Depoimento de Francisco Milman, advogado, de Jerusalém, Israel

Depoimento de Francisco Milman, advogado, de Jerusalém, Israel

Faz dez dias que estou em Israel. No domingo retrasado, oito de
janeiro, como todos sabem, houve um atentado terrorista praticado por
um árabe-israelense, ou seja, por alguém cuja família reside em Jerusalém. Era um
cidadão israelense, que aqui vivia e usufruia de todas as benesses que
um estado de direito democrático e desenvolvido pode oferecer. Eu
estava próximo ao local do atentado, na estação central de ônibus
desta cidade impressionante, a apenas algumas quadras do local
turístico, para onde uma excursão dos soldados fora levada, É um mirante
do qual se vê toda a cidade.Percebi que muitos dos israelenses que
passavam por mim, muitos soldados inclusive, estavam abatidos e
cabisbaixos. Alguns choravam. Afinal, o ataque teve como alvo um grupo
de jovens soldados, homens e mulheres, que faziam um passeio em grupo.
Quatro soldados, três mulheres e um homem, morreram na hora. O ataque
se deu por meio de um caminhão que o terrosrista árabe lançou sobre os
jovens, covardemente.

O que me chamou a atenção foi uma conversa que  presenciei entre um
soldado que recém perdera seus companheiros e uma jovem que me
atendia numa agência de telefonia. O soldado dizia para ela que não
compreendia mais esse ato de terror. Afinal, eles (os terroristas) não sabem,, disse e o soldado, que quanto mais nos atacam, mais os
israelenses se fortalecem, mais a nação se solidariza com as vítimas e
mais o povo judeu deseja dar segurança a todos os seus irmãos? A
conversa tocou-me. Senti algo que é quase impossível sentir no Brasil,
a certeza de pertencimento, de fazer parte de algo maior que dá
sentido às coisas.

A realidade, apesar de muitas pessoas não saberem disto, é que aqui em
Israel, ainda bem, morrem pouquíssimas pessoas por meio da violência,
seja devido ao terrorismo, seja devido a crimes comuns ( que possuem
índicies irrisórios); mas se percebe claramente a sensação de que uma
vida tem muito valor e é tarefa de todos, desde o soldado e do
policial, até o vendedor de falafel (lanche típico de Israel) proteger
uns aos outros e ajudarem-se como puderem. A perda de uma vida aqui é
intolerável, é algo que gera consternação em todos. Sente-se a
irresignação com a injustiça por parte de cada um.

Para quem está vindo de fora, até parece haver um paradoxo, pois ao
mesmo tempo que uma tragédia dessas acontece e o pais mantém sua
normalidade social – no sentido de que a vida no dia-a-dia continua
normalmente – as pessoas em todos os lugares possuem plena consciência
da importância de honrar seus mortos e sentem profundamente suas
perdas. Mas é um paradoxo apenas aparente: Israel é um pais que não pode
se dar o luxo de ser abalado, porque deve reagir imediatamente. É por
isso que os inimigos de Israel nunca prevaleceram. O país sempre
reagiu com determinação, força e agilidade. Enquanto as pessoas, de
fato, sofrem - e muito- com as perdas, ao mesmo tempo, estão prontas,
como parte de uma nação solidária, para sobrepujar o inimigo e
responder a ele imediatamente. Assim, não há paradoxo algum; pelo
contrário, é justamente essa capacidade de sofrer e sentir a dor do
próximo que faz de Israel um gigante.. Como brasileiro, senti um misto
de tristeza e vergonha, pois venho de um lugar antípoda a Israel. No
Brasil, a violência e a morte são parte da rotina: assassinatos,
estupros, mal tratos de todo tipo, chacinas, fazem parte da paisagem
brasileira, tornaram-se rotineiros, comuns, banais, um modo de vida
com o qual se convive, desde que não atinja “a mim”. Vive-se a lógica do cada um por si. Aí está o grande
problema, esse egoísmo que permeia a sociedade brasileira é
diretamente responsável pelo caos que tomou conta do pais. Apesar de

atentados como o dia oito, sintome-me feliz de ter vindo a Israel!