Marchezan entrega LI do Cais Mauá

Em ato realizado nesta terça-feira, no pórtico central do Cais, a Prefeitura de Porto Alegre entregou ao empreendedor Cais Mauá do Brasil S.A a Licença de Instalação, que permite o início das obras de revitalização do Cais Mauá..

No discurso, o prefeito Nelson Marchezan Júnior agradeceu aos empreendedores, que persistiram e continuam acreditando em Porto Alegre. Ele reafirmou a importância das parcerias privadas para a execução de serviços e de investimentos necessários para a população. “Porto Alegre vai ganhar, sem recursos públicos, áreas de lazer, restaurantes, praças, lojas e negócios. É a nossa entrada da cidade”, destacou, enfatizando que haverá um sentido de pertencimento à população.

Já o governador José Ivo Sartori disse que esse é um momento histórico e que a revitalização não é apenas para os porto-alegrenses, mas para todos os gaúchos e gaúchas. “Essa paisagem é o maior patrimônio da nossa Capital. O que desejamos é que seja devolvida a todos”, completou.

O projeto – A primeira etapa consiste no restauro de 11 armazéns para uso cultural e comercial e implantação de dez praças. O Muro da Mauá será recuperado, com previsão de um trecho com queda d’água e outro com revestimento de vegetação, além de um estacionamento com 400 vagas. O projeto está amparado por estudos e projetos de dois dos mais reconhecidos escritórios de arquitetura e urbanismo do mundo: do brasileiro Jaime Lerner e do espanhol b720 Fermín Vázquez, autor do projeto do Mercado dos Encantos, em Barcelona, entre outros.

Depois dos armazéns, será a vez das docas, que deverão ganhar um centro de eventos e três torres – um hotel e dois edifícios comerciais. A Praça Edgar Schneider será revitalizada. A terceira fase contempla a região entre a Usina do Gasômetro e o Armazém A6, que deverá contar com centro comercial de dois andares e jardim previsto no terraço. O estacionamento coberto vai abrigar 2,2 mil veículos. Cada uma dessas etapas tem previsão de durar dois anos.

Tito Guarniere - Os tucanos

Dizem os cronistas que os tucanos, o PSDB, quando não têm a quem combater, combatem a si mesmos. Isto é, têm o costume de se engalfinhar em lutas internas meio inglórias. Foi o caso recente da disputa que envolveu Aécio Neves, presidente licenciado, Tasso Jereissatti e Marconi Perillo, estes candidatos à sucessão do senador mineiro.

Não faltou quem tenha decretado o fim da legenda. Os jornalistas políticos, principalmente os da grande imprensa, sofrendo de alta ansiedade, estão sempre querendo adivinhar o futuro. Melhor seria que não o fizessem, pois tantas vezes não conseguem nem analisar o passado, o que já aconteceu. Muitos deles querem apenas antever os fatos para os quais eles torcem. Mas este é um problema sério dos fatos: eles têm vida própria, não dependem de aprendizes de vidência, e menos ainda da vontade e desejo de alguns escribas e comentaristas.

Ou o embate não era tão belicoso, ou os bombeiros tucanos, chamados a intervir, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o governador paulista Geraldo Alckmin, são muito persuasivos. O que era - segundo um grupo de figurões do colunismo político - um incêndio de proporções devastadoras, ou não passava de um foguinho de folhas secas e gravetos, ou todos (os tucanos) viram, de repente, que era melhor baixar a guarda, entregar as armas, fazer as pazes.

Foi o que aconteceu com o acerto entre as facções, de conduzir à presidência o governador paulista Geraldo Alckmin ao comando do partido, e de quebra, praticamente, consagrando-o como candidato presidencial do partido.

Porém, mesmo com a “pax tucana”, celebrada em nível, os mesmos comentaristas que previam a extinção do PSDB, agora, como sempre afoitos e ansiosos, têm a acerteza de que ela é “precária”, isto é, que daqui a pouco quebra o pau de novo. Vamos ver.

Claro, é preciso ver se este acordo de paz interno vai servir aos seus propósitos, isto é, tornar o PSDB, e Alckmin, viáveis eleitoralmnte, já que ambos, candidato e partido, estão muito atrás nas pesquisas. É preciso combinar com os russos, isto é, o distinto público, o eleitorado.

Tem muita água para rolar debaixo da ponte. Só o tempo e as urnas dirão com clareza se os eleitores brasileiros punirão os tucanos pela aliança com Temer. Começamos, pois, com uma equação simples: na campanha, na eleição, o governo Temer ainda estará com os atuais e sofríveis índices de aprovação? Há projeções de gente sensata de que em 2018 a economia brasileira crescerá 3%. E há também otimistas meio desvairados que falam em 4%. Se for assim, pode escrever: Temer não puxará para baixo nenhum candidato que ele apoie, e nenhuma força política sofrerá perda eleitoral porque o apoiou em algum momento.

