Inadimplência dasfamílias aumentou muito em abril

 O estoque total de crédito registrou avanço de 11,5% em termos interanuais no mêsde abril, segundo informam os economistaas do bradesco, mas o crédito direcionado segue crescendo a uma taxa mais acelerada do que o crédito livre: 13,0% contra 10,4%.

As novas concessões de crédito livre para as famílias recuaram em relação a março. No entanto, essa queda não reverte toda a elevação observada no mês anterior. Os novos empréstimos para pessoas físicas ainda estão 6,5% acima do nível de fevereiro. Praticamente todas as modalidades apresentaram queda em relação a março, com exceção do crédito consignado privado, que está crescendo em ritmo acelerado — enquanto as demais linhas consignadas encolheram no mês. O financiamento imobiliário teve alta na variação mensal, mas tem se mantido próximo de uma média constante nos últimos dois trimestres.

No caso das empresas, os novos empréstimos aumentaram em abril, com destaque para desconto de duplicatas e recebíveis e antecipação de faturas de cartão de crédito. O crédito direcionado para pessoas jurídicas acelerou em todas as modalidades. 

o A taxa de juros para pessoa física subiu para 35,8% ao ano em abril. Destaca-se o aumento expressivo da taxa do crédito consignado privado, que passou de 44,0% em março para 59,1% em abril, superando a taxa do crédito pessoal não consignado. Para as empresas, houve elevação dos juros no crédito livre (de 23,6% para 26,0%) e queda no direcionado (de 18,3% para 15,9%), puxada principalmente por operações com recursos do BNDES.

o A inadimplência do crédito livre para pessoa física aumentou de 5,6% em março para 6,0% em abril. O aumento foi observado em todas as modalidades, exceto no crédito consignado privado. Destaca-se também o crescimento da inadimplência do crédito rural para pessoas físicas, que atingiu 3,1% em abril ante 2,7% no início do ano. No caso das pessoas jurídicas, a inadimplência também avançou e chegou a 3,1% em abril. 

o O comprometimento da renda das famílias com o serviço da dívida registrou pequena queda: passou de 27,3% para 27,2% em março. Paralelamente, o nível de endividamento no período ficou em 48,6%.


Artigo, Norma Brezolin - Bonecas Reborn e Carrinhos de Miniatura: Refúgios Emocionais em Tempos de Incerteza

Norma Brezolin | Psicoterapeuta

Introdução

Muito se tem falado ultimamente sobre os bonecos de silicone hiper-realistas — conhecidos como Reborn. Esse tema, embora aparentemente singelo ou até mesmo exótico, carrega implicações profundas e variadas: desde aspectos comerciais, passando por questões jurídicas, até, inevitavelmente, temas ligados à saúde mental.

 É um tema complexo, com múltiplas nuances, e seria, no mínimo, irresponsável generalizar, incluindo todas as pessoas que adquirem esses bonecos no mesmo balaio. Há casos em que o uso temporário dessas bonecas pode ter uma função terapêutica ou simbólica legítima, como, por exemplo, no luto perinatal ou na preparação emocional para a maternidade.

Entretanto, não podemos ignorar que, na maioria dos casos, o que observamos é um fenômeno que se relaciona com uma tendência do ser humano contemporâneo: substituir relações autênticas com outros seres humanos por vínculos, por vezes intensos, com objetos inanimados, ainda que hiper-realistas. Muitas vezes, é mais fácil e menos arriscado dedicar-se a um boneco do que, por exemplo, visitar uma criança em um orfanato, doar um presente ou se envolver com as dores e alegrias do outro real.

A Regressão como Mecanismo de Defesa

Gostaria de trazer à tona aqui um aspecto específico e pouco comentado: a regressão. Em Psicologia, entendemos a regressão como um mecanismo de defesa, acionado especialmente quando o indivíduo se encontra sobrecarregado emocionalmente, acuado por conflitos internos ou por um ambiente externo que ele percebe como hostil e imprevisível.

