Aqui em Campinas há um bairro, de classe média alta, com uma grande concentração de ciganos.
Nas feiras-livres das redondezas eles sempre surgem e chamam a atenção pelas roupas típicas que, soube, na verdade remontam ao vestuário dos camponeses romenos do século XIX.
Numa dessas oportunidades, estava eu comprando frutas quando uma cigana de meia-idade se aproximou e perguntou se poderia ler a minha mão.
Permiti. E, curiosamente, a primeira coisa que ela falou foi que eu gostava de política.
Interrompi bruscamente a quiromancia e perguntei se ela tinha uma bola de cristal, pois eu queria muito saber os destinos do ex-presidente Bolsonaro agora que ele tinha virado réu.
A cigana cerrou os olhos, respirou profundamente e disse:
— Moro aqui perto, e lá tenho os elementos rituais para esta consulta, que vai lhe custar a bagatela de cem reais!
Rapidamente concordei, ressalvando, porém, que tinha que ser logo, em razão de outros compromisso que tinha assumido. Ela apenas fez um sinal com o claro significado de “me siga!”.
Em poucos minutos cheguei numa casa térrea, elegante, e com um enorme quintal onde se destacava uma tenda colorida. Entramos naquele ambiente de lona, iluminado apenas pela luz solar que invadia algumas frestas laterais.
O mobiliário se limitava a uma pequena mesa, três cadeiras e um armário, do qual a cigana retirou uma caixa que continha uma pequena esfera de um cristal limpíssimo, envolta em veludo azul.
Sete palitos de incenso odor rosa foram acesos, a bola de cristal colocada no centro da mesa, nos acomodamos e, então, após uma invocação com palavras em “romani”, as previsões se iniciaram...
— Vejo milhões de pessoas inconformadas com o fato de Bolsonaro ter se tornado réu, vejo milhares rindo felizes com esta injustiça, mas também vejo muitas dezenas gargalhando com a crueldade que praticaram! – iniciou a cigana, gesticulando sem cessar com as mãos próximas à bola de cristal.
E continuou:
.— Um único homem está, a um só tempo, satisfeito e preocupado: é o juiz calvo! Ele comenta com seus subordinados que Bolsonaro precisa ser preso, pois agora há um motivo!
— Como assim? Que motivo pode haver? – indaguei surpreso.
— O juiz calvo está explicando que Bolsonaro pode contagiar multidões
contra a Suprema Corte, desestabilizando o sistema de justiça e, por tabela, as instituições democráticas. Um dos juízes auxiliares sugere colocar tornozeleiras eletrônicas e impedi-lo de sair de Brasília, além, é claro, de se aproximar de embaixadas. O magistrado principal balança negativamente a cabeça sem cabelos e diz que há uma solução melhor...
— Como assim? – repliquei aflito e repetitivo.
— O juiz calvo diz que a única solução é a prisão! E, com um sorriso sinistro, completa que pensa até em colocá-lo numa solitária, sem acesso a parentes e muito menos advogados! Os juízes auxiliares, servis, aplaudem a ideia do chefe e perguntam quando devem expedir o mandado de prisão.
— Minha nossa! – exclamei! — Quando será isso?
E a cigana, quase desaparecendo nas marolas do incenso, fitou a esfera de cristal, arregalou os olhos e continuou, dessa vez com voz tensa:
Maravilhosa crônica do nosso jurisconsulto Antonino!
ResponderExcluirParabéns Primo!!
Como D. Bela costumava dizer: "Não há bem que nunca se acabe... mas também não há mal que dure para sempre!"
Muito bem escrito. Parabéns dr. Antonino Camelier. Deus salvará o Brasil e o presidente Bolsonaro.
ResponderExcluirExcelente crônica feita pelo escritor . Leitura envolvente com final retumbante. Parabéns
ResponderExcluirSo poderia ser escrita por um grande escritor contador de história. Uma cronica envolvente e apaixonante. Parabéns Antonino
ResponderExcluirUma cronica que nos leva a pensar em tudo que estamos vivendo em nosso paiz aonde o impensavel se realiza e passamos a meros espectadores de um pesadelo promovido por um Poder Judiciario Maligno e Mediocre Parabens ao Autor!
ResponderExcluirÉ uma obra de ficção, mas que se encaixa perfeitamente com a realidade atual. Antonino tem uma escrita de leitura sempre muito fácil e agradável.
ResponderExcluirNão duvido que seja uma profecia, assim como não duvido que o sangue de Bolsonaro seja derramado em algum momento.
ResponderExcluirEle escreve com graca e leveza deixando a fotografia muito clara do que narra. Conta muito bem suas historias.
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