Artigo, Cássio Faedo, Alerta Total - A lava Jato e os Intocáveis de Brian de Palma


Os Intocáveis é um filme de 1987, dirigido por Brian De Palma, escrito por David Mamet a partir do livro de Oscar Fraley. O roteiro aborda a Lei Seca nos EUA de 1930 com a consequente proibição de comercialização de bebidas alcoólicas.
No filme, Eliot Ness (Kevin Costner) é um agente federal na cidade de Chicago com a missão de combater a venda ilegal de bebidas. O chefe da Máfia é o notório Al Capone (Robert De Niro).

Para pegar Capone, Eliot Ness monta uma “força tarefa” composta por Jim Malone (Sean Connery), George Stone (Andy Garcia) e Oscar Wallace (Charles Martin Smith).  Com esta formação passam a ser conhecidos como “Os intocáveis”. O filme demonstra de maneira clara a luta do bem contra o mal, e a imagem de heróis incorruptíveis dos agentes torna-se evidente durante o transcorrer do filme.
Porém, a postura ética de Eliot Ness não resiste à realidade do tamanho do problema que tem que enfrentar. Para combater Capone, Eliot Ness teve que necessariamente avançar o sinal. Ness empurra um homem de cima de um prédio, estoura à bala a cabeça de um homem, já morto, conseguindo confissão de um criminoso que assistia a tudo desesperado, aponta arma para um homem desarmado, dentre outras práticas. Joga com as regras do adversário, diríamos.
Façamos um corte para o Brasil da Lava Jato e para suas ações que agora sofrem desgaste após as publicações do site Intercept Br.
O contexto agora é o combate a um sistema digno de um buraco negro que absorve qualquer boa intenção política, utilizando dinheiro do bolso do próprio cidadão brasileiro para a compra de agentes políticos.
Uma mão lava a outra, o empresário beneficia-se de contratos superfaturados e o político eterniza-se no poder. Tudo prático e simples se não ocorresse a ação de agentes de investigação federal e um magistrado linha dura.
O sistema de corrupção demonstrou-se imenso, ramificado e complexo. Talvez complexo demais para os próprios integrantes da operação e a necessidade de angariarem provas robustas, mesmo que essas provas se equiparem a um singular depoimento do contador de Capone no filme.
Nas mãos do STF, um terrível dilema, comparável a antológica cena da escadaria. Inspirada no filme “O Encouraçado Potemkin”, de 1925, a cena se repete em  “Os intocáveis”. Como Eliot Ness, George Stone, enfrentarão gângsteres fortemente armados, salvarão a testemunha chave (o contador),  não atingindo pessoas inocentes do local, e ainda, permitindo que uma desatenta mãe suba lentamente com o carrinho de bebê pela longa escadaria da estação?
Com esta analogia, pergunta-se: Como o STF respeitará o devido processo legal sem matar todo o trabalho realizado?
A legislação brasileira ainda não contempla forças tarefas que investigam cartéis criminosos, contando com a presença de um juiz que de suporte direto na instrução e outro juiz para julgar. Talvez seja importante pensar nisso, traçando limites legais de atuação e preservando, assim, a higidez da decisão do juiz que julgará a causa.
Cabe a maioria expressiva dos juristas, população, meios de comunicação, pensarem com cautela sobre o que deverá ser decidido em breve, e o que se espera do futuro do país.
Não é mais possível, no contexto da ordem democrática, atitudes impensadas, ora jogando um país para um extremo, ora jogando o país para outro.

Dr Cassio Faeddo é Advogado. Mestre em Direitos Fundamentais, MBA em Relações Internacionais - FGV SP. -www.instagram.com/faeddo

Artigo, Lucas MarfquesPor que 9 dias na China me deixaram apavorado...

Artigo, Lucas MarfquesPor que 9 dias na China me deixaram apavorado...


Nas próximas linhas vou compartilhar um pouco do que aprendi em uma viagem de 9 dias que fiz para a China. Ao final dele, vocês vão entender claramente porque fiquei muito assustado com tudo que vi lá. Antes, gostaria de fazer algumas ponderações:

1. A China é gigante! O país tem uma população de quase 1,4 bilhões de pessoas e a terceira maior área territorial do mundo. Logo, eu conheci um pedaço muito pequeno da China e não tenho pretensão nenhuma de tentar explicar a China como um todo. Seria o mesmo que alguém visitar o Roraima ou o Rio Grande do Sul e dizer que entende tudo de Brasil.