Quando a realidade se torna demasiadamente dolorosa ou incerta, a pessoa pode, de forma inconsciente, recorrer a comportamentos ou pensamentos característicos de estágios anteriores do seu desenvolvimento psíquico — onde se sentia mais segura, cuidada, livre de responsabilidades.

Vivemos tempos em que essa sobrecarga emocional é praticamente onipresente: o medo da violência urbana, a insegurança jurídica, a sensação de impotência frente a instituições que deveriam proteger, mas muitas vezes falham; a crise econômica que corrói o poder de compra, a precarização das relações de trabalho. Tudo isso contribui para um cenário de fragilidade emocional.

Não surpreende, portanto, que muitos encontrem nas bonecas Reborn uma forma de regredir simbolicamente para um espaço emocional de aconchego, de controle e previsibilidade — mesmo que ilusórios.

Não Apenas Mulheres: O Caso dos Automóveis de Miniatura

 Engana-se quem pensa que esse fenômeno se restringe ao universo feminino ou exclusivamente aos bonecos Reborn. Os homens também não estão imunes a essa dinâmica.

Permita-me compartilhar, sem, obviamente, revelar qualquer dado que comprometa a ética profissional, a história de um dos pacientes que atualmente acompanho. Ele é diretor-executivo de uma grande empresa multinacional, referência no seu setor de atuação. Recentemente, a empresa contratou serviços de Inteligência Artificial corporativa, de altíssimo nível — não aquelas ferramentas genéricas de IA que vemos em aplicativos abertos ao público, mas soluções robustas e sofisticadas, capazes de automatizar processos inteiros.

Nos departamentos financeiro, contábil e fiscal, já houve uma grande reestruturação, com cortes significativos de pessoal. Embora, racionalmente, esse executivo acredite que sua posição no topo da hierarquia está segura, nas nossas sessões de psicoterapia online emergiu, com clareza, um medo inconsciente: o receio de ser, ele também, substituído pela máquina.

Como lidar com esse medo, que é real, embora não imediatamente concreto? A resposta do seu psiquismo foi a regressão: ele passou a comprar, de forma compulsiva, automóveis de miniatura — réplicas perfeitas de modelos de luxo, algumas com valores que ultrapassam os mil dólares por unidade.

Ele justifica para si e para os outros que essa coleção é um hobby, uma forma “mais racional” de viver sua paixão por automóveis, já que não tem como sustentar uma frota de carros reais de altíssimo padrão. Mas, nas entrelinhas do seu discurso, o que emerge é um deslocamento afetivo: os carrinhos não são apenas objetos de lazer, mas um símbolo inconsciente de uma tentativa de manter sob controle um mundo que, na realidade, escapa cada vez mais das suas mãos.

O Lado Lúdico é Saudável — a Fuga da Realidade, Não

É importante afirmar que não há nada de errado em manter um lado lúdico, brincar, colecionar objetos que remetam à infância ou aos sonhos de outros tempos. Pelo contrário, conectar-se com a própria criança interior é saudável e necessário.

O que não podemos — enquanto sociedade, enquanto indivíduos — é permitir que esses gestos se transformem numa fuga permanente da realidade. A substituição das relações humanas autênticas por vínculos com objetos inanimados revela, em muitos casos, uma dificuldade de elaborar medos profundos, inseguranças existenciais e angústias ligadas às transformações inevitáveis da vida.

O avanço tecnológico, incluindo a Inteligência Artificial, é inexorável. Assim como não podemos evitar pandemias, guerras ou catástrofes climáticas, também não podemos frear o progresso técnico. Mas podemos — e devemos — salvar o nosso mundo interior, resgatar a nossa capacidade de enfrentar as dificuldades de maneira madura, consciente e criativa.

Como Desenvolver Alternativas para Enfrentar Dias Difíceis?

O primeiro passo é reconhecer que todos nós, em maior ou menor grau, buscamos refúgios para aliviar a dor ou a ansiedade. Não há vergonha nisso. Mas o verdadeiro desafio é perceber quando esse refúgio se transforma numa prisão ou numa fantasia paralisante.

Precisamos cultivar espaços de reflexão, onde possamos olhar para as nossas sombras — esses aspectos do nosso ser que evitamos ou reprimimos — e confrontá-las com coragem.

