Artigo, especial, Soraia Hanna - O Nacional: 100 anos de um bom jornalismo

Soraia Hanna


No dia 19 de junho de 2025 nascia o jornal O Nacional, em Passo Fundo. Fundado pela família Annes e em 1939 adquirido por Múcio de Castro, jornalista e deputado estadual (1955-1959). Ao longo destes 100 anos, o periódico tem sido referência do bom jornalismo.


A criação da Universidade de Passo Fundo (UPF), a instalação da Embrapa, o fortalecimento de um dos principais hubs de saúde, com hospitais que são referência no Brasil, foram articulados em reuniões dentro de O Nacional.


Múcio de Castro Filho honrou ao pai e sustentou um ideário ético, plural e comprometido com o desenvolvimento de Passo Fundo, uma das economias que mais se destacam no Brasil.


Trata-se de um marco para a imprensa ao ter desafiado as transformações de modelos de comunicação, se reinventado diante de baixos investimentos de mídia e à própria instabilidade econômica do país. 


Por tudo isso, homenagear O Nacional, seu diretor Múcio de Castro Filho, seus colaboradores e a cidade de Passo Fundo é um digno tributo daqueles que defendem uma imprensa pujante de valores, responsabilidade social e comprometida com suas comunidades.


Sócia-diretora executiva da Critério

Artigo, especial Dagoberto Lima Godoy - Regimes autoritários sempre acabam — e quase nunca bem

- Dagoberto Lima Godoy é advogado e engenheiro, foi também presidente da Fiergs e representante do Brasil na OIT. É escritor.

Ao longo da história, os regimes autoritários surgiram sob os mais variados pretextos: proteger a ordem, combater inimigos externos, restaurar valores ou conduzir o povo rumo a um futuro prometido. Seja por meio da força, da manipulação ideológica ou da concentração de poder, o autoritarismo tem sido um fenômeno recorrente. Mas há uma constante histórica que não pode ser ignorada: todos esses regimes, sem exceção, um dia terminam — e quase sempre de forma trágica ou humilhante.

O exemplo de Roma já nos oferece um retrato claro: imperadores como Calígula e Nero governaram com crueldade, excentricidade e desprezo pela vida humana. Foram assassinados por seus próprios soldados ou seguidores. Nem mesmo o poder quase divino conferido pelo Império garantiu estabilidade diante da tirania.

Séculos depois, a Revolução Francesa encerraria de forma dramática o reinado dos Bourbons. Luís XVI e Maria Antonieta terminaram na guilhotina, após anos de privilégios descolados da realidade de um povo faminto. A monarquia que parecia eterna foi derrubada em poucos anos por um povo que disse:  basta!

O século XX, por sua vez, foi o laboratório das experiências totalitárias mais radicais. Hitler ascendeu ao poder pela via democrática, mas rapidamente transformou a Alemanha num estado policial. Promoveu guerra, ódio e genocídio. Terminou enclausurado num bunker, cercado por escombros e traído pela própria ideologia que pregava supremacia. O Terceiro Reich, que prometia mil anos de glória, durou doze.

Na União Soviética, Stálin construiu uma ditadura marcada pelo medo e pela perseguição. Milhões de vidas foram perdidas nos campos de trabalho e expurgos ideológicos. Após sua morte, foi denunciado até por seus sucessores. E o regime comunista que parecia sólido como aço implodiu em 1991, em meio à bancarrota econômica e à sede de liberdade.

Na China, Mao Tsé-Tung,  com o "Grande Salto Adiante" e a "Revolução Cultural", mergulhou o país em fome, terror ideológico e destruição institucional. Milhões morreram. Após sua morte, o culto a sua figura foi desfeito e parte de seu legado silenciosamente repudiado. O maoísmo, como regime pessoal e ideológico, chegou ao fim — ainda que a estrutura autoritária do Estado chinês tenha sobrevivido sob nova forma. Até quando?

A América Latina também conheceu bem as sombras do autoritarismo - regimes militares impuseram censura, tortura e repressão sob o argumento da segurança nacional, diante de movimentos antidemocráticos que também ameaçavam a liberdade. Mas também esses governos caíram, não por força das armas, mas por pressão popular e desgaste moral. 

Hoje, assistimos a governos ainda presos à lógica autoritária em diferentes partes do mundo: Venezuela, Coreia do Norte, Irã, Rússia, Belarus. Alguns parecem resistentes, mas todos enfrentam o mesmo paradoxo que corroeu os anteriores: quanto mais se fecham ao diálogo e à liberdade, mais se fragilizam internamente.

