A independência dos bancos centrais representa uma afronta clara à
população, uma vez que concede a funcionários não eleitos uma au
toridade colossal sobre a vida econômica do país. Em nenhum outro
segmento do governo aceitamos que figuras sem legitimidade eleito
ral possuam tamanha influência. Esses gestores monetários, reunidos
em segredo, estabelecem as taxas de juros, controlam a quantidade
de moeda em circulação e, na prática, moldam o futuro do trabalho, da
moradia e das oscilações econômicas, tudo isso sem receber um único
voto da população. Essa barreira tecnocrática contra a responsabiliza
ção reduz toda formulação de política econômica a uma simples ence
nação. Afinal, qual o propósito de escolhermos presidentes e legisla
dores se suas decisões econômicas podem ser anuladas discretamente
por um grupo de especialistas?
A pretensa "ciência" de fixar taxas de juros parece mais uma leitura de ho
róscopo do que um estudo econômico sólido. Os responsáveis pelos ban
cos centrais passam horas discutindo se devem ajustar os juros em 0,25%
ou 0,5%, como se manejassem uma máquina de exatidão milimétrica. No
entanto, seus sistemas estão comprometidos. Eles subestimaram a infla
ção em 2021, exageraram nas correções em 2022 e ainda hoje tentam,
sem sucesso, determinar o que seria uma "taxa equilibrada", algo que nin
guém consegue precisar. Suas análises dependem de informações ultra
passadas, modelos DSGE defeituosos e suposições quase místicas.
A matematização da economia, criou uma aura mística em torno de grá
f
icos, números e análises abstratas, que estão diretamente ligadas a ele
mentos reais, físicos e concretos.
Também é preciso pontuar que a prática de emitir dinheiro na canetada
constitui uma ofensa ética que enfraquece a economia. O chamado afrou
xamento quantitativo nada mais é do que um termo elegante para enco
brir uma manipulação autorizada. Ao "injetar recursos", os bancos centrais
corroem o valor do dinheiro que as pessoas possuem, favorecendo os
apostadores do mercado financeiro, enquanto castigam os trabalhadores
e os aposentados.
Não há base ética que sustente a decisão de um grupo seleto e não eleito
sobre quem se beneficia dessa moeda recém-produzida, sobretudo quan
do ela é direcionada primeiramente às grandes instituições bancárias, ali
mentando bolhas especulativas e ampliando as desigualdades. A moeda
recém emitida não é direcionada para investimento na cadeia produtiva,
ou na geração de empregos, é silenciosamente direcionada para gerar
mais e mais especulação.
A inflação vai além de um índice numérico – funciona como um tributo
oculto, um golpe contra quem economiza com honestidade e gera confu
são nos sinais que orientam a economia.
• A independência dos
bancos centrais é criticável
por conceder poder
econômico a gestores não
eleitos, que controlam juros
e moeda sem legitimidade
democrática.
• A emissão de moeda e o
aumento de juros geram
desigualdades, corroem o
valor do dinheiro, favorecem
especuladores e falham em
resolver inflação causada por
questões estruturais, exigindo
uma abordagem integrada.
• De quem o banco central
se tornará independente?
Por que uma instituição
pública deveria pleitear tal
independência?
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continuação... “A ANOMALIA DOS BANCOS CENTRAIS INDEPENDENTES"
25 de Abril de 2025.
Tarifas e juros não podem ser tratados como instrumentos equivalentes.
Donald Trump enxerga uma realidade econômica que escapa aos banqueiros
centrais: nem todo aumento de preços resulta de uma "demanda excessiva".
Quando os custos sobem devido a problemas estruturais, como falhas nas ca
deias de abastecimento, tensões geopolíticas ou imposição de tarifas, elevar
os juros não resolve a inflação. Pelo contrário, essa medida pode piorar o ce
nário ao encarecer o acesso ao capital, desencorajar novos investimentos e
sufocar ainda mais a produção. Nessas situações, o aumento dos juros é uma
solução desajeitada e contraproducente, incapaz de conter a inflação e, em
vez disso, intensificando-a.
Chegou o momento de abandonar a ilusão de que os bancos centrais têm
ou deveriam ter autonomia. Aliás, devemos perguntar: autonomia de quem?
Será que é papel dos bancos centrais tomar medidas impopulares o suficiente
para precisarem de intervenção política? A condução da política monetária é
crucial demais para permanecer sob o comando de economistas que erram
repetidamente. E, ainda assim, mantêm seus cargos, livres de qualquer escru
tínio público ou dever ético. A abordagem tarifária de Trump desmascara o
erro do pensamento vigente: quando a inflação é alimentada por questões
políticas ou globais, o rigor monetário não oferece saída. É necessário um co
mando econômico integrado, sem tecnocratas protegidos pela falsa ideia de
"independência".