Construir redes de apoio afetivo, buscar atividades que promovam o bem-estar físico e emocional, desenvolver novos projetos de vida que nos estimulem e desafiem de forma saudável são caminhos possíveis.

E, sobretudo, aprender a tolerar a frustração, a lidar com a incerteza e a aceitar que o controle absoluto sobre a vida é uma ilusão que só gera mais sofrimento.

A Importância de um Plano B

 Diante das transformações tecnológicas e das incertezas do mercado de trabalho, é prudente considerar a elaboração de um plano B. Isso não significa abandonar imediatamente a carreira atual, mas sim preparar-se para possíveis mudanças, desenvolvendo novas habilidades e explorando outras áreas de interesse.

No caso do executivo mencionado anteriormente, uma alternativa seria começar a planejar uma transição para o empreendedorismo. Identificar suas paixões, avaliar suas competências e buscar capacitação em áreas complementares podem ser passos iniciais valiosos. Participar de cursos, workshops e redes de networking pode ampliar horizontes e abrir portas para novas oportunidades.

Empreender exige coragem, mas também planejamento e resiliência. Ao construir um plano B sólido, é possível enfrentar os desafios com mais segurança e confiança, transformando incertezas em possibilidades de crescimento pessoal e profissional.

Conclusão

 A psicoterapia breve pode ser uma grande aliada nesse processo. Ela oferece um espaço seguro para que a pessoa compreenda os mecanismos inconscientes que orientam suas escolhas, fortaleça sua autonomia emocional e desenvolva alternativas mais saudáveis e criativas para lidar com os desafios da existência.

Em última instância, mais do que condenar ou ridicularizar quem se envolve com bonecas Reborn ou carrinhos de miniatura, é preciso compreender o que esses objetos representam na economia psíquica dessas pessoas.

Só assim poderemos, como sociedade, construir respostas mais humanas e acolhedoras para as angústias do nosso tempo.

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A autora atende
Clínica De Psicoterapia Online






50,3% dos entrevistados na Pesquisa da Fecomércio-RS querem comprar presentes no Dia dos Namorados

Pesquisa de intenções de compras realizada pela Fecomércio-RS indica que metade dos gaúchos (50,3%) devem comprar presentes no Dia dos Namorados. O número médio de presentes deve ser de 1,23 e o gasto deve ser, em média, de R$271,30, com homens gastando mais (R$ 335,3) que as mulheres (R$ 214,46), também em média. Entre os entrevistados que compraram presente no ano passado, 45,6% devem gastar o mesmo que em 2024 e 37,9% devem gastar mais ou muito mais neste ano; 16,5% gastarão menos ou muito menos. 

O levantamento traz os segmentos preferidos entre quem vai presentear: Vestuário (44,4%), Perfumes e Cosméticos (26,2%), Chocolates (10,9%) e Calçados (10,1%). Lojas físicas do centro das cidades despontaram como o principal tipo de estabelecimento para as aquisições, citadas por 51,9% das pessoas. Na sequência, aparecem shopping centers (24,4%) e as lojas online, com 23,1% das preferências, enquanto lojas de bairro apresentaram 5,5%. Entre os entrevistados que presentearam no ano passado, 32,2% afirmaram que irão repetir a compra na mesma loja onde compraram em 2024.

Os entrevistados também foram questionados sobre fatores levados em consideração no momento de decidir sobre a loja em que será adquirido o presente. Os aspectos mais citados foram qualidade do produto (47,8%) e preços/ofertas (44,7%). Em seguida, aparecem atendimento (21,0%) e promoções (12,2%). A pesquisa também aponta que 59,7% devem comemorar o Dia dos Namorados de 2025 com um evento especial. Destes, 50,9% irão optar por almoçar/jantar fora e 35,2% irão proporcionar um almoço/jantar especial em casa.

