Artigo, MarceloAiquel - Chinelo velho

Amigos, hoje venho contar a história de um “chinelo velho”, que foi completamente desprezado pelo dono, logo após este ganhar um novo e macio par de chinelos.
         
Tivesse o “chinelo velho” algum sentimento, este – com certeza – seria de enorme decepção, pois ninguém, nem mesmo um “chinelo” suporta ser desprezado.
         
E assim o “chinelo velho” ficou atirado ao léu, esquecido ao lado da cama, enquanto assistia o seu dono desfilar radiante com o novo calçado.
         De nada adiantou o “chinelo velho” gritar, berrar, tentar ser irônico, inconveniente até, pela singela razão de era totalmente desprezado, esquecido, tratado como se não existisse, independente dos movimentos que tentava fazer para chamar a atenção. Pois, ele – literalmente – era ignorado.
         Lembrei-me deste triste caso de desprezo (as histórias de desprezo são sempre tristes), ao assistir na net um vídeo onde um patético militante petista – que certamente deu seu voto para a chapa Dilma/Temer – chama o jornalista Alexandre Garcia de GOLPISTA.
         Só faltou ao recalcado dizer: “é gópi”, imitando o linguajar pouco acadêmico do seu ídolo maior.
         Totalmente ignorado pelo desprezo do jornalista, o infeliz ainda tentou comprar briga com a comissária de bordo do avião, também em vão, pois, o que ele queria era mesmo arrumar uma confusão, para depois se vitimizar, conforme lição comum dos ”injustiçados”.

         Ah, para concluir devo registrar que qualquer semelhança entre a história do “chinelo velho” e o caso do recalcado militante petista (perdoem a redundância) não passa de uma mera coincidência.

Posição da OAB

O Brasil não pode continuar pagando a conta das atitudes pouco republicanas tomadas pelos ocupantes do poder. As autoridades investigadas devem ter assegurado o direito à ampla defesa e ao contraditório, como deve ocorrer com qualquer cidadão investigado. Isso não quer dizer, no entanto, que as instituições chefiadas por essas autoridades precisem ficar sangrando até o fim do processo, causando prejuízo à sociedade e ao pais. É preciso proteger as instituições.

A OAB fez uma análise técnico-jurídica e já concluiu pela necessidade de impeachment do presidente Michel Temer. Assim como no ano passado, quando a OAB pediu o impeachment de Dilma Rousseff, estão presentes, mais uma vez, os elementos que configuram crime de responsabilidade.

O próprio presidente tornou os fatos incontroversos ao confirmar a conversa com Joesley Batista em que o empresário lhe relatou uma série de ilícitos. Nada ter feito após receber essas informações é crime de responsabilidade e, segundo a Constituição, deve ser punido com impeachment.

Trata-se de um momento e de uma situação tristes. Mas a lei deve ser aplicada rigorosamente a todos, independentemente do cargo ocupado. Um futuro melhor para o Brasil depende do respeito à lei e às instituições.

A Câmara dos Deputados não pode continuar agindo com cinismo, como se nada estivesse acontecendo no país. O presidente da Câmara deve satisfação à população e, por isso, precisa pautar com urgência a análise dos pedidos de impeachment.

Sem o resgate moral das instituições – e esse processo começa pela Presidência da República -, o país não emergirá da crise."

Ruy Castro - Os crimes da mala e o cadáver do Brasil

Os crimes da mala e o cadáver do Brasil
  
 Ruy Castro

Em 1928, em São Paulo, um imigrante italiano, Giuseppe Pistone, estrangulou sua mulher Maria Mercedes, que o denunciara como trambiqueiro. O que fazer com o cadáver? Pistone serrou-o pelas pernas, espremeu-o numa mala e despachou-o para um destinatário inexistente em Bordeaux, França. Ao ser içada a bordo do navio Massilia, em Santos, a mala abriu acidentalmente e revelou-se o seu conteúdo. Pistone foi preso e condenado a 31 anos. Cumpriu 13, saiu e até se casou de novo.

O caso passou à história como “o crime da mala”, embora não fosse o primeiro nem o último com esse nome. Há cinco anos, também em São Paulo, uma mulher matou a tiros o marido, executivo de uma grande empresa fabricante de pipoca. Experiente em enfermagem, ela o esquartejou e o distribuiu por três malas com rodinha, que enfiou no carro e levou até Cotia para se desfazer. Foi apanhada e presa. E este também não será o último caso do gênero.

