Artigo, Ricardo Rangel, Veja - A armadilha do identitarismo - as lições que emergiram do caso Silvio Almeida.

NA SEMANA PASSADA, Silvio Almeida foi afastado do governo por causa de uma denúncia de crime sexual; desde então, já apareceram mais duas. São denúncias graves, e a Polícia Federal está investigando o caso.

Além de grave, o episódio é emblemático de várias maneiras. Almeida, criador da expressão "racismo estrutural" e ex-ministro dos Direitos Humanos, era um representante do identitarismo do tipo que acha que teto de gastos é racista e faz ataques pessoais contra um antropólogo branco (AntonioRiserio) que comete delito de opinião, mas passa pano para um professor negro (Decotelli) que falsifica o currículo.

Demitido, Almeida agarrou-se ao cargo, usou o ministério para se defender, puxou a carta do racismo, ameaçou cair atirando, prometeu "vingar-se" de seus algozes. Ocorre que a denunciante, Anielle Franco, é também ministra, também representante do identitarismo, do tipo que reclama do "racismo ambiental" e acha que "buraco negro" é expressão racista. A agressão de uma mulher por um negro dá um nó cego na ilusão identitária de que o integrante do grupo dominante é sempre culpado, o do grupo minoritário é sempre vítima e as minorias são aliadas naturais - e põe o movimento em parafuso. Mas tem mais.

Não se sabe se ou quando Anielle levou sua denúncia aos canais competentes. Sabe-se que recorreu a uma ONG, autorizou o vazamento da denúncia anônima, levou o caso à amiga Janja e o ministro caiu em seguida. Mesmo depois da queda de Almeida, Anielle não admite abertamente tê-lo denunciado: tudo o que se sabe sobre o crime é o que foi vazado para a imprensa em off.

Janja não tem cargo público, mas se mete em tudo, de reuniões com chefes de Estado estrangeiros a demissão de ministro. É o retrato acabado do nosso patrimonialismo.

Lula declarou que "alguém que pratica assédio não vai ficar no governo", mas "é preciso que a gente permita que ele se defenda". A intransigência de Lula com assédio sexual parece que depende da repercussão pública, porque consta que a Polícia Federal (cujo diretor estava na reunião em que teria havido o crime) sabe do caso desde o início do ano, mas só vai investigar agora. De resto, se Lula queria permitir que seu ministro se defendesse, poderia tê-lo afastado por meio de licença - mas preferiu demiti-lo no mesmo dia, pregando o último cravo no caixão da culpa.

Afora o golpe no identitarismo e o desastre que foi a condução do episódio, o affair Silvio Almeida traz muito o que pensar sobre a maneira pela qual se dá (ou não) o debate público atual. Almeida foi destruído nas redes antes que sequer se entendesse qual era a acusação. O necessário debate sobre como tratar de crime sexuais - em que é preciso proteger e dar crédito à vítima sem sacrificar a presunção da inocência - foi inviabilizado pela comoção pública.

A cultura do cancelamento, criada pelo identitarismo e turbinada pelas redes, se alastrou, e nosso reflexo generalizado é xingar antes e fazer perguntas nunca. Isso provoca injustiças, destrói reputações, interdita o debate, alimenta a polarização e põe em risco a democracia.

Precisamos escapar dessa armadilha.


O desafio americano

  É evidente que o X desafia claramente as ordens de censura e banimento impostas pelo ministro Alexandre de Moraes e permite que seus 20 milhões de clientes brasileiros voltem a navegar por ele. Passados 24 horas do retorno, Moraes e as autoridades que o apoiam, como Polícia Federal e Anatel, não sabem o que fazer para que suas ordens sejam cumpridas.

Até agora, nem mesmo a tresloucada multa para quem ouse usar o X foi aplicada.

O X opera em função de uma atualização operacional realizada pela rede social X. Os usuários conseguem acessar a plataforma de forma livre, sem acesso por meio de aplicativos de Virtual Private Network (VPN), mecanismo usado para burlar a suspensão. No frigir dos ovos, arede X trocou o endereço eletrônico que foi bloqueado e passou a hospedá-lo nos servidores da Cloudflare, empresa norte-americana especializada na segurança de sites. Diferente do sistema anterior, que utilizava IPs específicos e passíveis de bloqueio, a nova estrutura baseada no Cloudflare compartilha IPs com outros serviços legítimos, como bancos e grandes plataformas de internet", disse a associação.

O problema de Moraes e seus agentes, repete o trauma que foi o confisco de dinheiro da Starlink, porque um bloqueio inadequado pode impactar negativamente empresas e serviços essenciais, prejudicando milhares de usuários.

Tempo

 A Sala de Situação do Estado prevê o avanço de uma frente fria com tempestades pelo Rio Grande do Sul.

A Defesa Civil de Porto Alegre, por exemplo, alerta para a possibilidade de chuvas fortes e rajadas de ventos entre 40km/h e 60km/h, a partir das 20h desta quinta-feira, 19, até as 21h de sexta-feira, 20. 

A MetSul informa que esta quinta-feira começa com tempo firme no Rio Grande do Sul e o sol aparece em todas as regiões, mas no decorrer do dia a nebulosidade aumentará no Estado.

Diz o boletim da MedtSul:

Áreas de instabilidade trazem chuva isolada da tarde para a noite na dianteira de uma frente fria que provoca chuva generalizada hoje à noite no Oeste, Sul e parte do Centro do estado. Há risco de chuva forte e de temporais isolados. Antes da mudança do tempo, ar mais quente ingressa com fumaça de queimadas e a tarde terá um pouco de calor em algumas cidades, como nos vales e na Grande Porto Alegre que terão máximas na tarde de hoje perto e ao redor de 30ºC.