Artigo, Flávio Gordon, Gazeta do Povo - O legado de Sergei Magnitsky ao mundo

“Acredito que todos os membros da equipe de investigação estão atuando como contratados sob a ordem criminosa de alguém (...) Recuso-me a participar e a ouvir a audiência de hoje porque todas as minhas petições para que meus direitos fossem respeitados foram simplesmente ignoradas pelo tribunal” (Sergei Magnitsky)

Na manhã do dia 24 de novembro de 2008, três equipes de oficiais do Ministério do Interior da Rússia, subordinadas ao tenente-coronel Artem Kuznetsov, saíram em operação pelas ruas de Moscou. Uma das equipes seguiu para a casa de Sergei Magnitsky. As outras duas foram para os apartamentos de advogados iniciantes que trabalhavam sob a supervisão de Sergei no escritório de advocacia Firestone Duncan.

Os jovens advogados não foram encontrados, mas Sergei estava em casa com Nikita, seu filho de oito anos, que se arrumava para a escola. Stanislav, o filho mais velho, já havia saído. Como não se sentira bem naquela manhã, sua esposa Natasha tinha ido ao médico. Sergei ouviu batidas na porta e, abrindo-a, deparou-se com três policiais, que anunciaram uma busca e apreensão.

A família Magnitsky vivia em um modesto apartamento de dois quartos na Rua Pokrovka, no centro de Moscou. Nas oito horas seguintes, os agentes vasculharam completamente o apartamento. Quando Natasha voltou do médico, ficou chocada e assustada, mas não Sergei. Enquanto estavam sentados no quarto de Nikita, ele sussurrou à esposa: “Não se preocupe. Não fiz nada de errado. Eles não podem fazer nada contra mim”. Os policiais ainda estavam lá quando Stanislav voltou da escola. O garoto fico furioso, mas Sergei, com sua voz calma, garantiu que tudo ficaria bem.

A busca terminou por volta das 16h. Os policiais confiscaram todos os arquivos e computadores pessoais de Sergei, fotos da família, uma pilha de DVDs infantis, até mesmo uma coleção de aviõezinhos de papel e o caderno de desenhos de Nikita. Em seguida, prenderam Sergei. Ao ser conduzido, o pai de família virou-se para a esposa e os filhos, forçou um sorriso e prometeu voltar em breve. Mas não pôde cumprir a promessa.

Assim começou o martírio de Sergei Magnitsky, advogado de Bill Browder em seu processo contra o regime russo. CEO da Hermitage Capital, uma das empresas de fundos de investimento mais bem-sucedidas do mundo, Browder foi o maior investidor estrangeiro na Rússia até 2005, altura em que foi subitamente proibido de entrar no país sob acusação de “ameaçar a segurança nacional”. Seu crime? Confrontar grandes corporações russas como Gazprom, Surgutneftegaz, Unified Energy Systems e Sidanco, expondo práticas de corrupção e má gestão por parte de oligarcas russos. Com sua atuação, o homem cruzou o caminho de ninguém menos que Vladimir Putin, que havia primeiro subjugado e em seguida se associado à corrupta oligarquia do país. Browder contou sua história no livro Alerta Vermelho: Como me tornei o inimigo número um de Putin, do qual extraio o relato a seguir.

Sergei Magnitsky foi preso no contexto da perseguição stalinista movida por Putin contra Browder, seus associados e suas empresas (que terminaram roubadas pelo governo russo). A prisão do advogado tornou-se uma tamanha obsessão do regime que Victor Voronin – chefe do Departamento K (de apoio à contrainteligência do Sistema de Crédito e Financeiro) do FSB (ex-KGB) – foi pessoalmente responsável por sua prisão.

A audiência de custódia de Sergei ocorreu no Tribunal Distrital de Tverskoi, em Moscou, dois dias após sua prisão. A polícia não tinha provas de nenhum crime nem base legal para mantê-lo preso. Sergei e seus advogados achavam que, com um caso tão frágil, a concessão de fiança seria certa. No entanto, ao se reunirem no tribunal, foram confrontados com um novo investigador do Ministério do Interior, um major de 31 anos chamado Oleg Silchenko, com uma aparência tão juvenil que sequer parecia qualificado para falar num tribunal. Mas Silchenko usava um uniforme azul impecável e, ao apresentar agressivamente as suas “provas”, confirmou que era, em essência, um oficial do Ministério do Interior.

