Alex Pipkin, PhD
Observo, com inquietação crescente, um fenômeno que tomou conta de parte da elite acadêmica, midiática e intelectual ao redor do mundo e, claro, que se manifesta de forma particularmente aguda no Brasil: a substituição da realidade pelos delírios ideológicos. Esses “ungidos” — como definiu Thomas Sowell — não se importam com os fatos. Para eles, o que “parece” certo é o que conta, independentemente da evidência concreta, da lógica ou do impacto real.
Para esses especialistas, o Brasil é um tabuleiro abstrato, onde ideias pré-fabricadas e mantras progressistas valem mais que a realidade vivida por milhões. Eles opinam do alto de seus gabinetes, dos campus estrangeiros, das redações internacionais, impondo ao país categorias analíticas que jamais dialogam com a vida real. O Estado brasileiro,
corrupto e ineficiente, o cidadão encarando o SUS sucateado, a escola sem aula, o empresário sufocado por impostos e burocracia — tudo isso simplesmente desaparece do radar deles.
Esse desprezo pelos fatos só se sustenta porque, para os ungidos, a narrativa vale mais que a realidade objetiva. Não importa que o fracasso das experiências estatistas e socialistas seja amplamente documentado; que a miséria causada por essas ideias seja incontestável. Dados desconfortáveis são descartados como “fake news”, “neoliberais”, “reacionários” ou “retrógrados”.
Exemplo paradigmático é o percurso de autores que inicialmente pareciam iluminar o debate, como Daron Acemoglu, com suas análises sobre instituições extrativistas e inclusivas. Mesmo ele, com o tempo, sucumbiu ao estatismo disfarçado, defendendo o controle governamental como antídoto contra as ameaças do mercado e da inovação. Para esses intelectuais, a tecnologia é uma ameaça, quando é, na verdade, o principal motor da prosperidade.
No terreno político, a coisa desanda de vez. Steven Levitsky, no celebrado Por que as Democracias Morrem, tornou-se referência de cabeceira para a esquerda progressista. Não por lucidez, mas porque entrega, de bandeja, o dogma conveniente: a ameaça à democracia é, sempre, de direita. O autor passa por cima, com notável destreza, do papel destrutivo da extrema-esquerda em diversas partes do mundo, especialmente na América Latina. No Brasil, essa esquerda envelhecida e autorreferente cultiva mitos marxistas, idolatra o Estado e sonha com planificações econômicas que só produzem pobreza.
Curiosamente, essa elite que se diz democrática age com autoritarismo: censura, vigia e pune quem ousa questionar o dogma. Para eles, a superioridade moral e intelectual lhes confere o direito divino de tutelar a sociedade e decidir quem pode pensar. Assim, os fatos são mera distração; importa o sentimento de estar do “lado certo da história”, custe o que custar.
No plano geopolítico, o delírio é flagrante. Steven Levitsky sugeriu recentemente que o Brasil teria mais sucesso ao confrontar os Estados Unidos, a maior potência econômica e tecnológica do planeta. Uma infantilização diplomática, baseada num antiamericanismo mofado dos anos 60. Trump ou Biden são vistos como o “império do mal”, mesmo que isso custe exportações, empregos e investimentos. Para os ungidos, isso pouco importa: o que vale é manter o discurso “crítico” e “virtuoso”.
Mas talvez o ponto mais grotesco de toda essa encenação seja o uso do rótulo “extrema-direita” para qualquer um que ouse discordar das falácias da esquerda. No Brasil, basta mencionar fatos, dados, evidências; você já é um radical. Defender liberdade econômica? Fascista. Criticar o lulopetismo? Golpista. Denunciar a censura? Antidemocrático. Enquanto isso, a verdadeira extrema-esquerda — autoritária, populista, estatizante — desfila como “progressista”, com o aplauso da mídia comprada e da intelligentsia subvencionada. É uma ópera bufa onde os vilões vestem toga e os realistas são tratados como hereges.
O resultado é uma democracia em risco, mas não por falta de votos ou instituições, e sim porque o discurso público foi capturado por uma elite que se acha guardiã da verdade, mas que é, de fato, a maior ameaça à liberdade. Quem discorda é tachado de extremista, enquanto a censura avança sem pudor.
Lula, o falastrão de Garanhuns reincidente, não voltou para redimir-se. Voltou para consolidar o conluio entre Executivo e Judiciário — um Judiciário que deveria ser contrapeso, mas que virou sócio da nova tirania.
Vivemos tempos perigosos. A honestidade intelectual foi sacrificada em nome da democracia. A tragédia não é a morte da democracia — é, factualmente, o assassinato dos fatos. Tempos sombrios!
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