Editorial Correio Braziliense - Golpe de miosericórdia

Perguntaram a Aristóteles a diferença entre história e literatura. A história, respondeu o mestre grego, olha os fatos. Mostra a realidade. No presente, o que os homens são e fazem. No passado, o que foram e fizeram. A literatura lida com os mesmos acontecimentos. Mas os mira com olhar diferente. Revela o que os homens gostariam de ser e de fazer. Ou o que gostariam de ter sido ou de ter feito.

Vem à tona a sabedoria do filósofo estagirita em razão dos malabarismos do governo brasileiro. Como se usasse os óculos de lentes verdes de Oz e desembarcasse no País das Maravilhas, a presidente Dilma Rousseff teima em apresentar enredos que não conversam com a verdade. Ao contrário das obras de ficção, falta-lhes coerência interna - pacto não escrito estabelecido entre autor e consumidor. Um finge que diz a verdade. O outro finge que acredita.

A história ficou clara na campanha eleitoral. Discursos e imagens marqueteiros iam de encontro à verdade escancarada nos hospitais, nas escolas, nos transportes, nas estradas, na segurança. Esperava-se que a vitória nas urnas representasse o retorno ao mundo real. A indicação de Joaquim Levy para o comando da economia justificou a esperança. Mas, boicotado pelos próprios petistas, o ministro abandonou a pasta.

Nelson Barbosa ficou longe de apontar rumo para a falta de rumo nacional. Em Davos, no primeiro dia oficial do Fórum Econômico Mundial, ele apostou no ovo ainda na barriga da galinha. Contou com a volta da CPMF para o reequilíbrio das contas públicas. Inspirou-se, por certo, na Lei Orçamentária Anual (LOA), em que figura o imposto que taxa a movimentação financeira como se estivesse em vigor.

O governo prevê aprová-lo até maio para ser cobrado em setembro. Se a ficção coincidir com a realidade, a arrecadação deve atingir R$ 10 bilhões, cujo montante ajudaria o cumprimento da meta de superavit primário de 0,5% do PIB em 2016. O condicional impressiona, mas não convence. Dilma Rousseff precisa de um choque de realidade.

Em 2015, o país perdeu 1,5 milhão de postos de trabalho - o pior resultado desde o início da série histórica em 1992. A taxa de desemprego, hoje superior a 8%, poderá fechar 2016 em acima de 12%. O deficit primário deverá chegar a R$ 68,2 bilhões.


Após encolher cerca 4% no ano passado, a economia, como um todo, ficará 3,5% menor, conforme projeção do FMI. A inflação encerrou 2015 em 10,67% e segue em ritmo ascendente. A taxa de juros em 14,25% torna o valor do crédito exorbitante, o que desestimula os investidores. No ambiente de incertezas, o Executivo resiste aos cortes necessários na máquina pública para frear o aumento do deficit fiscal. Persistir nesse roteiro é levar o Brasil à falência e torná-lo a Grécia da América Latina.

Artigo, Roberto Rachewsky - O socialista e o iPhone

A genial maneira escolhida para ironizar a hipocrisia da esquerda, evidenciando a promíscua relação entre os amantes do socialismo e os produtos do capitalismo, serve de estímulo a uma análise um pouco mais profunda desta questão.

Devemos nos perguntar, por que Steve Jobs criou e colocou à venda um produto tão magnífico como o iPhone? Por que as pessoas, inclusive você, Socialista de iPhone, adquiriram o seu, pagando o que tiveram que pagar?
 Por uma razão muito simples, todos, seja o Steve Jobs, ou qualquer outra pessoa neste mundo, acreditam que é do seu auto-interesse fazê-lo, pois ao final, acabariam lucrando.

Steve Jobs acabou bilionário, porque em nome de seu auto-interesse, atendeu a milhões de consumidores. Assim como, um socialista qualquer, pelo mesmo motivo, incorporou ao seu dia-a-dia, algo com valor muitas vezes maior do que pagou por ele.

Esta é a lógica central, que embasa as relações entre indivíduos, que usam o seu auto-interesse racional, para obter as condições necessárias, para uma vida melhor, mais produtiva, mais econômica e mais feliz.

É o legítimo processo de livre-mercado, onde as trocas voluntárias e espontâneas produzem resultados maiores do que a soma das partes, podendo assim, ser chamado de jogo do ganha/ganha, onde, ganha quem compra e ganha quem vende. Indo além desta análise, que colocou em igualdade de condições, um genuíno capitalista, Steve Jobs, e qualquer Socialista de iPhone, cabe-nos fazer a seguinte reflexão: como alguém pode produzir um iPhone e como alguém pode adquiri-lo?

Obviamente, através da necessária geração anterior de valor. Ou seja, para que Steve Jobs pudesse vender um iPhone, ele precisaria concebê-lo, produzi-lo, divulgá-lo até oferecê-lo ao mercado consumidor. Para que isso se tornasse realidade, além da sua própria mente, da sua genialidade, ele precisaria de gente que financiasse seu empreendimento, no caso, acionistas ou banqueiros que usariam os seus recursos disponíveis para que Steve Jobs pudesse tornar seu sonho uma realidade.

Por outro lado, como alguém poderia adquirir o produto resultante desta iniciativa empreendedora de Steve Jobs? Obviamente também, gerando valor para outras pessoas que retribuiriam pagando pelo que obtivessem. Ou seja, o jogo do ganha/ganha estaria sendo jogado entre todos aqueles que estivessem exercendo o legítimo direito de buscar a satisfação do seu auto-interesse.

Trocas voluntárias, transações livres e espontâneas para a satisfação mútua de autointeresses convergentes, através da produção de bens e geração de valor, são a alma do capitalismo. Por isso que não se diz Capitalista de iPhone. Não faria sentido. Os conceitos capitalista e produto do capitalismo são indissociáveis, não-contraditórios.

Por que torna-se sarcástica a expressão Socialista de iPhone? Por que ela é contraditória. Nenhum socialista quer viver no socialismo. Todos querem alcançar poder suficiente, para viver como um capitalista. Porém, com o dinheiro dos outros.

É por isso que socialistas defendem o uso da violência, como meio para obterem os valores que necessitam para se satisfazer. E é a violência que destrói a alma do capitalismo, o sistema de relações interpessoais, baseado em trocas espontâneas e voluntárias, livres da coerção. É o capitalismo que possibilitou que Steve Jobs cria-se o iPhone.

Capitalistas vêem as relações no mercado como um jogo de ganha/ganha, socialistas acreditam se tratar de um jogo de soma zero, onde para um ganhar, o outro tem que perder.

É por isso que socialistas de iPhone são uma contradição ambulante, sujeitos a mais sagaz das críticas, o humor irônico ou sarcástico.

Para fazer uma analogia, um socialista com iPhone é como um ateu carregando um crucifixo no peito.

É claro que há uma diferença fundamental metafísica, o iPhone pode propiciar ao socialista, uma vida melhor.

Encerro com um desafio: ou vocês deixam de ser socialistas, ou devolvam seu iPhone na loja mais próxima.

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* Roberto Rachewsky, escreve toda a semana para a Socialista de iPhone, é empresário e pensador independente. Co-fundador e conselheiro do IEE, do Instituto Liberdade, do Instituto Atlantos e do Objetivista. Membro do Clube Miss Rand.