Desempenho do PIB no primeiro trimestre foi melhor do que o esperado

o Os dados de atividade seguem registrando desempenho acima do esperado. As vendas do comércio varejista ampliado avançaram 1,7% na passagem de janeiro para fevereiro. Já a receita real de serviços cresceu 1,1%, após queda de 3% em janeiro. Esses resultados apontam para um crescimento resiliente do consumo das famílias nos primeiro trimestre. Essa dinâmica é reforçada pela aceleração no ritmo de contratações no mercado de trabalho formal. Em março, a geração líquida de emprego com carteira de trabalho assinada foi de 195 mil vagas, isto é, 300 mil vagas quando retiramos os efeitos sazonais. Os números corroboram a nossa leitura de avanço do PIB em cerca de 1,3% no 1° trimestre, com influência positiva do setor agrícola, mas também com números positivos nas outras atividades. Seguimos esperando acomodação da atividade econômica à frente, refletindo o aperto monetário em vigor. Revisamos nossa expectativa de crescimento do ano, de 1,5% para 1,8%.


o Essa desaceleração gradual se reflete também na dinâmica de inflação. O processo de desinflação segue em curso: o IPCA-15 desacelerou para 0,57% em abril, influenciado sobretudo por gasolina e alimentos. O índice acumula alta de 4,2% nos últimos 12 meses. Porém, a dinâmica de preços de determinados bens e serviços ainda mostra alguma persistência, mantendo os núcleos de inflação mais pressionados. De fato, esperamos desaceleração apenas gradual desses núcleos, que devem se estabilizar ao redor de 5% no final de 2023. Mantemos nossa projeção de 6,2% do IPCA em 2023. 


o Da mesma forma, a arrecadação de impostos recua lentamente. Ainda refletindo as desonerações de 2022, a arrecadação recuou 0,4% em relação ao mesmo período do ano anterior, já descontando a inflação. Os impostos relacionados ao faturamento das empresas também perdem força, mas as linhas mais relacionadas com o mercado de trabalho mantêm bom ritmo de crescimento. Ao longo do ano, esperamos que as receitas recorrentes acelerem, em linha com um cenário de crescimento ainda resiliente no começo do ano, com desaceleração gradual à frente. Para esse ano, esperamos déficit primário de 1% do PIB. Com o novo arcabouço, a redução desse déficit para os próximos anos passa por um aumento da receita como proporção do PIB, além do cumprimento das regras de gasto. 


o Algum grau de resiliência da atividade econômica também aparece nos EUA e na Europa. O PIB dos EUA avançou 1,1%, na variação trimestral dessazonalizada e anualizada. O menor crescimento em relação ao trimestre anterior é explicado por uma contribuição bastante negativa da variação de estoques. As aberturas do dado mostram que há crescimento elevado do consumo, com bom desempenho de varejo e serviços. Na Área do Euro, a atividade econômica avançou 0,1% no primeiro trimestre, descontado os efeitos sazonais. De modo geral, o consumo das famílias segue garantindo alguma resiliência, mas a atividade deve desacelerar ao longo do segundo semestre, refletindo de forma mais intensa os efeitos do ciclo de aperto monetário. Os resultados da semana sugerem cautela na condução da política monetária, com ajustes adicionais e baixa probabilidade de cortes ao longo do ano.