2. Eu não fui para China para julgar se o modelo político ou empresarial deles é melhor ou pior, certo ou errado, democrático ou não. Eu fui para tentar entender como eles pensam, como eles trabalham e como funciona o sistema político deles. Tentar ver o mundo pelos olhos deles antes de emitir julgamentos ou reforçar preconceitos.

3. A viagem foi organizada de forma brilhante pela ITS (https://itsrio.org/pt/home/). Na comitiva tinham empreendedores, fundos de investimentos, um deputado, e alguns advogados. O foco foi visitar empresas e alguns fundos de investimento.

Dividi o artigo em partes para ficar mais didático:

China Parte 1
A chegada foi na cidade de Shenzhen:

• Cidade super limpa e arborizada. Todos os ônibus e grande parte dos carros são elétricos

• Muitos prédios gigantescos e com design moderno (inclusive o quarto maior do mundo)

• O Centro Civil (órgão do governo) é gigante e com uma arquitetura maravilhosa. Uma pena que nenhuma foto que tirei consegue da dimensão do que vimos.

• No final do dia tivemos um coquetel com alguns executivos importantes da China. O papo que mais me chamou atenção foi com a diretora da Ant Financial, dona do Alipay. Impressionante como eles estão pelo menos 10 anos na frente de qualquer fintech brasileira. E pelo brilho no olho e convicção dela, provavelmente o mundo inteiro vai comer poeira. Vou escrever sobre o Alipay em outra parte.

• Na hora do almoço fomos em uma praça de alimentação do shopping mais perto. Escolhemos um restaurante qualquer e sentamos. Não tinha cardápio na mesa. O garçom não veio nos atender. Levantamos e fomos até o balcão pedir o cardápio e escolher o queríamos comer. O atendente não falava inglês e ficou muito confuso com a gente pedindo o cardápio e fazendo o pedido ali no balcão. A gente não sabia, mas ele não estava acostumado com aquilo. Alguns minutos depois uma família sentou no nosso lado e ai finalmente entendemos como se fazia pedido em um restaurante na China. O pai tirou o celular, escaneou um QR Code na mesa do restaurante, abriu o cardápio no celular, escolheu o que queria, pagou ali mesmo no app e pronto. Ficou aguardando sua comida chegar. Sem garçom, sem cardápio físico, sem rolo de dinheiro, cartão de crédito ou confusão para pagar a conta. Me senti um homem das cavernas visitando o futuro.

Foto: o Centro Cívico do governo. Reparem como a cidade é arborizada e linda, bem diferente da imagem que costumamos ter de China.
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China Parte 2
Ainda em Shenzhen, visitamos duas grandes empresas, a BYD e a Huawei.

Você já tinha ouvido falar da BYD? Eu não, e olha que incrível sobre ela:

• Maior empresa de baterias e veículos elétricos do mundo! Só na China ela tem 421 mil ônibus elétricos em operação.

• A empresa tem 200 mil funcionários, sendo 20 mil engenheiros em Pesquisa e Desenvolvimento

• Até 2021 100% dos veículos públicos serão elétricos. Não só ônibus, mas carros de bombeiro, polícia, caminhões de limpeza urbana e etc

• A empresa surgiu em 1995 para produzir baterias. Hoje, 30% das baterias de celular do mundo são produzidas por eles

• Mas eles não param. Além de serem os maiores produtores de veículos elétricos do mundo, começaram agora a produzir trens elétricos, que são 5 vezes mais baratos que metrôs e que são instalados em um terço do tempo!

• No Brasil, a cidade de Indaiatuba já tem 20 caminhões de limpeza elétricos da BYD. Escolherem esse modelo para poderem operar de noite sem atrapalhar a população

• A empresa está crescendo o faturamento num nível exponencial, mesmo mantendo o mesmo número de funcionários, o que tem feito sua lucratividade crescer de forma assustadora.

Barras em azul representam a evolução da receita. Barras em laranja a evolução no número de funcionários.

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Aqui um vídeo de um dos seus carros, que pode ser controlado por controle remoto


Vídeo que mostra todos os veículos elétricos que a BYD já comercializa




Na Huawei, a visita foi bem mais técnica. Para quem não sabe, é a empresa mais avançada no mundo em infra-estrutura de telecomunicações, e quando se trata de 5G, ela está 10 anos na frente das suas principais concorrentes americanas e europeias. Se não bastasse isso, em maio desse ano ela passou a Apple e se tornou a segunda maior fabricante de smartphones do mundo!