De maneira similiar àquela com que os brasileiros estamos nos acostumando, Silchenko alegou que Sergei representava risco de fuga. Como “prova”, exibiu um ‘relatório’ do Departamento K, segundo o qual Sergei solicitara um visto para o Reino Unido e reservara uma passagem aérea para Kiev. Só que ambas as alegações eram fabricadas. O réu informou não ter solicitado visto algum para o Reino Unido, fato facilmente comprovável com uma simples consulta à embaixada britânica. Em seguida, começou a refutar a suposta reserva para Kiev, mas foi interrompido pelo juiz:

“Não tenho razão para duvidar das informações fornecidas pelos órgãos investigativos” – disse o magistrado, ordenando que o réu fosse mantido em prisão preventiva. Retirado rapidamente do tribunal, Sergei foi algemado e colocado em um veículo de transporte prisional. Passou dez dias em local não revelado, depois do que foi conduzido para o local onde passaria os dois meses seguintes, uma prisão conhecida simplesmente como Centro de Detenção de Moscou nº 5.

Sergei foi jogado numa cela com mais quatorze detentos, que tinham de dividir oito camas apenas. As luzes do cárcere permaneciam acesas vinte e quatro horas por dia, e os prisioneiros dormiam em turnos. O ambiente havia sido claramente concebido para impor privação de sono a ele e aos outros detentos. Com isso, Silchenko pretendia dobrar Sergei, forçando-o a confessar crimes inexistentes e delatar outros associados de Browder. Mas – assim como Filipe Martins – Sergei nunca se dobrou.

Durante os meses seguintes, Sergei foi transferido várias vezes, sempre para uma nova cela pior que a anterior. Uma delas não tinha aquecimento nem vidros nas janelas para barrar o congelante ar do ártico, que quase matou Sergei por hipotermia. Os vasos sanitários – que consistiam em buracos no chão – não eram separados da área de dormir. Frequentemente, o esgoto borbulhava e escorria pelo chão. Numa das celas, as únicas tomadas elétricas ficavam diretamente ao lado do vaso, então ele tinha que ferver água com a chaleira enquanto estava em pé sobre a latrina fétida.

Mas, para Sergei, pior que o desconforto físico era a tortura psicológica. Sendo o preso um pai de família dedicado e amoroso, Silchenko esmerava-se em lhe negar todo contato com seus entes queridos. Quando Sergei solicitou que sua esposa e mãe o visitassem, a resposta foi: “Pedido indeferido. Não é conveniente para a investigação”. Quando pediu permissão para falar ao telefone com seu filho de oito anos, recebeu outra negativa, sob o argumento de que o filho era “muito jovem para uma conversa telefônica”. Silchenko também recusou um pedido de visita da tia de Sergei, alegando que “não se podia provar” que ela fosse parente.

Quatro meses após a prisão, Sergei foi transferido secretamente para uma prisão especial chamada IVS1. Tratava-se de uma instalação temporária fora do sistema prisional oficial, na qual, portanto, a polícia podia agir contra os detentos longe dos holofotes. Naquele local, o FSB tentaria coagir Sergei a assinar uma confissão falsa. Mas o espírito do preso parecia inquebrantável.

Lamentavelmente, o mesmo não se pôde dizer do seu corpo. No início de abril de 2009, Sergei foi novamente transferido, desta vez para um centro de detenção chamado Matrosskaya Tishina. Ali, o preso começou a padecer com dores estomacais agudas. Os episódios duravam horas e resultavam em violentas crises de vômito. Em meados de junho, ele já havia perdido quase 20 quilos, num sinal inequívoco de doença grave.