Um novo tipo de crime da mala está em curso no Brasil. Consiste em esquartejar os escrúpulos e rechear malas, não com o que restou deles, mas com dinheiro ilícito. O caso mais flagrante é o do ex-deputado Rodrigo Loures, destacado pelo presidente Temer como seu “homem de confiança” para se entender com os amigos da JBS — e, dali a dias, filmado ao receber uma mala numa pizzaria e, assustado, tomar um táxi com ela no colo. A mala continha R$ 500 mil em espécie e soube-se depois que ele a escondeu na casa da mãe.

Na sequência, Fred Pacheco de Medeiros, operador e primo do senador Aécio Neves, também foi filmado acomodando em malas R$ 500 mil da mesma e generosa JBS. E, antes deles, o notório ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto era tão useiro em rechear mochilas com dinheiro que seu apelido era “Mocha”.


Em todas essas malas e mochilas, vai, aos pedaços, o cadáver do Brasil.

Não aguento mais notícia falsa sendo disseminada como verdade suprema

Não aguento mais notícia falsa sendo disseminada como verdade suprema

Por Ucho Haddad -

Na terça-feira, 13 de junho, entendi ser merecido interromper a dura rotina jornalística e aceitei convite para almoçar com amigos em um clássico e tradicional restaurante paulistano. Ao chegar, logo no primeiro abraço, ouvi um longo agradecimento por ser fiel à verdade dos fatos. Respondi que essa é a minha obrigação como jornalista, assim como deveria ser dos muitos que se arriscam nessa complexa seara da informação.

Durante o almoço, os convivas submeteram-me a uma sabatina sobre o “modus faciendi” do jornalismo político. Com o avanço das perguntas percebi que de fato o jornalismo desandou. O advento da internet foi excepcional e revolucionário, mas essa coisa chamada rede social criou um sem fim de suicidas da informação. Classifico-os como suicidas porque fazem qualquer coisa para alcançar fama e notoriedade. Algo parecido com os homens-bomba que vão pelos ares na esperança de conquistar o paraíso e uma carroça repleta de virgens. Como ingrediente extra, esses párias da comunicação contam com a lufada de intolerância que sopra sobre o País, cenário que oferece aos sôfregos de plantão a capa da falsa genialidade.

Depois de quatro décadas de jornalismo e tendo percorrido boa parte do planeta atrás da notícia, vez por outra deparo-me com bizarrices de comunicólogos delinquentes. São as tais “fake news”, que ganharam corpo na mais recente corrida presidencial norte-americana. Inventa-se uma mentira qualquer, sobre a qual despeja-se a falsa tinta da verdade e seja o que Deus quiser. Como Deus por certo tem mais o que fazer, que não policiar os imbecis que estão a disseminar mentiras nas redes sociais, aqui trago minha indignação. E anotarei na caderneta, pois quando encontrar com Deus cobrarei o direito de sentar-me à janela do céu.

Certa feita, por ter contrariado os interesses de alguns poderosos, fui alçado à mira dos capangas de aluguel, muitos deles amotinados em sindicatos e partidos políticos, uma espécie de jihadistas do comunismo tropical. Acusavam-me à época, esses detratores da honra alheia, ser eu um falso jornalista apenas por não ter esquentado o banco da faculdade e dessa não ter saído com um canudo debaixo do braço. Alegavam os patifes que a ausência do diploma impedia-me de saber o que é ética. Sempre disse, e morrerei dizendo, que ética aprende-se desde o berço, no seio familiar, não pagando em dia o carnê da faculdade e escapando do jubilamento.

De volta do prazeroso almoço, que ao final foi coroado com algumas proibitivas lambarices, já diante do meu companheiro de muitas horas e de todos os dias, o computador, decido checar as mensagens que aterrissaram no celular. Entre muitas, uma delas era a repetição de escabrosa mentira que “viralizou” como se fosse ode à verdade celestial. Como se não bastasse, a falsa notícia era balbuciada por um sujeito com semblante sério, ar circunspecto, pose de gênio da Botocúndia.

Trata-se de um vídeo em que o apresentador, voz grave e pausada, discorre sobre a suposta chegada para breve, no Brasil, de 1,8 milhão de refugiados vindos da Europa. Segundo esse âncora de telejornal de lupanar, a culpa por esse contingente de quase 2 milhões de refugiados, a chegar no Brasil, é da Organização das Nações Unidas
(ONU) e da Lei de Imigração sancionada pelo presidente Michel Temer.

