Artigo, Antonino Camelier - Cigana descr4effe o que aconterá no seis de abril

Aqui em Campinas há um bairro, de classe média alta, com uma grande concentração de ciganos.


Nas feiras-livres das redondezas eles sempre surgem e chamam a atenção pelas roupas típicas que, soube, na verdade remontam ao vestuário dos camponeses romenos do século XIX.


Numa dessas oportunidades, estava eu comprando frutas quando uma cigana de meia-idade se aproximou e perguntou se poderia ler a minha mão. 


Permiti. E, curiosamente, a primeira coisa que ela falou foi que eu gostava de política.


Interrompi bruscamente a quiromancia e perguntei se ela tinha uma bola de cristal, pois eu queria muito saber os destinos do ex-presidente Bolsonaro agora que ele tinha virado réu.


A cigana cerrou os olhos, respirou profundamente e disse:


— Moro aqui perto, e lá tenho os elementos rituais para esta consulta, que vai lhe custar a bagatela de cem reais!


Rapidamente concordei, ressalvando, porém, que tinha que ser logo, em razão de outros compromisso que tinha assumido. Ela apenas fez um sinal com o claro significado de “me siga!”.


Em poucos minutos cheguei numa casa térrea, elegante, e com um enorme quintal onde se destacava uma tenda colorida. Entramos naquele ambiente de lona, iluminado apenas pela luz solar que invadia algumas frestas laterais.


O mobiliário se limitava a uma pequena mesa, três cadeiras e um armário, do qual a cigana retirou uma caixa que continha uma pequena esfera de um cristal limpíssimo, envolta em veludo azul.


Sete palitos de incenso odor rosa foram acesos, a bola de cristal colocada no centro da mesa, nos acomodamos e, então, após uma invocação com palavras em “romani”, as previsões se iniciaram...


— Vejo milhões de pessoas inconformadas com o fato de Bolsonaro ter se tornado réu, vejo milhares rindo felizes com esta injustiça, mas também vejo muitas dezenas gargalhando com a crueldade que praticaram! – iniciou a cigana, gesticulando sem cessar com as mãos próximas à bola de cristal.


E continuou:


.— Um único homem está, a um só tempo, satisfeito e preocupado: é o juiz calvo! Ele comenta com seus subordinados que Bolsonaro precisa ser preso, pois agora há um motivo!


— Como assim? Que motivo pode haver? – indaguei surpreso.


— O juiz calvo está explicando que Bolsonaro pode contagiar multidões 

contra a Suprema Corte, desestabilizando o sistema de justiça e, por tabela, as instituições democráticas. Um dos juízes auxiliares sugere colocar tornozeleiras eletrônicas e impedi-lo de sair de Brasília, além, é claro, de se aproximar de embaixadas. O magistrado principal balança negativamente a cabeça sem cabelos e diz que há uma solução melhor...


— Como assim? – repliquei aflito e repetitivo.


— O juiz calvo diz que a única solução é a prisão! E, com um sorriso sinistro, completa que pensa até em colocá-lo numa solitária, sem acesso a parentes e muito menos advogados! Os juízes auxiliares, servis, aplaudem a ideia do chefe e perguntam quando devem expedir o mandado de prisão.


— Minha nossa! – exclamei! — Quando será isso?


E a cigana, quase desaparecendo nas marolas do incenso, fitou a esfera de cristal, arregalou os olhos e continuou, dessa vez com voz tensa:


— O juiz calvo lembra duas coisas aos seus asseclas: primeiro, que ele está respaldado por seus colegas, pois a denúncia contra Bolsonaro foi aceita por unanimidade, e , segundo, que está marcada para 6 de abril uma megamanifestação na Avenida Paulista, quando o réu golpista certamente vai incitar as suas hostes contra a democracia...

A cigana faz uma pausa e diz que um dos lacaios, praticamente babando, interrompeu o seu chefe para insistir em saber quando seria efetuada a prisão.

A pitonisa, então, cobriu os olhos com as mãos e disse que iria repetir as palavras do macabro juiz calvo, da forma como elas chegavam através de caminhos etéreos...

— A prisão será no próximo dia 6, número que me lembra o horário em que a Polícia Federal cumpre os seus mandados. Vai ser impactante! Bolsonaro preso às seis horas da manhã do dia 6! O comício fracassará e, como já sabemos,  a reação popular será pífia! Basta recordar que o Braga Neto, um general de quatro estrelas, foi preso, a caserna ficou caladinha e ninguém, absolutamente ninguém, fez nada. Com Bolsonaro será a mesma coisa! 

— E o que acontece depois? – indaguei, já apavorado!

A cigana fitou a bola de cristal por alguns segundo e depois soltou um grito lancinante! Atônito, perguntei o que tinha acontecido, e a resposta foi estarrecedora:

— Não vi mais nada, porque, de repente, a minha cristalina bola de cristal tingiu-se totalmente de sangue...

8 comentários:

  1. Maravilhosa crônica do nosso jurisconsulto Antonino!
    Parabéns Primo!!
    Como D. Bela costumava dizer: "Não há bem que nunca se acabe... mas também não há mal que dure para sempre!"

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  2. Muito bem escrito. Parabéns dr. Antonino Camelier. Deus salvará o Brasil e o presidente Bolsonaro.

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  3. Excelente crônica feita pelo escritor . Leitura envolvente com final retumbante. Parabéns

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  4. So poderia ser escrita por um grande escritor contador de história. Uma cronica envolvente e apaixonante. Parabéns Antonino

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  5. Uma cronica que nos leva a pensar em tudo que estamos vivendo em nosso paiz aonde o impensavel se realiza e passamos a meros espectadores de um pesadelo promovido por um Poder Judiciario Maligno e Mediocre Parabens ao Autor!

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  6. É uma obra de ficção, mas que se encaixa perfeitamente com a realidade atual. Antonino tem uma escrita de leitura sempre muito fácil e agradável.

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  7. Não duvido que seja uma profecia, assim como não duvido que o sangue de Bolsonaro seja derramado em algum momento.

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  8. Ele escreve com graca e leveza deixando a fotografia muito clara do que narra. Conta muito bem suas historias.

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