No verão de 2009, a saúde de Sergei havia se deteriorado seriamente. Na ala médica de Matrosskaya Tishina, o preso foi diagnosticado com pancreatite, pedras na vesícula e colecistite, e os médicos prescreveram um exame de ultrassom e uma possível cirurgia para o início de agosto. Uma semana antes do exame marcado, todavia, o major Silchenko decidiu transferi-lo de Matrosskaya Tishina para Butyrka, um centro de detenção de segurança máxima que, nos tempos soviéticos, fora uma estação de passagem para os gulags. Em Butyrka, não havia instalações médicas. E o que Sergei passou ali dentro foi uma experiência verdadeiramente infernal.

Já no primeiro dia na nova instalação, Sergei pediu aos agentes prisionais que providenciassem o tratamento médico de que precisava. Mas a demanda foi solenemente ignorada. Durante semanas, o pobre definhou em sua cela, com uma dor cada vez maior e lancinante. A certa altura, a dor de estômago tornou-se tão aguda que ele não conseguia deitar. Cada posição suscitava dores horríveis através do plexo solar e do peito. Só conseguia algum alívio quando dobrava os joelhos e se encolhia em posição fetal, rolando de um lado para o outro. Apesar da dor excruciante, ele não recebeu atendimento.

Sergei e seu advogado escreveram mais de vinte solicitações desesperadas para todos os setores do sistema penal e judicial da Rússia, implorando por atendimento médico. A maioria das petições era ignorada e, quando não, as respostas recebidas eram chocantes. O major Silchenko, por exemplo, escreveu: “Nego integralmente o pedido de exame médico”. Um juiz do Tribunal Distrital de Tverskoi, Aleksey Krivoruchko, respondeu: “Seu pedido para revisar as reclamações sobre a retenção de atendimento médico e tratamento cruel foi negado”. A juíza Yelena Stashina, uma das magistradas que ordenou a continuidade da preventiva de Sergei, decidiu: “O seu pedido para revisar os registros médicos e as condições de detenção é irrelevante”.

Enquanto era sistematicamente torturado em Butyrka, Sergei passou a receber visitas regulares de um homem que se recusava a se identificar ou revelar a instituição à qual pertencia. Sempre que o homem chegava, os guardas arrastavam Sergei de sua cela para uma sala abafada e sem janelas. Os encontros eram breves, porque o sujeito trazia sempre a mesma mensagem: “Faça o que queremos, ou as coisas vão continuar a piorar para você”.

 Nesse ínterim, Bill Browder passava noites em claro pensando no sofrimento de seu advogado e amigo. Numa noite, ficou sobressaltado ao ouvir o alerta de correio de voz de seu celular. Como nunca ligavam para o seu BlackBerry, cujo número quase ninguém tinha, ele pressentiu algo ruim. Olhando apreensivo para a mulher, Browder discou para ouvir o correio de voz. Havia uma mensagem: sons de um homem vitimado por um espancamento brutal. A vítima gritava e implorava. A gravação durou cerca de dois minutos e foi cortada no meio de um gemido de dor.

Ocorre que, quando o corpo de Sergei Magnitsky já estava em estado crítico, os agentes prisionais de Butyrka decidiram finalmente enviá-lo ao centro médico de Matrosskaya Tishina para receber cuidados de emergência. Ao chegar ali, no entanto, o preso não foi levado para a ala médica, mas para uma solitária, onde foi algemado à grade de uma cama. Em seguida, adentraram o local oito guardas com equipamento completo de choque.

Sergei exigiu que o oficial responsável chamasse seu advogado e o promotor. “Estou aqui porque denunciei os 5,4 bilhões de rublos roubados por agentes da lei” – disse. Mas os guardas não estavam ali para ajudá-lo, senão para surrá-lo. E assim o fizeram brutalmente, com cassetetes de borracha. Uma hora e dezoito minutos depois, um médico civil chegou e encontrou Sergei Magnitsky morto no chão da cela.

É claro que o Estado assassino tratou de acobertar o ocorrido. Algumas horas depois da morte, quando o corpo mal esfriara, o Comitê Estatal de Investigação da Rússia apressou-se em anunciar: “Não foram identificadas razões que justifiquem a abertura de uma investigação criminal após a morte de Magnitsky”. Três dias após o sepultamento, a Procuradoria-Geral da Rússia emitiu um comunicado afirmando que não havia encontrado “nenhuma irregularidade por parte dos oficiais nem violações da lei. A morte ocorreu por insuficiência cardíaca aguda”. Por fim, dias depois, o diretor do presídio Matrosskaya Tishina declarou: “Nenhuma violação foi constatada. Qualquer investigação sobre a morte de Magnitsky deve ser encerrada e o caso arquivado”.