Recentemente, Trump editou uma medida proibindo empresas americanas de negociarem/fornecerem para a Huawei. O motivo alegado é de que essa empresa espiona os americanos e representa um risco para a segurança dos EUA. Porém, todo mundo que conhece mais profundamente esse assunto diz que o verdadeiro motivo é tentar impedir a Huaewi de dominar a infra-estrutura 5G no mundo inteiro, inclusive no EUA.

Mas porque a tecnologia 5G é tão revolucionária? Não seria apenas uma internet mais rápida? Para explicar, vou usar uma analogia com o surgimento do Iphone e dos smartphones. Você já parou para pensar quantas empresas e negócios gigantes só foram criados graças ao surgimento dos smartphones? Uber, Ifood, Whatsapp , Instagram, Snapchat e por aí vai. Pois bem, o 5G vai permitir o surgimento de outras centenas de negócios, como veículos autônomos ou operações médicas a distância, que hoje, por conta da alta latência das redes, não é viável. Talvez, essa ação desesperada do Trump seja um tiro no pé, deixando os EUA atrasados na próxima revolução tenológica.

Obs: Obviamente que, por conta da guerra com EUA, não fomos autorizados a tirar fotos na Huawei. Mas eu garanto: uma das empresas mais gigantes que já vi. Parece um campus universitário.

China Parte 3
No 3º dia em Shenzhen visitamos um lab de inovação e uma aceleradora de startups de hardware.

•Nas fotos vocês conseguem ver como era Shenzhen em 1998 e como ela está agora. Porque isso aconteceu? O governo chinês tornou essa região uma zona especial e testou capitalismo nela, com a iniciativa privada tendo mais liberdade para empreender.

Shenzhen em 1998

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Shenzhen em 2018 - 20 anos depois

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• "O governo testou? Como assim??" Isso mesmo. A cultura chinesa valoriza muito o experimentalismo e eles aplicam isso em tudo, inclusive para governar. Do mesmo jeito que o governo testou o capitalismo em Shenzhen, ele testou um comunismo mais radical em outras cidades. Tudo indica que a experiência de Shenzhen foi vencedora e que começará a ser replicada cada vez com mais força no restante da China, diminuindo o número de estatais, fortalecendo a iniciativa privada, sendo o governo um condutor desse desenvolvimento. Enquanto o EUA está preocupado em construir um muro para barrar imigrantes mexicanos, o governo chinês já colocou como foco e meta principal se tornar a maior potência em IA do mundo até 2030.

•Segundo nosso palestrante, a educação universitária em Shenzhen era fraca, e, até ano passado, a cidade só tinha uma universidade. Logo, o desenvolvimento absurdo que a cidade viveu jamais pode ser explicado por investimentos em educação (o que é totalmente contrassensual, já que crescemos ouvindo que sem educação é impossível uma região se desenvolver).

 • Os primeiros empreendedores chineses que se instalaram na cidade começaram a produzir aparelhos de DVDs que tinham uma “feature especial”: eram capazes de rodar DVDs piratas. Assim como no Brasil, pouca gente na China tinha condições de comprar DVDs originais quando o DVD surgiu. Como vários aparelhos começaram a vir bloqueados, os empreendedores chineses enxergaram ali uma oportunidade de negócio.

 •Mas, logo depois, o boom dos DVDs passou e essas empresas começaram a tocar no mercado de celulares. Uma delas se tornou dona da 4º e da 6º marcas de celular mais vendidas do mundo! E aposto que você nem conhece elas (Oppo e Nex).

• Essas empresas surgiram quando as gigantes Nokia e Motorola dominavam todo o mercado. O que elas fizeram diferente? Começaram a fazer tudo que essas grandes não queriam fazer. Exemplos: celulares dourados (cor favorita dos chineses), capinhas coloridas, celulares com caixas de som ultra potentes (que eram os preferidos dos trabalhadores da construção civil da China) e etc.