A história mostra, de forma insistente, que o autoritarismo nunca é eterno. Ele pode resistir por um tempo — às vezes longo, às vezes curto — mas não sobrevive à erosão dos instrumentos de controle sobre o povo: o medo imposto, a mordaça, a narrativa mentirosa.  Quando a estrutura de coerção começa a falhar — seja por crise econômica, revolta social ou simples desgaste moral —, o regime desaba. Pode cair de forma súbita ou lenta, mas sempre cai.

A lição, portanto, é vital: todo regime que avança contra as liberdades fundamentais e reprime as pessoas de bem está cavando sua própria cova. Pode contar com forças armadas, propaganda, e censura ou mesmo apoio externo. Pode dominar a mídia e violentar a justiça, mas o fim é sempre certo. Porque liberdade e dignidade humana , mesmo oprimidas, nunca se apagam — apenas se recolhem, aguardando a hora.


Artigo, Marcelo Duarte Lins - Síndrome de carência de protagonismo

Um dia você é chamado de “doutor”, “comandante” ou seja lá qual for o título de autoridade civil ou militar. 

No outro, é só o seu Fulano da caminhada matinal, a dona Cicrana do pilates das nove, a voz que o neto chama para ajeitar o Wi-Fi.

E tudo bem.

 

Durante anos — décadas, talvez — você construiu, decidiu, liderou.

Resolveu problemas que pareciam montanhas.

Carregou a casa, a empresa, o Estado — o mundo, quem sabe — nas costas.

Teve horário, metas, gente que dependia de você.

Chamavam, você respondia. Ordenava, e o mundo obedecia. Ou quase.


Mas enquanto o mundo obedecia, havia um outro mundo que crescia — e que, muitas vezes, você mal viu crescer.

Filhos que aprenderam a andar, falar, sofrer e se virar sem você.

No fundo, você prometia a si mesmo que um dia compensaria o tempo.

Esse dia chegou. E, para sua surpresa, não é mais com os filhos — é com os netos.


Agora, o crachá foi entregue, o e-mail corporativo desativado, a agenda virou um caderno de aniversários e exames de rotina.

Um clique silencioso no botão “sair”.

E então começa o verdadeiro login: o da vida que existia por trás da função.


No início, é estranho.

Acordar sem pressa.

Almoçar sem o celular à mesa.

Não precisar provar nada a ninguém.

Parece perda.

Mas, com o tempo, a gente descobre que é ganho.


É quando o ego — aquele bicho barulhento e faminto — finalmente vai dormir mais cedo.

As vaidades começam a se despentear.

E o poder, coitado, vira uma piada interna entre lembranças e ironias.


Há uma liberdade secreta — e quase sagrada — em deixar de ser importante.

Depois que os holofotes se apagam e as salas esvaziam, sobra um silêncio que assusta no início, mas logo revela algo raro: a chance de ser inteiro sem precisar ser centro.

É nesse intervalo entre a grandeza e o anonimato que mora uma liberdade que poucos aceitam — a de não precisar provar mais nada.


Ser ex-presidente, ex-artista da moda, ex-chefe temido ou ex-qualquer-coisa relevante exige mais do que currículo.

Exige maturidade para suportar o eco do próprio nome dito cada vez menos.

Há quem aceite essa travessia com dignidade, transformando passado em legado e presente em sossego.

E há quem se agarre a qualquer manchete, a qualquer aplauso residual, como quem se recusa a apagar as luzes do palco mesmo quando a plateia já foi embora.


Que a vida pregressa sirva de boas lembranças, orgulho e referências — não de prisão.

Viver de glórias passadas é confortável, mas perigoso.

Morar no passado é correr o risco de se tornar o próprio fantasma do metrô no filme Ghost — aquela alma inquieta, presa entre estações, que assombra os outros no vagão porque não consegue aceitar que o tempo passou.

Há dignidade em reconhecer a importância que se teve.

Mas há ainda mais liberdade em não precisar provar isso o tempo todo.


Nesse novo tempo, surgem outras rotinas: o café sem pressa, a leitura sem prazo, a escuta sem interrupção.

Aparece uma nova importância — mais discreta, mas muito mais verdadeira.

Porque já não importa o que você faz.

Importa quem você é.