Os tucanos estão no páreo hoje mais do que ontem, quando se bicavam entre si. A começar porque tem um bom nome. Me perdoem os que discordarem, mas Alckmin é um nome respeitável, tanto ou mais do que Marina, Álvaro Dias, Lula (Argh!) Bolsonaro (Argh!), Ciro Gomes (Argh!) e outros menos votados. O PSDB tem sólidas bases eleitorais espalhadas nas regiões do país, tem capacidade de ampliar alianças, tem tempo de rádio e televisão. Não é pouco.


titoguartniere@terra.com.br

Sérgio Lazzarini, Estadão - Para além da Lava Jato

Sérgio Lazzarini, Estadão - Para além da Lava Jato

A Operação Lava Jato vem escancarando, como nunca antes visto, o nosso capitalismo de laços. Ainda assim, muitos lançam dúvida sobre o seu poder transformador. O caso mais lembrado é o da Itália, cuja Operação Mãos Limpas inspirou Sérgio Moro. Ali, apesar do indiciamento de quase 3 mil empresários e políticos, o processo abriu espaço para a emergência de figuras controversas (como Silvio Berlusconi) e, segundo muitos, só fez gestar corruptos ainda mais sofisticados.

Entretanto, como escrevi neste jornal há quase um ano, em 30/4/2015, uma comparação mais apropriada ao momento atual brasileiro não é a Itália, mas, sim, os EUA no final do século 19. Naquela época, os EUA eram como um grande país emergente atual: corrupção generalizada, políticos nos bolsos dos empresários e setores dominados por grandes grupos. Uma forte depressão, custos de vida elevados e casos recorrentes de corrupção alimentaram a insatisfação popular. Reivindicações e críticas se multiplicavam, favorecidas por custos de distribuição de notícias cada vez menores (como ocorre nas mídias sociais de hoje). Respondendo ao clamor popular, novas leis e o combate vigoroso a práticas anticompetitivas limitaram o poder das grandes corporações. Figuras públicas que se notabilizaram por denunciar corruptos e pregar profissionalismo na gestão pública passaram a emergir e ser recompensadas pelas urnas.

Seguirá o Brasil essa mesma trajetória? Tudo indica que estamos num ponto de inflexão com dois potenciais resultados diametralmente opostos. No desfecho ruim, a pressão popular descamba para violência e viés partidário; decisões apressadas e sem amparo em provas minam a legitimidade das investigações em curso; políticos com histórico duvidoso e discurso fácil ganham espaço e tentam minar as investigações; e a economia degringola com medidas populistas e irresponsáveis. No desfecho bom, as investigações seguem firmes com serenidade e rigor processual; desvios comprovados são punidos de forma exemplar, independentemente de partidos ou orientações políticas; surge um governo mais orientado para as necessárias reformas; e novas eleições recompensam os melhores e colocam os corruptos no ostracismo.

Por definição, um ponto de mudança é largamente incerto. Os teóricos de mudança institucional enfatizam que grandes transformações ocorrem por um acúmulo de pequenos eventos e condições particulares. Crucial, neste processo, será a contínua pressão social. Como nos EUA no fim do século 19, a crise atual é um desalento, mas tende a manter viva a insatisfação popular. Os políticos mais visionários responderão a essa insatisfação com boas propostas e aprovação de leis transformadoras. De fato, já tramitam projetos de lei que, se aprovados, ajudarão a coibir novas irresponsabilidades (por exemplo, propostas para reduzir a intervenção política nas estatais e disciplinar a distribuição de subsídios, entre várias outras).


A mensagem decisiva, entretanto, deverá ser dada pelas urnas, nas próximas disputas. O cálculo dos políticos é simples: eles fazem tudo o que aumenta a sua chance de eleição. Na receita antiga, o jogo era simplesmente arrecadar mais dinheiro de campanha via acordos com empresas doadoras em troca de benesses públicas. Mas a crise atual secou os cofres do Estado e os empresários, com risco real de cadeia, já se mostram reticentes. Ainda que o vácuo político gerado pelas investigações possa abrir espaço para oportunistas, pode também facilitar a entrada de candidatos com bons projetos patrocinados por mecanismos mais democráticos de arrecadação. As novas mídias deverão disseminar informações sobre os candidatos e denunciar aqueles com propostas vazias. Teremos uma chance se os eleitores efetivamente recompensarem um novo e melhor comportamento político. Se não é a certeza, pelo menos é a esperança – e algo pelo qual todos nós podemos lutar nos próximos anos.