Mas, graças sobretudo ao modo como o prisioneiro lidou com o cárcere, o caso não pôde ser abafado. Durante seus 358 dias de detenção, ele e seus advogados apresentaram 450 queixas criminais, documentando em detalhes minuciosos as ações e os agentes que o haviam maltratado. Essas denúncias e as provas que vieram à tona desde então fizeram do assassinato de Sergei Magnitsky um dos casos de violação de direitos humanos mais emblemáticos e bem documentados do século 21. E é por isso que, para que sua morte brutal não fosse em vão, recebe o seu nome a lei que busca punir agentes do Estado violadores de direitos humanos – dentre eles, o brasileiro Alexandre de Moraes e seus cúmplices. Nada mais justo, uma vez que Magnitsky é Clezão, é Filipe Martins, é Daniel Silveira, é Débora Rodrigues... Magnitsky são, enfim, todas as vítimas dos abusos de autoridade e da perversão da justiça em perseguição política

Artigo, especial - A Vida de Plástico

Este artigo especial é do "Observatório para um Brasil Soberano"

 Estão nos empurrando para longe da condição humana? Vivemos uma era em que a fantasia não apenas suplanta a realidade — ela a substitui com orgulho. E com aval da mídia, da indústria cultural e de influenciadores digitais. Basta olhar para o fenômeno dos bonecos hiper-realistas: os famosos bebês reborn, namorados e namoradas de silicone, vendidos como solução emocional e até sexual. Ganhará espaço até em novelas da Globo, vendida como "empreendedorismo". Uma substituição do real pelo artificial. Pode parecer apenas mais uma excentricidade dos tempos modernos. Mas, por trás dessa estética "inofensiva", há um projeto: desumanizar o ser humano, aliená-lo da experiência real da vida, dissolver vínculos e, por fim, controlá-lo. A humanidade sempre buscou formas de lidar com a solidão e a carência, mas nunca fizeram isto de forma tão artificial. O que antes era superado com boas relações humanas, vínculos e espiritualidade, hoje é terceirizado para bonecos. A febre dos bebês reborn tomou conta das redes. Influenciadoras vendem kits completos, e mulheres — muitas ainda jovens — chamam pedaços de borracha de "filhos", vivendo uma maternidade simulada em tempo integral. O ponto mais simbólico veio agora da televisão aberta. A novela da Globo incluiu um arco narrativo em que um casal gay enriquece vendendo bonecos reborn. A narrativa não critica. Ao contrário, enaltece o casal como exemplo de superação e inovação. É o golpe final na normalização quando a ficção, em horário nobre, passa a ensinar que investir afeto, dinheiro e tempo em algo que simula a vida, mas jamais será vida, é algo nobre, desejável — e até digno de aplausos, mesmo que a intenção, no caso, seja ironizar. Até mesmo o humor pode ser considerado um vetor dessa normalização. Essa estética da simulação não é apenas moda. É doutrinação emocional. A substituição do real pelo artificial não é um fenômeno espontâneo. Estão tentando a todo custo projetar e financiar essa mudança por uma elite tecnocrática que dita os rumos do imaginário social. Não é teoria da conspiração — é documento. O Fórum Econômico Mundial já afirmou, com todas as letras: “No futuro, você não terá nada e será feliz.” Mas para que essa felicidade vazia funcione, é preciso quebrar tudo aquilo que ainda nos conecta ao que é humano: família, fé, vínculos, identidade, propósito. Por isso, oferecem um boneco no lugar de um filho. Uma IA no lugar de um cônjuge. Um jogo de azar como o Tigrinho no lugar de uma profissão. Quando alguém encontra prazer genuíno em cuidar de um boneco, dormir com um simulacro de namorado, ou passar horas buscando dopamina no Tigrinho, o desejo por construir uma vida real morre. Por que assumir a dor e o sacrifício de ter filhos, se um boneco não chora? Por que enfrentar as dificuldades de um relacionamento real, se o namorado de silicone não discorda? Por que se submeter ao esforço • Vivemos uma era em que simulacros (bebês reborn, parceiros de silicone, IAs) substituem relações humanas reais, promovendo o alívio imediato da solidão, mas alienando-nos da experiência autêntica de vínculo e sacrifício. • Esse processo não é espontâneo, mas orquestrado por uma elite tecnocrática que, através de mídia e cultura (como novelas que exaltam a maternidade simulada), impõe a ideia de que o artificial é superior ao real, enfraquecendo família, fé, identidade e propósito. • O resultado é o isolamento em prazeres fabricados — telas substituem o toque, “likes” substituem afeto e jogos de azar substituem trabalho — e cabe a cada pessoa resgatar o desejo de viver plenamente, com dor, esforço e verdade. Pág. 1 continuação... “A VIDA DE PLÁSTICO: ESTÃO NOS EMPURRANDO PARA LONGE DA CONDIÇÃO HUMANA?" 31 de Maio de 2025. de um trabalho, se uma aposta promete lucro imediato? Essa é a chave da desumanização, trocar o que exige esforço e gera sentido por um simulacro instantâneo e vazio de consequências. A cada dia, o ser humano se isola mais e nem percebe. As telas substituem o toque. Os likes substituem os vínculos. O silicone substitui o amor. E por trás disso tudo está uma engenharia social que quer evitar que você se desenvolva de verdade. O vício em simulações, jogos, bonecos, redes e conteúdos programados te impede de amadurecer, de criar raízes, de se revoltar. O que vemos é o surgimento de uma nova prisão: a prisão do prazer fabricado. Você não é livre — apenas está dopado o suficiente para não perceber a gaiola. A vida de plástico pode ser confortável. Mas nunca será plena. Estão tentando a todo custo trocar nossa essência por conveniência, chamando isto de evolução. A propaganda na novela da Globo é só mais um capítulo da doutrinação cultural que transforma alienação em estilo de vida. E enquanto você brinca de maternidade com bonecos ou busca afeto em corpos de silicone, perde o que há de mais precioso: a capacidade de desejar a verdade, de buscar o real e de construir algo com propósito. A humanidade está sendo reprogramada para não mais desejar ser humana. Se há algo a ser resgatado, é o desejo de viver plenamente, com dor, esforço, vínculo e verdade. Estão tentando nos afastar da nossa essência