Agora, você é o dono do cachorro Weiss e da gata Menina Chanel.

E as pessoas da praça nem sabem seu nome — quanto mais o que você já foi.

E não faz falta.


As ilusões do “ser alguém na vida” se dissolvem como espuma.

E o que sobra é a essência:

O prazer de uma conversa boa.

A alegria de ensinar sem cobrar.

O tempo de ouvir mais do que falar.

A leveza de não ser mais “necessário” — e descobrir que isso é liberdade, não desprezo.


Talvez o que antes era ausência agora vire presença.

A pressa que te levou embora dos aniversários dos filhos cede lugar à calma de montar quebra-cabeças com os netos.

O conselho que você não deu aos 17, você agora sussurra aos 7 — com voz mais mansa, com menos urgência, com mais amor.

Os netos não são só a continuação da linhagem: são a chance de acertar com mais ternura onde antes só houve esforço e intenção.



A verdadeira grandeza talvez esteja em saber sair de cena. E permanecer inteiro.

Quem já foi importante, se souber deixar de ser, talvez descubra que o anonimato é só outra forma de liberdade — menos barulhenta, mas muito mais leve.


Alguns chamam de aposentadoria.

Outros, de desaceleração.

Mas talvez seja apenas o início da verdadeira vida adulta: aquela em que você vive, enfim, para si mesmo — sem script, sem performance, sem palco.


E é nesse silêncio do “já fui” que se escuta, pela primeira vez, o que você sempre foi.

Sem cargo, sem salário, sem plateia.

Só sabedoria.

E paz.


Porque a verdadeira importância pode estar, agora, em ter o tempo inteiro para fazer coisas simples que levam à felicidade:

Brincar com um neto.

Passear com o cachorro.

Conversar com velhos amigos.

Sentar à mesa com quem sempre esteve por perto — mesmo quando o mundo exigia que você estivesse longe.

É a liberdade de quem já foi importante.

E, enfim, aprendeu a ser presente.

Artigo, Observatório para um Brasil Soberano - 40 Anos de Prisão em Nome do Clima: o Avanço do ESG Penal

A proposta de Lewandowski para criar o crime de “ecocídio” vai muito além do discurso ambiental. Com penas que podem chegar a 40 anos de prisão, ela leva a agenda ESG ao campo penal — abrindo espaço para punições severas com base em definições vagas como “danos severos” e “destruição em larga escala”. Assim, desde o pequeno produtor rural até uma estatal de energia pode ser enquadrado, a depender da interpretação do momento. A ambiguidade da tipificação penal, somada à natureza expansiva do conceito de “dano ambiental”, gera insegurança jurídica permanente em setores estratégicos — energia, mineração, agroindústria — justamente os que mais dependem de previsibilidade para funcionar. O resultado pode ser um ambiente de incerteza, desestimulando investimentos e sufocando a produção sob ameaça constante de enquadramento criminal. A proposta também prevê a possibilidade de responsabilização penal de pessoas jurídicas, com previsão de multas e penas restritivas de direitos, inclusive de caráter patrimonial. Os valores arrecadados com as sanções serão destinados ao Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente — um fundo que, na prática, já é operado, em parte, por ONGs alinhadas à agenda climática internacional, que atuam tanto na formulação de políticas quanto na execução de programas subsidiados com recursos públicos. Embora o texto não trate diretamente de sanções administrativas ou cassações automáticas, o modelo de responsabilização proposto tende a reforçar estruturas normativas já existentes — que, combinadas com interpretações expansivas, podem, na prática, resultar em restrições severas à atividade econômica mesmo antes de julgamento definitivo. Esse risco é ampliado quando os mesmos atores transitem entre os papéis de formuladores, fiscalizadores e executores das políticas públicas. Nesse contexto, chama atenção o silêncio institucional de órgãos como o Banco Central, a CVM e parcelas relevantes do mercado financeiro. Desde 2021, essas entidades vêm incorporando os critérios ESG ao marco regulatório nacional, exigindo relatórios, selos e práticas ambientais como condição de acesso ao crédito e ao mercado de capitais. Agora, observam — sem manifestações públicas relevantes — a transição dessa agenda para o campo penal. Para parte do sistema financeiro, quanto mais rígido o ambiente regulatório, mais valiosos se tornam os ativos com “selo verde”. O risco jurídico, antes considerado um custo, pode se converter em barreira estratégica para selecionar, excluir ou privilegiar determinados setores ou agentes econômicos. Essa tendência não é exclusiva do Brasil. Em fevereiro de 2024, a Bélgica reconheceu o ecocídio como crime internacional. A União Europeia aprovou novas diretrizes sobre crimes ambientais, prevendo sua incorporação obrigatória pelos Estados-membros até 2026. Países do Pacífico, como Vanuatu, Fiji e Samoa, propuseram formalmente a inclusão do ecocídio no Estatuto de Roma da Corte Penal Internacional. México, Peru e Holanda também avaliam projetos semelhantes em seus parlamentos. A proposta brasileira, portanto, não é um movimento isolado, mas parte de um alinhamento global que tem origem em centros regulatórios e blocos multilaterais — nem sempre conectados às especificidades do contexto nacional. O projeto, portanto, não se limita à proteção ambiental. Ele sinaliza uma reorganização silenciosa da lógica institucional e econômica do país: quem produz passa a operar sob risco permanente de responsabilização penal, enquanto certificadores, avaliadores e intermediários regulatórios ampliam sua influência — sem mandato democrático, mas com capacidade crescente de moldar as regras do jogo. Trata-se de uma nova forma de centralização de poder, onde o controle já não decorre da propriedade dos meios de produção, mas da capacidade de regular seu funcionamento.