• Sempre achei que o desenvolvimento da China era pautado apenas por empresas chinesas copiando os produtos ocidentais e vendendo mais barato para o resto do mundo. Mas o que vi lá foi que, além disso, eles estavam também atendendo uma demanda interna do país que não estava sendo suprida pelas grandes empresas ocidentais. A ironia é que essas empresas chinesas hoje são bem maiores que Nokia e Motorola - líderes de produção de celulares na época.

• Mas obviamente que os empreendedores chineses não pararam nos celulares baratos e capinhas douradas e, com o tempo, foram aprendendo a produzir cada vez mais coisas. Nos últimos anos, Shenzhen se tornou uma cidade industrial capaz de produzir quase tudo rs. Hoje, 40% dos vendedores da Amazon são da cidade!

• Qualquer pessoa, inclusive você, pode chegar aqui e produzir um celular de última geração, ou um fone de ouvido top, ou coisas do tipo, com sua própria marca e vender para o mundo inteiro.

• Melhor: se eles gostarem muito da sua marca e projeto eles financiam sua produção! Eles te entregam os produtos e só cobram após 60 dias.

• O caso mais impressionante é de um menino de apenas 19 anos que pegou o equivalente a 1000 dólares emprestados com a mãe em 2015 e criou uma marca chamada Anker de acessórios para celular (carregadores portáteis, cabos e etc). Ano passado ele já era o 3º maior vendedor único da Amazon, com 1,5 bilhões em vendas!

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• Um grupo de jovens do Quênia criou uma marca de fones de ouvidos com nome e identidade visual africana chamada Pace. Se tornaram a marca mais vendida da África. Agora começaram exportar pra Europa, só que os produtos saem da China. Olha que maluco!

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• Esse tipo de arranjo é uma oportunidade incrível também para nós brasileiros! Podemos usar nossa criatividade para construir marcas e deixar a produção para nossos amigos de Shenzhen. 

• O setor industrial da cidade se desenvolveu primeiro atendendo demandas específicas de chineses. Começaram com os aparelhos de DVD capazes de rodar DVDs piratas e depois com celulares que atendiam as especificidades da população chinesa. Eles começaram a então a aplicar essa “fórmula” de atender a demanda em outros países. Na África, a marca de celular mais vendida, com 37% do mercado, é a chinesa Tecno. O que eles fizeram de tão especial? Um celular que é capaz tirar selfie de pessoas negras com qualidade de luz. Na França os chineses fizeram a Wiko, que é a segunda marca mais vendida. Lá, bastou falar que a marca era francesa e se posicionar como uma marca nacionalista francesa rs. Deu certo!

• Segundo o palestrante, as marcas chinesas vão dominar o mundo por dois motivos 1. Elas trabalham em parceria com os fabricantes chineses. Enquanto Apple e Samsung, por sua vez, costumam dar “top-down” nas fabricantes e acabam não aproveitando os feedbacks deles. 2. As marcas chineses são flexíveis para atender as diferentes especificidades/ demandas/ dores de grupo de pessoas e países, enquanto Apple e Samsung querem empurrar o mesmo celular para o mundo inteiro.

Lembrando que a maior parte da produção de Apple e Samsung também saem de Shenzhen.

Em Shenzhen prédios modernos como esse abaixo são comuns.

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China Parte 4
Se a cidade de Shenzhen é como eu gostaria que fossem as cidades do futuro, super arborizadas e com veículos elétricos, Xangai é a cidade dos filmes futurísticos. Você se sente dentro do filme Blade Runner, com prédios gigantes e com muita luz colorida, mensagens e etc. Com certeza uma das cidades mais incríveis que já visitei. Eu nunca foi em Nova York, mas as pessoas do grupo que já foram disseram que Xangai humilha rs.

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Xangai é o principal centro financeiro da China. A principal bolsa de valores fica aqui e os principais bancos também.

Uma coisa interessante é que a cidade construiu uma área financeira super moderna, porém, do outro lado do rio que corta a cidade, eles transformaram os prédios da antiga área financeira (que parecem bastante prédios antigos europeus) em museus (não deixa de ser um pouco irônico rs).

Lá visitamos o New Development Bank, um banco criado pelos 5 países do Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e Africá do Sul). Fomos recebidos pelos diretores brasileiros que fazem parte do banco. O empreendimento tem ido super bem e eles devem investir mais de 6 bilhões de dólares no Brasil nos próximos 3 anos (se a reforma da providência for aprovada).