De chofre quero tratar apenas das questões humanitárias, deixando para o fim a imbecilidade de quem inventou essa mentira e de seu propagador. Só condena um refugiado quem jamais foi obrigado a fugir da terra natal por questão de sobrevivência. Faz isso quem não sabe o que é uma guerra, que sequer imagina o desespero que brota diante de bombardeios aqui e acolá. Não há mal algum em ser refugiado, pelo contrário, só há pontos positivos nesse status que resulta da covardia alheia.

A delinquência intelectual do apresentador é tamanha, que até mesmo o nome do Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Zeid Al-Hussein, foi alvo de deboche. Talvez porque o âncora telejornalístico, em seus momentos de gênio de botequim, fermente a tese burra de que todo nome de origem árabe remete ao terrorismo que muitos, por ignorância devastadora, classificam como islâmico.

Jordaniano e representante permanente de seu país na ONU, Zeid Ra’ad Zeid Al-Hussein é muçulmano e o primeiro árabe a chegar ao degrau maior do Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos. Ou seja, o currículo de Al-Hussein é um colossal passeio se comparado à sapiência
(sic) do cidadão que acredita ter frequentado o Olimpo da verdade.

Agora passo à imbecilidade de quem esculpiu a falsa notícia e de quem a disseminou na internet… Fazer jornalismo não é tarefa fácil, pelo contrário, é missão árdua e exige dedicação espartana, estudo contínuo, leitura a mais não poder. Não é com doses de “achismo”, um computador, uma câmera digital, um microfone da moda e uma notícia falsa e xenófoba que se faz jornalismo. A grande tragédia que surgiu no vácuo das redes sociais está no fato de o planeta ter sido invadido por uma enxurrada de ignaros que, embalados pelo leguleio bandoleiro, buscam fama a qualquer custo. Não importando se para tanto o trampolim seja feito com a prancha da mitomania.

O mitômano que fabricou a falsa notícia – assim como o picaresco apresentador metido a comentarista de política internacional – parece ter faltado às aulas de aritmética, ao mesmo tempo em que tem inexorável preguiça para a leitura. O mentiroso e o reprodutor da mentira afirmam que 13 navios da ONU estão a trazer, da Europa para o Brasil, com chegada prevista para julho próximo, 1,8 milhão de refugiados, em sua maioria terroristas. Ó, que perigo!

Em primeiro lugar, a ONU não tem navios. São os países-membros que disponibilizam equipamentos, aeronaves, embarcações e tropas militares a serem utilizadas em missões das Nações Unidas. No universo das contas, o mentiroso e o gazeteiro da mentira são donos de neurônios trôpegos. A questão é simples e para quem não sabe fazer conta de cabeça, qualquer calculadora de camelô é capaz de decifrar o enigma.
Um contingente de 1,8 milhão de refugiados – muçulmanos terroristas na opinião dessas pústulas da informação – significa que cada um dos supostos 13 navios da ONU está a transportar 138 mil passageiros.

Apenas para evidenciar a cretinice do mentiroso e de seu gazeteiro, o maior transatlântico em atividade no planeta, o “Harmony of the Seas”, tem capacidade para 6 mil passageiros e 2 mil tripulantes. Contas para lá, contas para cá – o mitômano e seu propagador de mentiras não dominam a matéria – seriam necessárias 300 embarcações com a mesma capacidade do gigante “Harmony of the Seas” para levar a cabo esse devaneio que só prospera em mentes movidas pela perfídia da ignorância.

Classificado como gênio pelo MEC em três distintas ocasiões, meu saudoso pai – a quem ousadamente tenho como meta diuturna a ser perseguida – dizia do alto de sua invejável inteligência que “quando o sujeito é burro, só resta pedir a Deus que o mate e ao diabo que o carregue”. De preferência para bem longe, muito além das paragens luciferianas.

Tomando emprestado o bordão paterno, cá estou a pensar se uso-o como aldraba para finalizar esse desabafo ou espero a chegada dos tais terroristas muçulmanos para que alguns façam uma simpática visita a esses supostos herdeiros de Aladim.


Dizia Odorico Paraguaçu – personagem de Dias Gomes interpretado pelo espetacular e insuperável Paulo Gracindo em “O Bem Amado” – “a ignorância é que atravanca o progresso”. Paro por aqui para não perder a elegância que desde cedo me faz companhia de forma teimosa e incansável.