de falsificações históricas).

Quando jovem, o jornalista Fernando Gabeira foi um extremista de esquerda e militante do grupo terrorista MR-8. Inclusive, em seu livro "O que é isso, companheiro?", ele relata sua participação no sequestro do embaixador americano Charles Elbrick, em 1969. Só que, na maturidade, Gabeira foi honesto e corajoso declarando aquilo que, para a minoria informada, é óbvio: disse que eles (os militantes de esquerda nos anos 1960-70) não lutavam por democracia; o que eles queriam era implantar uma ditadura comunista no Brasil.

Pode-se discordar de muitas ideias de Fernando Gabeira. Só que, nesse caso (um genuíno exercício de autocrítica), não há como duvidar de sua sinceridade. E ninguém, sendo a um só tempo esclarecido e honesto, dirá que ele (aliás, um homem culto) interpreta erroneamente os fatos.

No entanto, uma das maiores mentiras, repetida todo tempo e com especial ênfase em 31 de março, é que os militantes de esquerda que pegaram em armas nos anos 1960-70 combatiam pela democracia.

E é mentira deslavada dizer que foi em reação ao governo militar que a esquerda pegou em armas, quando já estava armada antes da quartelada do 31 de março, que só ocorreu porque havia vários grupos (nas cidades e no campo) armados e agindo para implantar o totalitarismo no país, uns a serviço da China, outros da União Soviética (muitos treinados em Cuba).

Essa patota tinha um patrono, o colaboracionista Luís Carlos Prestes, que, um dia, teve o peito de dizer: se a União Soviética atacasse o Brasil, ele se juntaria ao Exército Vermelho para combater o nosso exército. O fato ignorado pela extrema imprensa e camuflado no meio universitário é que, seguindo a diretriz internacionalista do socialismo, essa gente - como admitiu o ex-militante Gabeira - "lutava" para tornar o Brasil mero satélite em um conglomerado comunista.

Em 31/03/1964, militares assumiram o controle do país determinados a impedir o golpe de Estado que colaboracionistas pró-Rússia articulavam. O que houve a partir daí foi a repressão estatal à ação dos extremistas. Não há dúvida de que houve crimes praticados por agentes do Estado. Mas por que falar só deles? Por que ocultar que os comunistas praticaram a mais hedionda violência? Acaso existe o "crime do bem"?

Algumas máscaras precisam cair. Desde a década de 1930, todo tipo de crime se praticou em nome do "ideal" comunista. Um dos mais chocantes, ordenado por Luís Carlos Prestes, foi o estrangulamento da adolescente Elvira Cupello Calônio, dita Elza, namorada do secretário-geral do Partido Comunista, dito Miranda. Elza era analfabeta e, provavelmente, deficiente mental. Julgada traidora pela cúpula do PCB, ela "foi estrangulada pelos companheiros com uma cordinha de varal e enterrada dentro de um saco de aniagem no quintal de uma casa erma em Guadalupe", como conta Sérgio Rodrigues no livro "Elza, a garota".

Nos anos 1960-70, em nome da verdade científica do marxismo e suas múltiplas versões, houve sequestro de autoridades; atentados a bomba; assalto a bancos, a casas comerciais e a residências; assassinatos de operários, militares, funcionários de bancos e, claro, dos próprios camaradas (os infames justiçamentos) - os maus também são maus entre si.

Findo o regime militar, todos os que praticaram crimes no período (quer agentes do Estado, quer terroristas) foram anistiados, o que significa que todos os crimes foram esquecidos. Isso permitiu a muitos extremistas chegarem ao poder político. Só que, a partir daí, eles se empenharam naquilo que petistas, na intimidade, chamam de "fazer a revolução por dentro": usar as estruturas do Estado para vinganças e para impor o seu modelo de Estado, isto é, um regime autoritário em que o poder é concentrado e no qual partido, Estado e governo se confundem. Um regime totalitário, que convém só à elite dirigente e associados.

É ilustrativa a farsa da dita Comissão Nacional da Verdade, criada no primeiro mandato de Dilma Rousseff. Ignorando a anistia e seu sentido conciliador, foi instituída para "investigar" violações dos direitos humanos por agentes do Estado, julgando de antemão inocentes aqueles que se armaram sob patrocínio de governos estrangeiros para impor uma ditadura ao Brasil. "Vítima" é uma credencial concedida apenas a quem tem afinidade ideológica. Essa farsa rendeu gordas pensões vitalícias a uns quantos "idealistas" - pensões pagas pelo contribuinte, claro.

A autocrítica de Fernando Gabeira é uma exceção. Em regra, essa gente "não aprende nada e não esquece nada" (vale o clichê). E ninguém faz revolução para ser povo, mas na expectativa de ser elite: todo revolucionário se acha merecedor de um bem remunerado emprego público e de pertencer à elite burocrática.

Só resta explicar aos nossos filhos e netos o porquê de o 31 de março ser o dia da mentira para, quem sabe, eles fazerem um futuro melhor.