Em Xangai também conhecemos algumas startups que estão começando. Uma delas especificamente me chamou atenção. Eles criaram uma tecnologia que permite fazer pagamentos ou autorizações a partir do flash dos celulares. É bem mais seguro e rápido que o QR Code. Uma utilidade bacana dessa tecnologia é para sites como Airbnb. Você pode alugar um apartamento e a maçaneta dele irá se abrir com o flash apenas do seu celular e no dia e horário combinado com o anfitrião. Quem já alugou Airbnb, sabe que uma das partes chatas é pegar ou devolver a chave da casa.

China Parte 5
Na cidade de Hangzhou, visitamos duas startups, Wedoctor e Alipay.

WeDoctor:

- Uma das maiores startups de saúde do mundo. Eles começaram fornecendo um app de agendamento e hoje fazem muito mais. São 3200 hospitais, 290 mil médicos e 200 milhões de usuários!

- Desenvolveram o primeiro hospital virtual do mundo. Um paciente, em qualquer lugar da China, consegue ser atendido por vídeo por excelentes médicos desse centro. Uma das maiores dificuldades de países subdesenvolvidos é levar médicos para viverem em cidades pequenas e remotas. O Brasil vive o mesmo problema. Com esse tipo de tecnologia, você consegue que um médico, vivendo sua vida confortável em Florianópolis, consiga atender um paciente no interior do Pará, por exemplo.

 - Hoje no Brasil quando alguém tem qualquer problema de saúde a pessoa perde tempo 1. Agendando um médico 2. Se deslocando da casa para o médico e do médico para a casa. 3. Depois indo e voltando de uma clínica de exames. 4. Depois indo e voltando ao médico para levar aos exames. Nesse "rolê" todo a pessoa perde tempo de trabalho, gasta dinheiro com estacionamento e deslocamento, e ainda demora para ter seu diagnóstico. Para resolver esse problema a WeDoctor criou aparelhos simples e baratos que podem ficar nas empresas ou em comunidades para fazer os principais exames em tempo real e enviar os resultados para os médicos virtuais que fazem depois uma ligação de vídeo com o paciente. O aparelho consegue realizar exames que englobam 80% das doenças rotineiras que as pessoas costumam ter.

Foto do aparelho que permite isso

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- Na nossa visão, todos os médicos têm todas as qualificações necessárias para atender pacientes, mas isso não é verdade. Existe uma discrepância gigante na formação de médicos e na atualização destes em relação a novas doenças e tratamentos. Para ajudar a resolver esse gap, a Wedoctor criou um software de inteligência artificial onde o médico vai digitando os sintomas dos pacientes, anexando exames e o software vai sugerindo possíveis doenças que o paciente pode ter. Eles estão criando uma base de dados gigante e com isso vão conseguir entregar resultados cada vez mais apurados. Em alguns vários casos, o IA já está entregando resultados mais precisos que os médicos. Isso é só 1% do que eles estão fazendo.

- Outro problemas que eles observaram é que pais de crianças pequenas e pessoas com idade muito avançada gostariam de ter atendimentos mais rápidos e sem precisar sair de casa. Eles criaram então uma espécie de tablet que permite essas pessoas terem um atendimento médico da sua casa em questões de segundos. Em casos mais graves/urgentes, o próprio médico pode chamar uma ambulância para a casa do paciente. Foto abaixo:

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- Eles também identificaram uma grande oportunidade no setor de remédios/farmácias: 80% das consultas resultavam na prescrição de uma quantidade x de remédios que podia ser facilmente comercializados em uma máquina de 2m x 2m. Mas e os remédios que necessitam de prescrição? Sem problema, porque a máquina vem com um scanner que lê o QR Code da receita do médico e autoriza a compra. Essa máquina pode ser colocada dentro de empresas, metrôs, praças e com isso reduzir muito os preços de remédios. Foto abaixo:

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- Por último, ao fazer todas essas coisas, a WeDoctor começa a ter uma infinidade de dados sobre médicos, pacientes, hospitais, doenças, tratamentos, remédios. A partir desses dados, geram dashboards e análises em tempo real para o governo chinês, que consegue reagir de forma preventiva para barrar, por exemplo, uma epidemia. Foto abaixo:

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Para dar conta disso tudo, a Wedoctor tem hoje 8 mil desenvolvedores! Sente o tamanho do prédio da startup.