Vice do Simers assume diretoria de Defesa Profissional da Federação Nacional dos Médicos

 A nova direção da Federação Nacional dos Médicos (Fenam) tomará posse no dia 1 de julho, em Brasília. O vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), Felipe Vasconcelos, será reempossado como Diretor de Defesa Profissional, atuando diretamente em negociações nacionais, como o estabelecimento de piso para médicos, combate à violência contra profissionais, abertura indiscriminada de novas faculdades de medicina, mas não só.

O que isto significa para o Simers, segundo Felipe Vascdoncelos: 

- Abre possibilidade de uma atuação mais forte do Simers em negociações que impactam diretamente a atividade do médico, como as condições de trabalho, modelos de contratação, pejotização, violência, entre outros assuntos tão importantes para a categoria.

Limites para terceirização

Entre as ações desenvolvidas pelo vice-presidente do Simers em sua primeira passagem pela Fenam, está a sugestão apresentada a senadores e deputados federais de um projeto de lei que cria regras e limites para a terceirização. O objetivo principal é resguardar o recebimento dos valores pelos médicos, que sofrem frequentemente com atrasos nos pagamentos. 

Quem é Felipe

Felipe Vasconcelos tem 45 anos e atua no SAMU. Se destacou durante a enchente de maio de 2024, onde esteve na linha de frente no resgate de pessoas no Hospital de Pronto Socorro de Canoas, e depois atuou no Hospital Universitário, onde contribuiu para a organização do atendimento no momento crítico. 

O novo presidente da Fenam que assume em 01 de julho será Geraldo Ferreira Filho, atual presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Norte. 

Coação sobre Mauro Cid

  Moraes e sua Turma do STF estão em palpos de aranha com novas revelações sobre a farsa do julgamento, baseada em delação obtida sob cdoação e mentirosa.

A revelação de diálogos de Mauro Cid com o coronel Marcelo Cãmara, estando Mauro Cid prestando depoimentos, surpreendeu a PF e Moraes. 

Coronel do Exército, Câmara teve a prisão decretada nesta quarta-feira (18) por Moraes ao descumprir uma medida cautelar estabelecida pelo ministro que proibia a utilização de redes sociais por ele ou por terceira pessoa. A prisão foi cumprida por volta das 16h50 na casa dele, localizada em Sobradinho, cidade do Distrito Federal.

O advogado Eduardo Kuntz, que defende Câmra, pediu a anulação do processo em função das revelações, mas Moraes mandou investigá-lo, gerando protestos de advogados de todo o País.,Moraes disse que o defensor "transbordou ilicitamente das obrigações legais de advogado" e considerou "gravíssima" a possível tentativa de obstrução da investigação da trama golpista.

O advogado cumpriu seu dever legal de defesa dos direitos do seu cliente, o coronel Câmara.

O ministro também determinou a abertura de um inquérito para investigar o advogado e seu cliente, que é um dos réus do Núcleo 2 da trama golpista. Os réus desse grupo são acusados de organizar ações para “sustentar a permanência ilegítima” de Bolsonaro no poder, em 2022.