Moody’s mantém nota baixa para dívida do governo brasileiro

 A agência de classificação de risco Moody’s manteve a nota da dívida pública brasileira um nível abaixo do grau de investimento, mas eliminou a chance de alta na classificação nos próximos meses. A decisão foi divulgada no fim da tarde desta sexta-feira (31).

A informação é da Agência Brasil deste sábado. Leia todo o texto da agência:

A nota do país continua em Ba1, um nível abaixo do grau de investimento. No entanto, a perspectiva, que em outubro estava positiva, com chance de elevação nos próximos meses, caiu para estável, sem chance de alteração. O grau de investimento representa a garantia de que o país não corre risco de dar calote na dívida pública.

Em seu comunicado, a agência mencionou os esforços de consolidação fiscal, incluindo o cumprimento das metas de resultado primário. No entanto, a Moody’s avalia que o avanço de reformas para enfrentar a rigidez orçamentária e fortalecer a credibilidade da política fiscal está mais lento do que o esperado em outubro de 2024, quando foi feita a avaliação anterior.

A agência sugeriu medidas, como a desvinculação de receitas, a desindexação de benefícios sociais do salário mínimo ou a reforma dos benefícios da seguridade social para criar espaço fiscal e permitir uma possível melhora da nota de crédito do país. A Moody’s alertou que, se os esforços para o reequilíbrio das contas públicas forem revertidos ou se mostrarem menos efetivos que o esperado, há o risco de mudar a perspectiva da nota brasileira para negativa.