Análise, os novos juros básicos

  Em decisão unânime, Copom elevou a taxa Selic de 3,5% para 4,25% ao ano, conforme esperado. No comunicado da decisão, o comitê seguiu apontando uma visão positiva para o cenário global, mas ressaltou que as preocupações dos mercados com a inflação podem tornar o ambiente desafiador para países emergentes. Em relação à atividade doméstica, o colegiado reconheceu a resiliência da economia brasileira frente à segunda onda de Covid-19, ao apontar que os indicadores continuam surpreendendo positivamente, implicando revisões relevantes nas projeções de crescimento e na diminuição significativa dos riscos para a recuperação econômica. Ao mesmo tempo, o Copom avalia que a persistência da pressão inflacionária vem se mostrando mais duradoura que o esperado, o que, somada à lentidão da normalização das condições de oferta, à resiliência da demanda e às implicações da deterioração do cenário hídrico sobre as tarifas de energia elétrica, tem contribuído para manter a inflação de curto prazo elevada, a despeito da recente apreciação cambial. Sob o modelo do BC, as projeções do IPCA subiram de 5,1% para 5,8% neste ano e de 3,4% para 3,5%, considerando a Selic de mercado, de 6,25% e de 6,50%, respectivamente, ao final de 2021 e 2022.


o BC mudou a indicação de um processo de normalização parcial, indicando normalização completa, inclusive deixando a porta aberta para um ajuste mais célere. A sinalização para a próxima reunião é de alta para 5,00% ao ano. Contudo, ao nosso ver, ao condicionar uma redução “mais tempestiva” dos estímulos monetários à eventual deterioração das expectativas de inflação, há chance de alta de 1,0 p.p. na próxima decisão. Por ora, entretanto, seguimos antevendo novo ajuste de 0,75 p.p. em agosto. Esse é um ritmo de ajuste compatível com a normalização de juros e que assegura uma travessia apropriada para o período de inflação alta e choques que vivemos, sem elevar excessivamente a volatilidade da política monetária. Nesse contexto, nossa expectativa de juros em 6,5% para 2022 pode ser antecipada para este ano quando publicarmos as novas projeções do cenário. 


o Fed reconheceu melhora do cenário de econômico, sem alterar a política acomodatícia, mas trouxe maior preocupação com a inflação. Na última reunião, o colegiado decidiu não realizar mudanças na política monetária, mantendo a taxa de juros básica e os programas de compras de ativos inalterados. Na avaliação do cenário, por sua vez, o FOMC ressaltou avanços na recuperação econômica do país, com o apoio do processo de vacinação e do estímulo fiscal e monetário. Além disso, a aceleração da inflação é classificada como temporária. As expectativas estão ancoradas, mas aumentará o incômodo, caso elas superem os patamares atuais. Dessa forma, apesar de reconhecer avanços no cenário de atividade e emprego, o FOMC manteve a avaliação de que a economia necessita de suporte monetário. Contudo, a informação mais importante foi a sinalização de que o início do aperto monetário pode estar ficando mais próximo, de acordo com o sugerido pela divulgação das projeções econômicas dos membros do FOMC. A maioria dos dirigentes passou a esperar uma alta de juros em 2023, antecipando o ciclo de aumento em relação à última divulgação, na qual era majoritária a visão do ciclo de alta se iniciando somente a partir de 2024. 


o Investidores reagem à antecipação da previsão do Fed para alta de juros nos EUA e os mercados operam no campo negativo nesta quinta-feira. Os índices futuros norte-americanos e as bolsas europeias registram perdas, ao passo que o dólar se fortalece ante as demais moedas. Com relação ao petróleo, os preços da commodity recuam, diante do dólar mais forte, revertendo parte dos ganhos da semana. Mais cedo, a leitura final do índice de preços ao consumidor da Área do Euro confirmou a alta anual de 2,0% em maio, acelerando em relação a abril, quando o índice tinha subido 1,6%, na mesma métrica. 

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