A família é o primeiro lugar onde a pessoa aprende a ser
pessoa e a se relacionar com os demais
Lígia Miranda de Oliveira Badauy
Atualmente é muito comum utilizarmos o termo
sustentabilidade em diversos contextos, especialmente quando nos referimos ao
meio ambiente e ao crescimento econômico. Quando afirmamos que algo é
sustentável significa que pode ser sustentado ao longo do tempo. Nesse sentido,
vale refletir o que torna a sociedade passível de se sustentar ao longo do
tempo de forma saudável e humana. Famílias comprometidas e estáveis são
essenciais para a sustentação de uma sociedade sadia.
A família é o primeiro lugar onde a pessoa aprende a ser
pessoa e a se relacionar com os demais. Famílias comprometidas e estáveis têm
vínculos mais fortes: cria-se um ambiente propício para que haja a confiança
necessária para um desenvolvimento mais humano de cada um dos seus membros e o
respeito devido a dignidade inerente de cada pessoa. Nesse tipo de ambiente, as
pessoas aprendem a se relacionar de forma saudável, o que as ajudará a
desenvolver as habilidades necessárias para manter relações saudáveis em outros
ambientes de convivência.
A instituição familiar é atualmente a grande desassistida
dos sistemas jurídicos
Também é no interior das famílias que se transmite a
cultura de um povo. Se falamos em sustentabilidade social, econômica e
ambiental, e não inserimos a cultura como fator operativo do conceito de
sustentabilidade, acabamos por cair em abstrações de difícil resolução. É
através da transmissão de uma cultura rica em valores de cidadania que se pode
formar cidadãos aptos a realizarem a sua vida de forma sustentável e
equilibrada: o que levará, naturalmente, a uma sociedade igualmente sustentável
e equilibrada. A família é o habitat natural onde se transmitem os valores e a
cultura de uma nação.
Mas o que fazer quando o panorama é desfavorável? A
instituição familiar é atualmente a grande desassistida dos sistemas jurídicos.
Em parte, porque os governos não se dão conta do potencial papel das famílias
na resolução de boa parte dos problemas sociais (drogas, violência, abandono,
educação, saúde, etc.), e em parte porque há uma grande dificuldade de se
passar da retórica para a ação (muitos políticos reconhecem o papel social da
família, mas não sabem como ajudá-la na prática).
O processo de empoderamento das famílias passa pela remoção
de todas as barreiras a sua participação ativa na sociedade, especialmente com
relação à moradia, à saúde e à educação. Quando as famílias não possuem o
mínimo para a sua subsistência, elas deixam de olhar para a pessoa como meta, e
passam a focar apenas no mínimo que lhes falta: comida, moradia e doenças. É
essencial que os tomadores de decisão conheçam e utilizem uma perspectiva de
família sempre que precisarem decidir sobre algum tema. Da mesma forma que se
avalia qual será o impacto econômico ou ambiental de cada medida, é necessário
refletir também sobre qual será o impacto sobre as famílias.
A partir de uma perspectiva de família é importante que
se realizem estudos para identificar as reais necessidades das famílias no
Brasil. Tais estudos, baseados em evidências, ajudam a retirar o assunto
família do campo ideológico e a considerá-lo como ponto de encontro para a
criação de consensos. Alguns princípios norteadores são: a política ou programa
deve ajudar e não substituir as famílias em suas responsabilidades; promover e
reforçar o compromisso conjugal e parental; reconhecer a interdependência das
relações familiares; empoderar as famílias através de programas; reconhecer a
diversidade existente em cada família; e apoiar as famílias mais vulneráveis.
Não pode haver desenvolvimento sustentável sem um olhar
atento sobre quem é o ser humano. A pessoa humana é tão autora de desagregação
social quanto de desenvolvimento humanizado e sustentável. Cada ser humano
agregará mais valor e humanidade às suas ações na medida em que tiver aprendido
e crescido em um ambiente humanizado e rico em valores. Eis o ciclo virtuoso
que todos desejamos para nosso Brasil.
- A autora, Lígia Miranda de Oliveira Badauy é cientista política e
especialista em Matrimônio e Educação Familiar.
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