Luiz Inácio Lula da Silva tem um histórico de gestos generosos com
o sistema financeiro. E seu mais recente presente — um novo modelo
de crédito consignado — não foge à regra. Vendido como “inclusão
financeira”, com juros “acessíveis” de 40,84% ao ano e uma migração
estimada de R$ 85 bilhões em crédito pessoal, segundo a Febraban,
o plano parece, à primeira vista, um alívio para o trabalhador. Mas
sob o verniz de bondade, esconde-se algo sombrio: uma plataforma
de vigilância e controle que transforma o salário em instrumento de
submissão e o CPF em um marcador de obediência ao sistema.
O cerne dessa nova modalidade não está nos juros, ainda altos apesar
da propaganda, nem na suposta facilidade de acesso. Está no poder
que ela entrega aos bancos. Com acesso direto à folha de pagamento,
ao saldo do FGTS e a um banco de dados detalhado — nome, tempo de
serviço, estabilidade do setor, rotatividade da empresa —, as instituições
financeiras ganham uma janela privilegiada para a vida do trabalhador.
Esses dados, nas mãos de algoritmos opacos, viram ferramentas de
perfilamento. O que hoje é “risco de crédito” pode amanhã ser “risco de
comportamento”. Critérios como “posicionamento político”, “religião”
ou até “conformidade ambiental” estão a um passo de distância,
tecnicamente simples de integrar. Em um mundo onde a tecnologia já
rastreia nossos hábitos e pensamentos, o consignado de Lula abre a
porta para um controle financeiro que vai muito além do dinheiro.
O mecanismo é engenhoso. Se o trabalhador é demitido, a dívida
recai sobre a empresa; ao buscar novo emprego, ele carrega um
estigma silencioso, um alerta invisível em seu CPF. O que parece um
empréstimo é, na verdade, uma corrente: o indivíduo se torna refém de
um sistema que usa sua própria subsistência como garantia. O salário,
que deveria ser símbolo de liberdade, vira âncora; a dívida, que deveria
ser transitória, passa a defini-lo permanentemente. Não é apenas
endividamento — é a construção de um modelo onde o trabalhador é
monitorado, classificado e punido por critérios que ele sequer controla.
Relembremos o mensalão, quando o consignado original foi
lançado. Naquela época, o governo petista usou o crédito facilitado
como moeda de troca política, enquanto os bancos lucravam com
risco mínimo. O padrão se repete, mas agora com um upgrade: o
controle é mais sofisticado, mais invasivo. O que era um esquema de
favorecimento aos banqueiros ganhou contornos de ferramenta de
opressão. Lula, com seu conhecido apreço pelo sistema financeiro,
entrega não só lucros, mas também as rédeas da vida dos trabalhadores
a quem já detém poder demais.
Esse consignado não é um benefício. É um experimento de vigilância
travestido de política social. Transforma o cidadão em um número, sua
renda em garantia de lucro e sua existência em um perfil a ser julgado.
Lula pode chamá-lo de progresso, mas é, na essência, uma forma de
dominação — um passo a mais na direção de um futuro onde a dívida
não só prende o bolso, mas também a alma. Lula é o algoz do povo e o
santo padroeiro da Faria Lima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário