Artigo, especial - Política mineral como moeda de troca: O Brasil na nova agenda industrial dos EUA

Este artigo é do "Observatório para um Brasil Soberano".

Às vésperas da COP30, o governo brasileiro se apressa em apresentar uma política para minerais críticos – insumos para indústrias de alta tecnologia e para a transição energética global. A proposta prevê incentivos, emissão de debêntures e um discurso alinhado aos objetivos de transição energética e reindustrialização global. Mas o que parece ser uma resposta ambiental ou industrial, máscara outro movimento: um gesto político. E, muito provavelmente, um gesto encomendado. 

Assim como no recuo da tributação, há sinais claros de que a pressão veio de fora para dentro — não apenas de Washington, mas do próprio mercado financeiro nacional. Bancos e gestoras enxergam nos minerais uma oportunidade de transformar território em ativo, com incentivo fiscal e apelo estratégico. O Estado entra como homologador desse arranjo, entregando estrutura regulatória para empacotar a pauta como produto. 

No centro dessa movimentação está a tentativa de reposicionar o Brasil na cadeia de fornecimento dos EUA. A nova agenda industrial americana, reforçada por Trump, parte da premissa de reduzir a dependência de minerais estratégicos chineses. Lítio, grafite, nióbio e terras raras são agora elementos de segurança econômica, e não apenas de mercado. Nesse novo tabuleiro, o Brasil tenta se oferecer como um fornecedor confiável. A política mineral surge como moeda de troca. 

Mas o governo brasileiro insiste em um erro recorrente: diagnosticar mal a natureza da crise. A escalada tarifária não é um impasse comercial. Tampouco uma questão diplomática. Trata-se de um reflexo direto da instabilidade institucional que se instalou no Brasil. A carta enviada por Trump não mencionou taxas de importação, nem volume de exportações. Mencionou perseguição política, censura e quebra do devido processo legal. O problema não está no minério. Está na lógica de poder. 

Responder com um pacote técnico, por mais bem formulado que pareça, é insistir no desvio. O Planalto tenta apresentar política mineral como prova de alinhamento com os interesses americanos, mas ignora o que de fato está em jogo: a confiabilidade institucional do Brasil como parceiro. A credibilidade exigida pelos EUA não será construída com incentivos fiscais, mas com o desmonte do ambiente de exceção. 

Além disso, há uma questão de interlocução. Aparentemente, Washington não pretende negociar nada com Lula. O canal político está comprometido. E isso altera completamente o cálculo. A política de minerais críticos, nesse contexto, não é solução. É cortina.

Artigo, especial - Câmbio, tarifa e cegueira estratégica: O preço de fingir que está tudo sob controle

Este artigo é do "Observatório para um Brasil Soberano"

Quando um dos maiores bancos globais afirma que o câmbio “só deve disparar se houver escalada na guerra tarifária”, não está apenas fazendo uma projeção técnica — está revelando um vício de leitura que domina boa parte do mercado brasileiro: a crença de que ainda é possível tratar a crise atual como um desvio de rota e não como uma inflexão estrutural. 

A carta enviada por Donald Trump ao governo brasileiro, com exigências claras para revisão tarifária, não foi um gesto simbólico. Foi um ultimato. E a resposta do Planalto, marcada por silêncio, improviso e isolamento diplomático, não apenas piorou a situação como colocou o Brasil oficialmente na mira de retaliações. Mesmo assim, o mercado reage como se ainda fosse possível separar política de economia, como se a escalada institucional que estamos vivendo pudesse ser contida dentro de planilhas de risco e relatórios cambiais. 

O fato é que o câmbio não está em compasso de espera — está represado por uma narrativa que se recusa a reconhecer os fatos. A instabilidade não é futura. Ela já está em curso. A sinalização internacional é clara, a deterioração institucional é visível, e a resposta política é nula. Ainda assim, o sistema financeiro opera sob a lógica da negação, convencido de que tudo pode ser administrado até o último minuto. Como se o Brasil fosse imune à perda de confiança quando já há investidores precificando fuga de capital, empresas refazendo seus planos de exportação e diplomatas americanos tratando o país como um risco contábil.

 A análise que ignora o fator institucional é mais do que ingênua — é cúmplice. Porque ao fingir que se trata apenas de uma guerra comercial, o mercado ajuda a encobrir a verdadeira guerra em curso: a que corrói a credibilidade do país por dentro, por meio de decisões monocráticas, perseguições políticas e censura camuflada de moderação. 

A pergunta não é se o câmbio vai disparar, mas quando a narrativa de “normalidade” vai ruir. Porque uma hora ela fatalmente desaba. E quando isso acontecer, não vai adiantar dizer que foi surpresa. Os sinais estão todos aí: nas tarifas, na carta de Trump, na paralisia do governo e na cegueira conveniente de quem preferiu acreditar que daria para manter o jogo rodando enquanto o tabuleiro queimava

STF interroga os kids pretos

O Supremo Tribunal Federal (STF) realiza nesta segunda-feira o último interrogatório dos réus de suposta trama golpista ocorrida durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

A partir das 9h, um juiz auxiliar do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, vai interrogar os réus que pertencem ao Núcleo 3 da denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR).

Fazem parte do grupo 11 militares do Exército e um policial federal. Parte dos militares integrava o Batalhão de Forças Especiais do Exército, cujos soldados são conhecidos como kids pretos.

Confira os réus que serão interrogados nesta segunda:

Bernardo Romão Correa Netto (coronel);

Cleverson Ney Magalhães (tenente-coronel);

Estevam  Theophilo (general);

Fabrício Moreira de Bastos (coronel);

Hélio Ferreira (tenente-coronel);

Márcio Nunes De Resende Júnior (coronel);

Nilton Diniz Rodrigues (general);

Rafael Martins de Oliveira (tenente-coronel);

Rodrigo Bezerra de Azevedo (tenente-coronel);

Ronald Ferreira de Araújo Júnior (tenente-coronel);

Sérgio Ricardo Cavaliere de Medeiros (tenente-coronel);

Wladimir Matos Soares (policial federal).

Opinião do editor - O problema dos exportadores não é de crédito, mas de mercados

Lula e seus asseclas de dentro e fora da mídia, acham que será fácil abrir novos mercados para substituir o mercado americano, mas isto só é fácil para quem não entende nada do que acontece no mundo. Eles sabem que as questões principais, para o Brasil, são de ordem política interna e de geopolítica.

Em resumo: dentro de apenas 5 dias, a partir do dia 1o, os Estados Unidos cobrarão tarifas de 50% para produtos exportados pelo Brasil. No ano passado, o Brasil exportou US$ 40,3 bilhões para os EUA e importou US$ 40,6 bilhões. Os americanos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil. E não é só. Nos últimos 10 anos, as empresas americanas investiram R$ 358,7 bilhões no Brasil, um crescimento de 238,7%. São dados da CNI. Nenhum País tem mais dinheiro investido no Brasil do que os EUA.

Tarifas de 50% para produtos brasileiros tornarão inviáveis as exportações para os EUA. Ontem, neste blog, passei a informação de que a Taurus, maior fabricante de armas do Brasil e que exporta em massa para os americanos, vai frechar sua fábrica no País e se mudar para os EUA. 15 mil empregosdiretos e indiretos serão destruídos.

O RS, segundo dados da Fiergs, terá um prejuízo de US$ 2 bilhões no seu PIB deste ano.

E não será R$ 100 bilhões de crédito para exportadores, como este anunciado pelo BRDE, que resolverão os problemas de falta de mercado externo para os produtos e serviços oferecidos pelo Brasil.

 Em editorial publicado neste domingo (27), o jornal The Wall Street Journal defende a soltura de Filipe Martins, ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que está em prisão domiciliar em Ponta Grossa (PR). O texto cita erros em registros do Departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) dos Estados Unidos, em Orlando, na Flórida, citando o caso de Martins. "Um tribunal brasileiro vem usando registros falsos do CBP para deter o Sr. Martins como um risco de fuga desde março de 2024 na investigação de um suposto golpe de Estado de Bolsonaro contra o presidente brasileiro Luiz Inácio ‘Lula’ da Silva", afirma o jornal norte-americano. "O Sr. Martins deveria estar em liberdade enquanto prepara sua defesa." Ex-assessor de Assuntos Internacionais de Bolsonaro, Martins é apontado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) como um dos membros da comitiva do ex-presidente que viajou aos EUA após a derrota das eleições presidenciais de 2022. Filipe Martins sempre negou ter embarcado na comitiva do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que embarcou para os EUA em 30 de dezembro de 2022. A defesa de Martins já havia levantado a possibilidade fraude nos registros que a Polícia Federal afirma se referirem à entrada dele nos Estados Unidos. No início do mês, o embaixador André Chermont, ex-chefe do Cerimonial da Presidência, disse, em depoimento ao STF (Supremo Tribunal Federal), que Martins não teria embarcado no avião presidencial. “Eu creio que em um momento anterior ele [Filipe Martins] chegou a fazer parte na lista, mas depois ele não estava previsto”, disse. “Núcleo 2” da trama golpista Martins e outros acusados fazem parte do chamado "núcleo 2" da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República), por participação na suposta trama golpista de 2022. O ex-assessor é acusado de integrar o núcleo jurídico da operação, incluindo auxiliar com a criação de minutas para instituir Estado de Sítio e a aplicação de GLO (Garantia da Lei e da Ordem). Ele nega as acusações. Ele foi preso em fevereiro de 2024 durante a operação Tempus Veritatis e ficou detido durante seis meses no Paraná por supostamente ter deixado o Brasil. Depois, passou a cumprir prisão domiciliar. O texto do WSJ ainda cita os fatores políticos que o presidente dos EUA, Donald Trump, usou para impor tarifas de 50% sobre importações brasileiras. "Trump talvez começasse melhor em casa, com uma investigação transparente sobre como registros falsos sobre Martins foram publicados em um site do CBP, depois desapareceram e reapareceram. Isso teria o benefício adicional de inocentar Martins da acusação de fugir ilegalmente de seu país".