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China Parte 6
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Em Pequim, conhecemos a IQIY, uma versão 10 vezes melhor do Youtube + Netflix. Na minha visão, são melhores porque já usam IA de forma efetiva para entregar mais valore para usuários e anunciantes e reduzir seus próprios custos. Seguem alguns exemplos:



- Um dos maiores custos de programas de TV, séries e filmes é a edição (geralmente 25% do custo total da produção de um programa, série e etc). A IQIY começou a treinar uma IA para aprender a editar esses conteúdos. Após centenas de testes a/b, chegaram em um nível de qualidade que o usuário não conseguia distinguir se o conteúdo foi editado por uma IA ou por um ser humano. Redução de custos absurda + agilidade!

- Mas não para por ai. Com um IA editando, porque não criar múltiplas versões de um mesmo programa? Eles fizeram isso. No "The Voice chinês" o usuário pode escolher qual juiz ele quer dar mais foco (Ivete ou Michel Tello rs). Eles estão aplicando isso em vários programas!

- Existia uma demanda gigante dos usuários querendo comprar itens que aparecem em séries, filmes e programas. A IA deles reconhece os produtos na tela (móveis, roupas, celulares e etc) e linka automaticamente eles ao e-commerce da IQIY. Basta o usuário clicar e comprar. E eles já estão começando a aplicar isso em vídeos que foram disponibilizados pelos próprios usuários. Você faz um filme seu com sua amiga, o IA reconhece que ela está usando uma blusa xyz e já linka ela ao e-commerce!

- O principal motivo para uma série, filme ou programa de TV não ter tradução simultânea para língua de sinais para surdos/mudos é o custo com o tradutor. Eles resolveram esse problema criando uma personagem virtual que simula os movimentos de linguagens de sinais com base numa IA que entende o que está sendo falado e faz a tradução de forma automática.

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- Eles estão usando IA para mais de 20 aplicações e esses foram só alguns exemplos. Atualmente eles tem 4 mil desenvolvedores e dizem não ter dificuldade para contratar mais quando precisam.



China Parte 6
Uma das visitas mais incríveis que fizemos foi a Ant Financial, braço financeiro do grupo Alibaba (Aliexpress, Taobao e etc). Foram eles que desenvolveram o superapp Alipay.

- 900 milhões de usuários ativos! Sim, eles tem mais de 4 vezes a população brasileira em termos de usuários.

- Em todos os lugares da China as pessoas usam o Alipay para pagar suas contas, fazer transferências, pagar restaurantes, transporte público e etc. Nos 10 dias que estive na China, não vi nenhum chinês usar dinheiro ou cartão de crédito. Usavam apenas o pagamento por QR Code do app Alipay ou Wechat. Mendigos usam QRCode para conseguir esmola e isso não é uma piada.

- Mas, obviamente, o Alipay não serve apenas para efetuar ou receber pagamentos. A partir do app é possível fazer empréstimos, comprar passagens áreas, requisitar carros da Didi (o "uber" da China), alugar bicicleta, pedir comida e etc. Tudo isso sem precisar sair do app!

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- Eles começaram a ter tantos dados, que hoje, usando IA, conseguem emprestar dinheiro num volume absurdo e com uma taxa de inadimplência muito baixa. O sistema de score deles é tão eficiente, que o governo já aceita ele para liberar alguns vistos para cidadãos chineses.

- Por fim, Blackmirror: eles já estão usando a forma como você se relaciona com seus amigos para aumentar ou reduzir seu score de crédito. Isso faz mais sentido do que você pensa. Imagina se seu melhor amigo pede para você emprestar 50 reais para uma pessoa x. Você nunca viu essa pessoa x, mas só pelo seu melhor amigo ter indicado você se sente mais confiante. Eles estão usando esse efeito do mundo físico no digital

China - Conclusão
É óbvio que nesse relato não conseguiu transmitir 100% do que aprendi lá. E, como já disse, eu não conheci nem 1% da China.

O mais importante dele e dessa viagem é nos despertar para o fato que precisamos ficar mais próximos da China, apreendendo com eles, trabalhando com eles, e, em alguns casos, competindo com eles. Já estou assinando várias newsletter sobre a China, pretendo voltar lá nos próximos anos e quero continuar mantendo contato com as pessoas que conheci lá. Sugiro a você que está lendo fazer o mesmo. E se você também não ficou apavorado com esse relato, amigo, tenho uma notícia ruim para você...